O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, reforçou seu apelo nesta quarta-feira (31) para que “todas as partes e a comunidade internacional” ajam por uma desescalada regional, após ataques de Israel a Beirute e Teerã, realizados em questão de horas.
Nesta madrugada, na capital iraniana, um atentado atribuído a Israel resultou na morte de Ismail Haniyeh, líder político do movimento Hamas.
Em nota, Stepháne Dujarric, porta-voz de Guterres, descreveu ambos os ataques como “uma perigosa escalada”, ao destacar a urgência de esforços por um cessar-fogo, troca de prisioneiros, fluxo humanitário contínuo e restauração da calma na fronteira israelo-libanesa.
“Em vez disso, vemos esforços que prejudicam esses objetivos”, queixou-se Guterres.
“O secretário-geral insta todos a trabalharem vigorosamente pela desescalada regional, conforme o interesse de uma paz a longo prazo e estabilidade a todos”, acrescentou o comunicado. “A comunidade internacional deve trabalhar em uníssono para prevenir com urgência quaisquer ações capazes de levar o Oriente Médio à margem do abismo, com impacto devastador sobre os civis. A única forma de fazê-lo é avançar com ações abrangentes de diplomacia em nome da desescalada regional”.
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Tor Wennesland, emissário especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, somou-se às manifestações de preocupação.
“Profundamente preocupado com os recentes acontecimentos no Oriente Médio, que podem levar a implicações pervasivas”, afirmou Wennesland na rede social X (Twitter). “Peço moderação e que se evitem ações que desestabilizem ainda mais a região”.
Na noite de terça-feira (30), Israel atacou a periferia sul de Beirute, ao alegar ter como alvo um comandante do movimento Hezbollah, ligado a Teerã. Horas depois, o Hamas, junto a fontes iranianas, confirmou o atentado contra Haniyeh.
Israel, no entanto, não comentou o caso até então.
Egito e Catar, mediadores nas negociações por cessar-fogo, alertaram que o assassinato de Haniyeh deve impactar negativamente o processo político.
O atentado em Teerã aumenta temores sobre a propagação do conflito, no contexto do genocídio em Gaza, desde outubro, deixando ao menos 39 mil mortos e 90 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.
Israel e Hezbollah trocam disparos transfronteiriços desde então.
O exército israelense mantém ainda bombardeios em diversos fronts, incluindo Síria e Iêmen, onde enfrenta um embargo no Mar Vermelho imposto pelo movimento houthi — também ligado ao Irã — que administra o país.
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O Estado colonial justifica suas ações como “autodefesa” por uma operação do Hamas que atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados.
Segundo o exército ocupante, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. O índice, porém, sofre escrutínio, após o jornal israelense Haaretz corroborar “fogo amigo”, sob ordens gravadas de comandantes de Israel para impedir a tomada de reféns.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro. As ações israelenses em Gaza e em toda a região equivalem a punição coletiva e crimes de guerra.