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Capacetes Brancos: Salvar uma vida é salvar a humanidade

Membros do grupo de voluntários sírios conhecidos como Capacetes Brancos realizam esforços de resgate nas ruínas da aldeia de Azmarin, na província de Idlib, no noroeste da Síria, em 7 de fevereiro de 2023 [Omar Haj Kadour/AFP via Getty Images]

Ao enfim dar ao mundo uma oportunidade de ver os rostos heroicos, porém bastante humanos, da Revolução Síria contra o regime despótico de Bashar al-Assad, The White Helmets (Os Capacetes Brancos), documentário da rede de streaming Netflix, consegue o que muitos repórteres e eruditos não conseguiram — isto é, humanizar aqueles mais afetados pela brutalidade da guerra civil. A obra acompanha a organização epônima de voluntários sírios enquanto luta contra todas as chances para demonstrar o verdadeiro significado de solidariedade ao mundo.

Dirigido por Orlando von Einsiedel, documentarista até então indicado ao Oscar — pelo filme Virunga, que segue a luta por preservação ambiental no Congo —, Os Capacetes Brancos captura de maneira vívida a brutalidade e falta de sentido da guerra na Síria. O filme, de 41 minutos de duração, de fato venceu o Oscar por Melhor Documentário de Curta-metragem em 2017, consagrando o diretor.

Os Capacetes Brancas se passa sobretudo em Aleppo, uma das cidades historicamente mais importantes da Síria. A narrativa acompanha três cidadãos — um construtor, um ferreiro e um alfaiate —, que põem sua vida em risco pelo lema universal, que passou a encabeçar os cartazes da obra: “Salvar uma vida é salvar toda a humanidade”. Àqueles familiares com o Islã, sabe-se que este mote, incorporado pelo grupo de voluntários, é baseado em um verso do Alcorão. No caso da Síria, onde a comunidade internacional e a humanidade coo um todo fracassou de maneira catastrófica com a população, quem sabe, poderíamos argumentar que o trabalho e puro sacrifício desses voluntários civis demonstra que a humanidade ainda tem algo a oferecer.

Devido a apreensões de segurança, von Einsiedel não conseguiu visitar pessoalmente a Síria para gravar seu filme, mas sim entrevistou e observou, junto a sua equipe diversos voluntários que recebiam treinamento de primeiros-socorros na Turquia, por conta da falta de recursos em sua terra natal.

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Todavia, a ausência da equipe da filmagem não se mostra, de modo algum, um prejuízo ao documentário, ao se beneficiar de registros da vida real que logram um comovente senso de realismo. As imagens de dentro da Síria foram gravadas de fato pelos próprios Capacetes Brancos, concedendo ao público uma perspectiva em primeira mão de como é atirar a cautela pela janela e correr para um campo minado com o objetivo de salvar vidas.

Como resultado, os registros, por vezes, são assombrosos. Crianças resgatadas de casas bombardeadas, cobertas de poeira e escombros, nos lembrando de Omran Daqneesh, de apenas cinco anos de idade, sentado coberto de sangue, confuso e assustado, atrás de uma ambulância após ser salvo de um ataque aéreo por voluntários dos Capacetes Brancos. Em uma ocasião, um bebê de uma semana de vida é resgatado dos escombros de um edifício, como uma recordação dolorosa de que Assad e seus apoiadores russos não conhecem limites ao conduzir suas ações indiscriminadas.

Com apoio do Netflix, no entanto, o documentário desfruta de um padrão de produção digital característico de Hollywood. De fato, ao julgar pela edição das imagens, alguém poderia até pensar que a obra foi realizada por Paul Greengrass, conhecido por dirigir a franquia de ação Bourne. As imagens são viscerais e dinâmicas, ao refletir os perigos de palpitar o coração que os Capacetes Brancos vivem no dia a dia.

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Embora alguns críticos possam reprovar a hollywoodização do documentário, podemos argumentar que este elemento é, na verdade, um de seus pontos fortes. O público tem em mente, a todo instante, que o que assiste é real e, ao tornar esse filme acessível, o diretor e sua equipe conseguem levá-lo a milhões de pessoas em todo o mundo, dando aos Capacetes Brancos uma plataforma para o reconhecimento que tanto merecem.

O grupo de voluntários, de fato, chegou a ser nomeado para o Nobel da Paz e venceu o Prêmio Right Livelihood, concedido pelo parlamento sueco, uma espécie de alternativa ao tradicional Nobel, por sua “coragem, compaixão e engajamento extraordinários em resgatar civis”. Portanto, pouco surpreende que o ditador sírio, Bashar al-Assad, tenha admoestado as indicações dos Capacetes Brancos em âmbito internacional. Segundo o presidente, ainda no poder: “O que eles conquistaram na Síria? Eu só daria um prêmio para quem trabalhasse pela paz em nosso país”. Claramente, Assad poria somente a si mesmo neste páreo.

Como observa, de forma admirável, um dos personagens de Os Capacetes Brancos, ao explicar a razão pela qual escolheu salvar vidas em seu país, no decorrer de uma guerra tão traumática: “Melhor resgatar uma alma do que tomá-la”.

Pois bem, Bashar, o senhor não tomou apenas uma alma, mas centenas de milhares. E, quem sabe, deve ser essa a lição deste filme.

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