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Palestinos realizam greve geral e tomam as ruas contra assassinato de Haniyeh

Protesto em Ramallah para condenar o assassinato do chefe político do Hamas, Ismail Haniyeh [Issam Rimawi/Agêcia Anadolu]

Movimentos nacionais palestinos anunciaram uma greve geral nesta quarta-feira (31) e convocaram “manifestações de indignação” diante do assassinato do líder do gabinete político do grupo Hamas, Ismail Haniyeh, durante a madrugada em Teerã, onde estava hospedado para a posse do presidente Masoud Pezeshkian.

Em nota, a coalizão de grupos nacionais na Cisjordânia ocupada condenou o atentado, ao descrevê-lo como “terrorismo conduzido pelo Estado sionista”, como parte de sua “guerra de devastação e extermínio em curso”.

“As facções nacionais e islâmicas na Palestina anunciam uma greve geral e marchas de indignação em protesto ao assassinato do líder nacional Ismail Haniyeh, conduzido no contexto do terrorismo [de Israel] e sua guerra de extermínio”.

O comunicado advertiu ainda para o “fracasso da comunidade internacional em parar a guerra e responsabilizar o ocupante por seus crimes”.

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Palestinos saíram às ruas nos territórios ocupados em memória de Haniyeh, em meio a ações populares ressaltadas pela nota.

A greve permanece em curso em cidades de toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, ao afetar os colonatos ilegais de Israel que dependem de mão-de-obra palestina, além das repartições públicas da Autoridade Palestina.

“Este assassinato covarde não quebrará a força de vontade de nosso povo em resistir e sobreviver, mas sim aumentará nossa determinação e resiliência em continuar lutando por nossos direitos e princípios por liberdade e independência”, acrescentou a nota.

Haniyeh também foi velado nos autofalantes de diversas mesquitas, notou um repórter da agência Anadolu.

“Acordamos nesta manhã com uma tragédia para nosso povo”, comentou Fawzi Nassar, residente de Hebron. “Mas não é primeiro que mataram, como o sheikh Ahmed Yassin [fundador do Hamas] e outros, e isso nunca diminuiu nossa resiliência”.

Yassin foi assassinado ao deixar uma mesquita por um helicóptero militar israelense em 2004. O líder político e religioso dependia de uma cadeira de rodas.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, cujo partido Fatah é opositor político do Hamas, condenou o assassinato como “ato covarde e hediondo”.

Mustafa Barghouti, presidente da Iniciativa Nacional Palestina, reiterou: “Este crime de Israel em assassinar Ismael Haniyeh … não vencerá a resistência ou a determinação do povo palestino em conquistar sua liberdade. Certamente, agravará a crise e é isso que Netanyahu [premiê israelense] quer”.

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Barghouti ressaltou denúncias de que Netanyahu prorroga a guerra em causa própria, de modo que “acabar com a guerra é acabar com sua carreira política”.

A imprensa iraniana confirmou a morte, junto a uma investigação em curso. O governo israelense não comentou o caso até então.

Mobilização popular

As notícias do assassinato levaram, no entanto, a uma mobilização renovada na região, em particular, nos territórios palestinos ocupados, em meio a temores da propagação regional do conflito, no contexto do genocídio em Gaza, que já dura dez meses.

Na Cisjordânia, bandeiras palestinas foram hasteadas a meio mastro como luto ao líder do Hamas. Lojas e negócios permaneceram fechados e funcionários públicos deixaram os ministérios em Ramallah, ao aderir à greve.

Neste entremeio, centenas marcharam em protesto em Ramallah. A multidão entoou chamados à resistência, raros na cidade-sede da Autoridade Palestina, incluindo gritos de “O povo quer as Brigadas al-Qassam!”

Em dezembro, uma pesquisa confirmou a popularidade de Haniyeh, ao mostrar que o líder do Hamas venceria Abbas por ampla margem, com 78% dos votos contra 16%, em caso de eleições à presidência palestina.

Manifestações de luto ressoaram em Gaza, devastada pela agressão israelense, com ao menos 39 mil mortos e 90 mil feridos.

Segundo Saleh al-Shannar, residente deslocado do norte de Gaza. “Haniyeh poderia ter assinado uma troca de prisioneiros com Israel … Por que é o que o mataram? Mataram a paz e não ele”.

Nascido em janeiro de 1962, no campo de refugiados de al-Shati, em Gaza, Haniyeh foi eleito chefe do gabinete político do Hamas em 2017.

Em 2006, foi nomeado primeiro-ministro da Palestina após o Hamas vencer as eleições nacionais. Contudo, foi deposto pelo presidente Mahmoud Abbas em meio a disputas políticas fomentadas pela rejeição do pleito por Tel Aviv e Washington.

Haniyeh passou três anos nas cadeias de Israel durante a Primeira Intifada, dentre 1989 e 1992, quando foi exilado a uma terra erma entre Líbano e Israel.

Haniyeh deixou Gaza em 2017, para comandar a representação do Hamas na diáspora, ao viver na Turquia e no Catar desde então. Palestinos o viam como um líder moderado e inclinado a negociações, inclusive no contexto do genocídio em Gaza.

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