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Assassinatos afetam chances de trégua em Gaza, alertam Egito e Catar

Retrato de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, erguido por professores da Universidade de Teerã, durante protesto contra seu assassinato, atribuído a Israel, na capital iraniana, em 31 de julho de 2024 [Fatemeh Bahrami/Agência Anadolu]

Catar e Egito, mediadores nas negociações entre Israel e Hamas, junto ao governo dos Estados Unidos, indicaram nesta quarta-feira (31) que o assassinato de Ismail Haniyeh, líder político do movimento palestino, na cidade de Teerã, deve prejudicar os esforços para assegurar uma trégua na Faixa de Gaza.

As informações são da agência de notícias Reuters.

“Assassinatos políticos e a escalada contínua contra civis em Gaza, enquanto seguem as negociações, nos faz questionar sobre como nossa mediação pode ter sucesso quando um dos lados mata o negociador do outro?”, alertou no Twitter (X) o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani.

“A paz regional e internacional demanda parceiros sérios e uma posição global contra a escalada e o desprezo à vida humana”, acrescentou.

Al-Thani, também ministro de Relações Exteriores, conversou por telefone com Antony Blinken, secretário de Estados Unidos, para debater a situação do processo diplomático após o atentado.

O Ministério de Relações Exteriores do Egito observou em nota que o incidente reflete “uma perigosa escalada israelense”, em particular, nos últimos dois dias, ao prejudicar os esforços dos mediadores para encerrar a guerra.

“A coincidência entre essa escalada regional e a falta de progresso nas negociações por cessar-fogo em Gaza agrava a complexidade da situação e indica a ausência de vontade política em Israel para mitigar a crise”, reiterou a chancelaria no Cairo.

LEIA: Quem foi Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas assassinado em Teerã

“De fato, prejudica os árduos esforços do Egito e seus parceiros em cessar a guerra em Gaza e dar fim ao sofrimento humano do povo palestino”, concluiu a nota.

Catar, Egito e Estados Unidos são as partes mediadores na busca por um cessar-fogo e uma troca de prisioneiros entre Israel e Hamas. O grupo palestino expressou disposição em avançar nas conversas, contudo, sem anuência israelense.

Rodadas de negociações em Roma, no domingo (28), foram infrutíferas.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, insistiu na continuidade da guerra, durante telefonema com seu homólogo americano, Lloyd Austin, nesta quarta.

“Durante a conversa, o ministro destacou que, sobretudo agora, o Estado de Israel tem de trabalhar para alcançar um cenário de libertação dos reféns”, alegou um assessor da pasta em Tel Aviv.

Na semana passada, em discurso ao Capitólio, sede do Congresso americano, o premiê israelense Benjamin Netanyahu reforçou apelos por recursos adicionais para prosseguir com suas violações militares em Gaza e no Oriente Médio.

Gallant e Netanyahu têm um mandado de prisão requerido por Karim Khan, promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, a ser ponderado por um painel pré-julgamento.

Haniyeh e outros dois líderes do Hamas foram incluídos na solicitação.

LEIA: EUA negam envolvimento no assassinato de Haniyeh em Teerã

Haniyeh, residente no Catar, estava em Teerã para a posse do novo presidente Masoud Pezeshkian. A Guarda Revolucionária do Irã confirmou a morte e indicou investigações. Israel não comentou o caso até então.

O atentado em Teerã aumenta temores sobre a deflagração de um conflito regional, no contexto do genocídio em Gaza, desde outubro de 2023.

Ao menos 39.445 palestinos foram mortos por Israel em Gaza, além de 91 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Dentre as fatalidades, 15 mil são crianças.

Israel e Hezbollah, grupo libanês ligado ao Irã, trocam disparos transfronteiriços desde então, incluindo um ataque aéreo israelense diretamente a Beirute poucas horas antes do atentado contra a Haniyeh.

O exército israelense mantém ainda bombardeios em diversos fronts, incluindo Síria e Iêmen, onde enfrenta um embargo no Mar Vermelho imposto pelo movimento houthi — também ligado ao Irã — que administra o país.

O Estado colonial justifica suas ações como “autodefesa” por uma operação do Hamas que atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados.

Segundo o exército ocupante, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. O índice, porém, sofre escrutínio, após o jornal israelense Haaretz corroborar “fogo amigo”, sob ordens gravadas de comandantes de Israel para impedir a tomada de reféns.

Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro. As ações israelenses em Gaza e em toda a região equivalem a punição coletiva e crimes de guerra.

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