O assassinato de Ismail Hanyeh aos olhos da mídia brasileira

Na madrugada de quarta-feira 31 de julho para a manhã de 01 de agosto, o líder político do Hamas, Ismail Hanyeh, foi assassinado em Teerã. A operação de terrorismo, ainda sem uma versão definitiva, teria sido parecida com o padrão do assassinato de Mohsen Fakrizadeh, em novembro de 2020. Na ocasião, o proeminente físico nuclear foi eliminado por disparos de uma metralhadora ponto 50 acionada via satélite. Conforme divulgado, o reconhecido militante do Movimento de Resistência Islâmica Palestina foi alvo de um disparo de foguete terra-terra, acionado possivelmente de maneira remota, a uma distância de cerca de 15 kms de seu local físico. Mas não há consenso sobre isso. Segundo o New York Times, o assassinato do líder do Hamas teria sido através de um dispositivo eletrônico, implantado a alguns meses e acionado remotamente. Não uma versão definitiva por parte do aparelho de segurança da República Islâmica do Irã.

O mundo paralisado com a campanha de terror sionista contando obviamente com o apoio (e aval) dos Estados Unidos, entrou na pauta, na agenda de grandes meios de comunicação do ocidente. O mesmo se deu com a mídia brasileira, cujos veículos hegemônicos e empresariais, quase sempre se posicionam como alinhados ao ocidente. O fazem abrindo mão de forma total e parcial de maneira subserviente, “naturalizando” a posição do sionismo como “válida e legítima” e classificando de “terroristas” os movimentos e organizações político-militares do Eixo da Resistência (Palestina, Líbano, Iêmen e Iraque). No caso específico deste ato de terrorismo contra a liderança do Hamas e seu corpo de seguranças, vejamos como se comportaram os veículos que espelham a versão do Departamento de Estado dos EUA, ao fim e ao cabo, os financiadores do Apartheid Colonial na Palestina Ocupada.

Segundo o Jornal Nacional, telejornal líder da Rede Globo, houve a “morte” e não o assassinato de Hanyeh:

“Além do impacto imediato nas negociações de um cessar-fogo em Gaza, a morte de Ismail Haniyeh alimentou o temor de uma escalada bélica de consequências imprevisíveis. O poder bélico do Hamas tem a digital do governo iraniano, que treina e financia o grupo terrorista. Nesta quarta-feira (31 de julho), o líder supremo, Ali Khamenei, declarou que é dever do Irã vingar a morte do chefe do Hamas e que Israel abriu caminhos para o que chamou de “punição severa”. O governo israelense não se manifestou sobre a morte de Haniyeh. O novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que o ataque em Teerã vai ter resposta.”

Na sequência o telejornal líder da família Marinho (Organizações Globo) apresenta como fontes acadêmicas atuando em Londres (Inglaterra) e terminam a matéria dizendo que “Os Estados Unidos, que vêm trabalhando pelo fim da guerra em Gaza, afirmaram que não sabiam e não têm envolvimento na morte de Haniyeh e voltaram a afirmar que a escalada da violência pode ser evitada. O secretário de Estado, Anthony Blinken, disse que o acordo seria a chave para evitar um aumento do conflito na região e que os dois lados vão se beneficiar com o fim da guerra.”.

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A Globo e seus controladores operam – de fato – como um porta-voz oficioso do Partido Democrata estadunidense e reproduz na versão cínica gringa de forma quase integral.

a revista Veja, através de sua coluna Mundialista, assinada pela racista Vilma Gryzinski, parece estar mais próxima dos dossiês falsos elaborados pelo Mossad. A publicação semanal controlada pelo advogado Fábio Carvalho (CEO de grupos empresariais e com vinculos no mercado financeiro dos EUA e da Inglaterra) é um aparelho de propaganda sionista. O grau de mentiras e calúnias contra Hanyeh parece ter saído de um roteiro mal feito de série de TV. Segundo a mesma “colunista” que disse que “grupos de homens jovens e negros são responsáveis por roubos a lojas de marcas famosas” o alvo do atentado terrorista teria esta conduta. A “analista”  a soldo do controlador da Cavalry Investimentos, chafurda ainda mais nas calúnias:

“Ismail Haniyeh provavelmente se considerava seguro. Desfrutava da hospitalidade generosa em países como o Catar e a Turquia, tinha uma casa em Teerã e uma fortuna calculada em quatro bilhões de dólares. Como a “face internacional” do Hamas, teoricamente mais moderado do que o radical Yahya Sinwar, enfiado nos túneis de Gaza, podia ser o líder considerado terrorista mas que interessava a Israel preservar para negociações, como tantas que havia feito no passado. Estava, letalmente, errado.

