O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu nesta quarta-feira (31), a pedido do Irã, após um atentado atribuído a Israel resultar na morte de Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político do grupo palestino Hamas, em Teerã, somando-se a uma escalada recente incluindo ataques israelense ao Líbano e Iêmen.
Haniyeh estava na capital iraniana para a posse do presidente Masoud Pezeshkian. Sua morte ocorreu um dia após um bombardeio a Beirute, no qual Israel alegou matar uma liderança do grupo Hezbollah.
Durante a sessão, países-membros pediram por maiores esforços diplomáticos a fim de impedir uma guerra aberta no Oriente Médio, após quase dez meses de genocídio em Gaza, mediante bombardeios indiscriminados de Israel.
Ao abrir a sessão, a subsecretária-geral das Nações Unidas, Rosemary DiCarlo, reiterou: “Os vários ataques nos últimos dias representam uma grave e perigosa escalada”. Para DiCarlo, é crucial recorrer à diplomacia para “mudar a trajetória e buscar um caminho rumo a paz e estabilidade regional”.
DiCarlo observou que o secretário-geral, António Guterres, pediu “máxima moderação de todos”. Porém, advertiu que “somente moderação não é suficiente, neste momento extremamente sensível”.
A comunicação por mísseis, drones armados e ataques letais precisa acabar … Precisamos de ações diplomáticas rápidas e efetivas para desescalada regional. Este Conselho tem papel crucial neste sentido. A hora é agora.
Shino Mitsuko, vice-embaixador do Japão na ONU, ressoou o alarde e pediu ações para evitar a escalada: “Tememos que a região esteja à margem de uma guerra aberta”.
China, Rússia, Argélia e outras missões condenaram o assassinato de Haniyeh, descrito pela representação iraniana como “ato de terrorismo”.
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Estados Unidos, Reino Unido e França mantiveram-se ao lado de Israel, ao acusar o Irã de agentes que supostamente desestabilizam a região.
Fu Cong, embaixador da China na ONU, culpabilizou o fracasso em alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza pela piora da situação. “Países com grande influência têm de pôr mais pressão e trabalhar com mais vigor [para] apagar as chamas da guerra que tomam Gaza”, declarou o diplomata.
Barbara Woodward, embaixadora britânica, pediu calma e comedimento e repetiu seus apelos por um cessar-fogo em Gaza. Para Woodward, Israel e Hamas precisam renovar o compromisso com um processo de paz, rumo à “solução de dois Estados”.
“O caminho para a paz é por meio de negociações diplomáticas”, ressaltou Woodward. “A paz a longo prazo não será assegurada com balas e bombas”.
“We demand accountability for Israel’s assassination of Ismail Haniyeh, as we have continually demanded accountability for the wanton murder and injury of over 130,000 Palestinian children, women and men across these past 300 days of horror and hell in Gaza and call for… pic.twitter.com/Jvig7VYH3J
— State of Palestine (@Palestine_UN) July 31, 2024
Robert Wood, vice-embaixador dos Estados Unidos, pediu a membros do Conselho de Segurança com influência em Teerã que “aumentem a pressão para cessar sua escalada em um conflito por procuração contra Israel e outros agentes”.
Wood, entretanto, reiterou que seu país não teve envolvimento nas ações em Beirute e Teerã desta semana.
O embaixador iraniano Amir Saeid Iravani respondeu ao enfatizar que seu país exerceu máximo comedimento ao longo da crise em curso, mas guarda o direito de responder decisivamente dada a violação a sua soberania e integridade territorial.
Iravani denunciou o “covarde assassinato por Israel” de Haniyeh, ao descrevê-lo como “mais uma manifestação de um padrão de décadas de terrorismo e sabotagem contra os palestinos e apoiadores da causa palestina na região e além”.
Segundo o diplomata, o objetivo de Israel não se resumiu a fins militares, mas também a lesar o primeiro dia do novo governo no Irã, descrito como moderado.
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Conforme o embaixador argelino, Amar Bendjama, o assassinato de Haniyeh “não é um ataque apenas a um único homem [mas sim] às fundações da diplomacia, da soberania dos Estados e dos princípios que sustentam a ordem global”.
Bendjama reforçou apelos por responsabilização aos “crimes de guerra hediondos” e as “flagrantes violações de direitos humanos” por parte de Israel.
Jonathan Miller, vice-embaixador israelense, usou seu tempo para devolver acusações ao Irã, ao pedir condenação ao “terrorismo regional” e maiores sanções contra o país. Miller repetiu o mantra de “autodefesa”, ao ameaçar “reagir com enorme força contra aqueles que nos ferem”.
Feda Abdelhady Nasser, vice-embaixadora do Estado da Palestina nas Nações Unidas, em condição de observador permanente, reiterou que “há décadas, Israel é o opressor, algoz e assassino do povo palestino e agente desestabilizante na região”.
“Reivindicamos justiça pelo assassinato de Ismail Haniyeh, como exigimos justiça pelos assassinatos e ataques arbitrários de 130 mil crianças, mulheres e homens no decorrer dos últimos 300 dias de horror e inferno que assolam Gaza”, acrescentou.
Esta é uma guerra que ameaça a paz e segurança internacional. Contudo, Israel recebe anuência para travar essa guerra em plena luz do dia, sem restrições ou consequências … Todo dia traz mais e mais horror, perda e sofrimento ao nosso povo, à medida que as forças ocupantes de Israel assassinam crianças, mulheres e homens.
Abdelhady destacou ainda a violação contra a soberania e integridade territorial, pelas ações israelenses, de países como Irã, Líbano, Síria e Iêmen.
“Pedimos mais uma vez, com máxima urgência, ao Conselho de Segurança, Assembleia Geral e a todas as nações que amam a paz e respeitam a lei que ajam de imediato para dar fim às criminosas agressões de Israel contra os palestinos e nossa região”, concluiu Abdelhady.
Em Gaza, os ataques indiscriminados de Israel, com apoio de Estados Unidos e outros, deixaram ao menos 39 mil mortos e 90 mil feridos desde outubro.
O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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