A embaixada da Turquia na cidade de Tel Aviv baixou sua bandeira a meio mastro nesta sexta-feira (2), como expressão de luto pela morte do chefe político do grupo palestino Hamas, Ismail Haniyeh, atraindo a ira de oficiais israelenses.
O Ministério de Relações Exteriores de Israel respondeu ao convocar o vice-embaixador turco para uma reprimenda, reportou a agência de notícias Reuters.
“Israel não tolerará expressões de luto por um assassino como Haniyeh [sic]”, disse em nota o ministro de Relações Exteriores, Israel Katz.
“Se os representantes da embaixada querem chorar sua morte, que vão para a Turquia e lamentem junto com seu mestre Erdogan, que abraça a organização terrorista Hamas [sic] e apoia seus atos assassinos [sic]”, insistiu o ministro.
O deputado Avigdor Liberman, do partido Yisrael Beiteinu, descreveu o ato como “uma enorme desgraça”, ao alegar ser “inaceitável que um país que, desde o início da guerra, assumiu o lado de terroristas [sic] tenha uma embaixada no coração de Tel Aviv”.
O parlamentar fundamentalista Yitzhak Goldknopf acusou Erdogan de “transformar seu país em parte integral do eixo do mal [sic]”.
LEIA: A morte do chefe do Hamas no Irã alimenta temores de retaliação e de uma guerra mais ampla
Também no Twitter, o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, conhecido por declarações racistas, somou-se aos apelos pela retirada da missão: “Os representantes da embaixada nos farão um favor em baixar a bandeira e voltarem para a casa”.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, declarou um dia de luto por Haniyeh.
Oncu Keceli, porta-voz da chancelaria em Ancara, respondeu a Tel Aviv na plataforma X (Twitter), ao advertir: “Vocês não podem conquistar a paz ao matar os negociadores ou ameaçar diplomatas”.
Israel e Turquia, que pareciam esboçar uma aproximação política, voltaram a se afastar no contexto do genocídio em Gaza.
Em maio, a Turquia, quarto maior parceiro comercial de Israel em 2023, cortou todas as relações comerciais com o Estado ocupante, impondo um golpe à economia israelense. Desde então, Erdogan posterga promessas de ruptura de relações diplomáticas.
Haniyeh foi assassinado por um ataque atribuído a Israel na quarta-feira (31), na cidade de Teerã, capital do Irã, poucas horas após comparecer à posse do presidente Masoud Pezeshkieh, junto de representantes de Estado e de governo de todo o mundo.
O corpo de Haniyeh foi transferido a Doha, no Catar, para ser sepultado nesta sexta, em evento na Mesquita Imam Muhammad ibn Abdul al-Wahhab que contou com milhares de pessoas, incluindo emissários da Autoridade Palestina e o emir catari, sheikh Tamim bin Hamad al-Thani.
Em Istambul, milhares se reuniram na Mesquita de Hagia Sophia para prestar tributo e oferecer orações a Haniyeh. Erdogan havia confirmado sua presença, mas cancelou de última hora.
Procissões e preces foram também realizadas em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, além de cidades no Líbano, Jordânia, Paquistão e outros.
Na quinta-feira (1º) o Supremo Líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, comandou as preces em um funeral a Haniyeh em Teerã, antes do caixão viajar a Doha. Khamenei e outras autoridades iranianas prometeram retaliação.
LEIA: Quem foi Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas assassinado em Teerã
Um comitê especial reunindo autoridades de inteligência, agências policiais e a Guarda Revolucionária foi formado para investigar o assassinato.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em 26 de janeiro. As ações de Israel em Gaza, com mais de 39 mil mortos e 90 mil feridos, são crime de guerra e punição coletiva.