Hanyeh era de Gaza e, ironicamente, foi professor de uma escola da UNRWA, a organização da ONU que Israel agora quer fazer crer que seja inteiramente aparelhada pelo Hamas cujas escolas ensinam o ódio aos judeus e a glorificação ao terrorismo. Começou na militância através do xeque Ahmed Yassin, o líder religioso que configurou a versão islamista radical do nacionalismo palestino que redundou no Hamas. Yassin também teve um encontro fatal com um míssil israelense, em 2004.”

Na sequência, Vilma, a suposta “colunista”  insinua que há uma divergência entre o mártir acima citado em rivalidade com “o radical Yahya Sinwar, enfiado nos túneis de Gaza”. Depois afirma que Hanyeh estaria vivo caso seguisse sua “vida de luxos no Catar” e em outras capitais asiáticas.

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Surpreendentemente a CNN Brasil (franquia da matriz noticiosa sob controle no Brasil de Rubens Menin, dono da construtora MRV e do Banco Inter):

“O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi assassinado enquanto visitava a capital do Irã, Teerã, poucas horas depois que o principal comandante militar do Hezbollah, Fu’ad Shukr, foi morto por um ataque israelense em Beirute, lançando a região em uma nova rodada de turbulência. Embora Israel tenha reivindicado o ataque a Shukr, não o fez pelo ataque ao Irã, com os militares dizendo que ‘não respondem a relatos na mídia estrangeira’. Ainda não se sabe muito sobre esse ataque, incluindo como aconteceu e como aconteceu em solo iraniano.”

O portal UOL, embora classifique o Hamas como “extremista”, começa sua nota observando a posição do Itamaraty, condenando o ato terrorista. Vejamos:

“O Ministério das Relações Exteriores publicou uma nota na quarta (31 de julho) condenando ‘veementemente’ o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, nesta madrugada. O governo Lula condenou “flagrante desrespeito à soberania e à integridade territorial do Irã”. O Itamaraty considerou o ataque de Israel como uma ‘violação aos princípios da Carta das Nações Unidas’. Ato dificulta paz em Gaza, afirma ministério. Para o MRE, os atos dificultam a Ato dificulta paz em Gaza, afirma ministério. Para o MRE, os atos dificultam a ‘solução política’ para o conflito em Gaza, impactando negativamente as conversas por um cessar-fogo. Ao fim da nota, o Brasil pede para que o mesmo seja implementado na região quanto antes.”

Em um texto equilibrado do correspondente do Grupo Bandeirantes (família Saad) nos EUA, o repórter Eduardo Barão aponta:

“O Irã acusou Israel de matar com um míssil de precisão o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh. Ele estava na capital iraniana para participar da posse do novo presidente do país e, após o ataque, o Irã prometeu vingança contra Israel. O líder supremo do país, o Aiatolá Ali Khamenei, chamou o ataque de criminoso e terrorista, prometendo uma resposta dura. Sem confirmar ou negar o ataque, Israel afirmou que o país não busca a guerra, mas que está preparado para todos os cenários. Já Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, disse que o país deu golpes esmagadores em aliados do Irã, mas não citou a morte do chefe do Hamas. O governo dos Estados Unidos negou envolvimento no ataque, garantindo que o país não sabia da ação.”

Podemos observar que há uma lógica inversa. Todos estes grupos de mídia se alinham com a política monetária que beneficia instituições financeiras ocidentais no Brasil. Na relação com o governo Lula 3, há uma proximidade em temas de comportamento e cultura (caso Globo) e mais críticas do que adesão nos demais. Já no que diz respeito ao genocídio palestino e a invasão europeia na Palestina, a mídia brasileira vai do mais grotesco (Veja), ao plenamente adjetivado (Globo) até uma posição mais equilibrada (Band). Parece que há uma preocupação de demonstrar uma “superioridade moral” na narrativa mais adesista aos criminoso de Tel Aviv e Washington. Neste caso, se trata de péssimo jornalismo e uma compreensão de mundo tão imperialista quanto um navio de guerra estadunidense assustado em navegar no Mar Vermelho diante da marinha iemenita solidária com a luta palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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