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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Hamas sobreviverá à morte de seu líder, como muitas vezes antes

Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, realiza discurso durante um evento do 11º aniversário do assassinato do fundador do Hamas Ahmed Yassin, na Cidade de Gaza, em 22 de março de 2015 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

O assassinato do principal líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, na madrugada desta quarta-feira (31), pode ser, quem sabe, a injeção de ânimo que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, buscava tão desesperadamente para seu genocídio de dez meses contra os palestinos de Gaza.

Ou é assim que ele pensa.

Para os membros do Hamas, e muitos dos palestinos que pensam parecido, o martírio não representa uma perda. Na doutrina islâmica, o martírio é um dos dois resultados bem-sucedidos da luta por verdade e justiça — a outra é a vitória.

Quando nasceu o Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, do útero da Irmandade Muçulmana da Palestina, em dezembro de 1987, Haniyeh era não mais que um jovem quadro, que havia acabado de concluir os 25 anos de idade.

Ainda assim, como muitos de seus camaradas palestinos, parecia já ter nascido como um líder. Desde seu nascimento, em 23 de dezembro de 1962, de uma família expulsa de suas terras ancestrais na Palestina histórica, perto da cidade de Ashkelon, durante a Nakba de 1948, Haniyeh cresceu e viveu no campo de refugiados de al-Shati, no norte da Faixa de Gaza.

Sua educação primária e secundária se deu em escolas das Nações Unidas. Obteve seu diploma de ensino médio no Instituto Al-Azhar — e então se matriculou à Universidade Islâmica de Gaza para estudar literatura árabe. Foi nesta época que Haniyeh se filiou à Irmandade Muçulmana.

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Logo após se formar, no verão de 1987, deflagrou-se a Primeira Intifada que engendrou o movimento Hamas. Em seguida, Haniyeh foi detido pelas forças ocupantes por breves períodos em diversas ocasiões entre 1987 e 1988.

Um ano depois, foi preso novamente e recebeu uma sentença de três anos. Após ser libertado, voltou a ser detido por Israel em 1992 e deportado com mais de 400 ativistas e líderes do Hamas ao sul do Líbano.

Uma figura conciliatória

Desde jovem, Haniyeh se mostrou um grande orador, uma característica fundamental à liderança conforme a tradição e cultura árabe-islâmica. Haniyeh era conhecido por seu amor à poesia. Conquistou fama após a soltura do sheikh Ahmad Yassin, cofundador do Hamas, quando foi nomeado seu chefe de gabinete e assistente pessoal, pouco após a tentativa de assassinato frustrada contra Khaled Meshaal, líder político do movimento, em 1997, na Jordânia.

Os pares de Haniyeh concordariam em descrevê-lo como uma figura conciliatória. Nos círculos do Hamas, Haniyeh era visto não como um indivíduo controverso ou belicoso, mas como um representante moderado e voltado ao diálogo, com tendências a buscar denominadores comuns.

Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, atende a um jantar do mês islâmico do Ramadã marcado para o 70º aniversário da Nakba e contra a transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv a Jerusalém, na Cidade de Gaza, em 18 de maio de 2018 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]

Foi assim que rapidamente ascendeu ao topo do movimento, quando assassinatos em série realizados por Israel eliminaram toda uma geração de fundadores e líderes, entre os quais: Imad Aqil em 24 de novembro 1993; Yahya Ayyash em 5 de janeiro de 1996; Jamal Salim e Jamal Mansur em 31 de julho de 2001; Mahmud Abu Hannud em 23 de novembro de 2001; Salah Shehadah em 22 de julho de 2002; Ibrahim Maqadma em 8 de março de 2003; Isma’il Abu Shanab em 21 de agosto de 2003; Ahmad Yassin em 21 de março de 2004; Abd Al-Aziz al-Rantisi em 17 de abril de 2004; e, mais recentemente, Saleh al-Arouri em 2 de janeiro de 2024.

Quando os israelenses tentaram assassinar o sheikh Yassin pela primeira vez, em 6 de setembro de 2003, Haniyeh estava com ele e ambos saíram com ferimentos leves. No entanto, seis meses depois, Yassin foi morto após deixar uma mesquita onde realizava suas preces da manhã.

Ideais nunca morrem

Em janeiro de 2006, o Hamas participou — e venceu por ampla margem — das eleições legislativas da Palestina. Haniyeh era o líder do bloco, que constituía 76 das 133 vagas no Parlamento. Logo, recebeu instruções do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, para formar um governo em Gaza e na Cisjordânia.

No ano seguinte, as tensões entre os partidos Hamas e Fatah, este liderado por Abbas, eclodiram uma guerra, causando uma cisão na qual o primeiro ficou com a gestão em Gaza, enquanto o segundo ficou com a Cisjordânia.

Em 6 de maio de 2017, Haniyeh foi eleito pelo do Conselho de Shura do Hamas como o líder do Gabinete Político do movimento, ao substituir Meshaal, que detinha a posição desde 1995.

Em 31 de janeiro de 2018, o Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou sua inclusão na lista de “terroristas”.

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Nas primeiras horas de quarta-feira, o Irã anunciou que Haniyeh, que estava na capital em caráter oficial para a posse do presidente Masoud Pezeshkian, fora assassinado. O Hamas acusou Israel de conduzir o atentado.

É altamente improvável que a saída de cena de Haniyeh afete negativamente o Hamas, um movimento que se construiu sobre instituições sólidas, chefiado por oficiais eleitos. Como supracitado, o Hamas já vivenciou o assassinato de incontáveis líderes, contudo, continuou a crescer tanto em força quanto popularidade. O Hamas é um movimento baseado em um ideal e um ideal que não pode ser morto, não importa como.

No entanto, fica a pergunta: Como os iranianos conseguiram sofrer tamanha infiltração e qual será a resposta a essa grave violação de sua segurança e soberania?

Questões sobre a sucessão

O assassinato de Ismail Haniyeh inevitavelmente levanta questões sobre o destino das negociações por cessar-fogo em Israel junto a Israel.

É altamente improvável que o Hamas decida fechar o canal existente, em particular, ao considerarmos que é precisamente isso que Netanyahu esperava alcançar. A liderança do Hamas, tanto em Gaza quanto na diáspora, percebe que o establishment em Israel está mais dividida do que nunca no contexto da guerra em Gaza.

Netanyahu claramente não quer ver acabar a guerra até que o Hamas não esteja mais entre qualquer coalizão de governo nos territórios ocupados. Netanyahu tampouco se importa, e jamais se importou, com seus reféns. O Hamas, portanto, deve continuar a apostar nas fissuras da liderança sionista ao longo da crise.

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Antes de seu assassinato, Haniyeh tinha dois vices na liderança político do movimento: Mousa Abu Marzouq e Khalil al-Hayya. Espera-se, a médio prazo, que um dos dois seja incumbido da responsabilidade sobre o Gabinete Político.

O movimento previa uma nova rodada de eleições neste ano se não fosse pela guerra. Caso um acordo de cessar-fogo seja alcançado no futuro próximo, organizar as eleições parece factível.

Os candidatos podem não se limitar a figuras históricas, mas Meshaal permanece entre aqueles com mais carisma e potencial de angariar unanimidade em um momento tão crítico para o movimento.

Publicado originalmente em inglês na rede Middle East Eye, em 31 de julho de 2024.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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