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Por que Israel matou Ismail Haniyeh e quais podem ser as repercussões?

O presidente recém-eleito do Irã, Masoud Pezeshkian (à direita), encontra-se com o chefe do escritório político do grupo palestino Hamas, Ismail Haniyeh (à esquerda), em Teerã, Irã, em 30 de julho de 2024 [Iranian Presidency/Handout - Agência Anadolu]

O assassinato de Ismail Haniyeh em Teerã atraiu grande atenção internacional, destacando as complexidades da dinâmica de segurança interna e regional do Irã. O assassinato ressalta uma possível deterioração na situação de segurança interna do Irã e sinaliza uma mudança no equilíbrio de poder regional. As manobras de Israel, incluindo o assassinato de figuras importantes da resistência, como o comandante sênior do Hezbollah, Fuad Shukr, na terça-feira, e Haniyeh, durante a noite, refletem seus objetivos mais amplos no Oriente Médio, especialmente em seu conflito de longa data com o Irã e seus aliados.

O ataque de mísseis de dissuasão do Irã contra Israel em 14 de abril marcou uma escalada significativa nas tensões regionais. Esse evento foi visto como uma demonstração das crescentes capacidades militares do Irã e de sua disposição de se impor contra as ações israelenses. Entretanto, os atos recentes de Israel, principalmente os assassinatos de figuras importantes do Hezbollah e do Hamas, indicam um esforço conjunto para recalibrar a segurança regional.

O assassinato de Haniyeh, que estava em Teerã para a posse do novo presidente reformista do Irã, Masoud Pezeshkian, é particularmente significativo. Ele não apenas representa um golpe para o Movimento de Resistência Islâmica Palestina, mas também serve como um movimento estratégico de Israel para interromper possíveis negociações e engajamentos diplomáticos. A liderança israelense, especialmente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa Yoav Gallant, parece ter vários objetivos com esse assassinato de alto nível.

Ao alvejar Haniyeh, Israel pretende inviabilizar qualquer negociação construtiva para pôr fim ao conflito em curso em Gaza.

É provável que o governo israelense esteja tentando ganhar tempo, esperando uma mudança no cenário político dos EUA que possa favorecer suas políticas de forma mais robusta. A possível reeleição do ex-presidente Donald Trump, conhecido por seu forte apoio aos interesses israelenses, é vista como uma possível virada de jogo para o Estado de ocupação.

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Além disso, o assassinato busca impedir qualquer progresso no sentido de normalizar as relações entre o Irã e as potências ocidentais sobre questões nucleares e regionais. O Irã não pode simplesmente ignorar esse belicismo israelense, portanto, ao eliminar uma figura-chave como Haniyeh enquanto ele estava em Teerã, o governo israelense espera minar quaisquer esforços diplomáticos que possam levar a uma diminuição das tensões e a uma possível reaproximação entre o Irã e o Ocidente.

As ações de Israel também parecem destinadas a provocar um conflito regional mais amplo, com o objetivo de atrair os Estados Unidos para defender os interesses israelenses. O governo de Netanyahu tem enfrentado desafios significativos para atingir seus objetivos em Gaza e no norte de Israel, e uma guerra regional poderia ser vista como um meio de galvanizar mais apoio ocidental e intervenção militar.

O assassinato de Haniyeh, sem dúvida, colocou o Irã em uma posição desafiadora. A resposta de Teerã deve equilibrar a manutenção de suas capacidades de dissuasão e, ao mesmo tempo, evitar uma guerra regional total, que poderia ter consequências devastadoras para todo o Oriente Médio. A liderança do Irã, portanto, enfrenta a complexa tarefa de formular uma resposta ponderada, porém firme, ao assassinato político do líder do Hamas por Israel.

Ao responder, o Irã e seus aliados dentro do “eixo de resistência” devem navegar por um caminho delicado.

A estratégia de Teerã deve se concentrar em mostrar sua resiliência e capacidade de retaliar a agressão sem entrar em uma guerra em grande escala. Isso poderia envolver uma combinação de esforços diplomáticos, fortalecimento de alianças regionais e respostas seletivas de segurança militar para deter o terrorismo de Estado israelense.

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O Irã e seus aliados agora se veem obrigados a responder ao assassinato de Haniyeh atacando autoridades políticas e militares israelenses. Essa abordagem sinalizaria uma mudança em direção a uma postura mais direta e retaliatória, mas poderia potencialmente aumentar os riscos de uma nova escalada. Espelhando-se nas táticas de Israel, o Irã teria como objetivo demonstrar sua determinação e capacidade de infligir danos recíprocos, mantendo assim sua posição na dinâmica do poder regional.

O clima geopolítico atual no Oriente Médio é altamente volátil, com vários atores buscando interesses divergentes. O assassinato de Ismail Haniyeh é um lembrete claro da natureza intrincada e muitas vezes perigosa da política regional. Para o Irã, manter a estabilidade interna e fortalecer sua posição regional será crucial nos próximos meses.

Israel concentrou todos os seus esforços para reduzir o nível de racionalidade no Irã e qualquer tipo de ativismo voltado para a interação na região e no mundo. As abordagens não construtivas da Europa e dos Estados Unidos e a passividade das potências orientais, bem como a ineficiência das instituições internacionais, são outra motivação para que o Irã finalmente escolha a dissuasão nuclear como opção estratégica, até porque uma pesquisa recente indicou o apoio do público iraniano à posse de armas nucleares pela República Islâmica.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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