O regime militar no Sudão negou neste domingo (4) a existência da fome no campo de deslocados internos de Zamzam, em Darfur do Norte, apesar de evidências compiladas por redes de monitoramento internacionais de grave escassez de alimentos a crianças desnutridas in loco, segundo informações da agência de notícias Reuters.
Na quinta-feira (1º), especialistas confirmaram que os critérios para identificar crise de fome em Zamzam, incluindo desnutrição aguda e mortalidade, foram cumpridos e que a situação deve perdurar ao menos até outubro.
Oficiais de Organização das Nações Unidas (ONU) disseram que a classificação de fome pode motivar uma nova resolução do Conselho de Segurança para que agências levem comida através da fronteira, à medida que o regime militar nega a assistência crítica ao caracterizá-la como “intervenção internacional”.
Os 15 meses de guerra entre as Forças Armadas sudaneses e o grupo paramilitar Forças de Suporte Rápido (FSR) deslocaram milhões e levaram metade da população — ou 25 milhões de pessoas — a depender de ajuda humanitária para sobreviver.
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A ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) chegou a mensurar que uma criança morre a cada duas horas no campo de Zamzam, que abriga meio milhão de pessoas.
Neste domingo, em postagem na rede social X, reiterou a organização: “Nossas equipes têm insumos terapêuticos, necessários para tratar as crianças desnutridas no campo de Zamzam, no Sudão, por apenas mais duas semanas”.
A Comissão Humanitária Federal, órgão do governo, rejeitou os relatos, contudo, como “imprecisos”, ao alegar que as condições aplicadas como parâmetro para declarar uma epidemia de fome “não são consistentes”.
O governo culpou as Forças de Suporte Rápido por impor um bloqueio contra a cidade de al-Fashir, capital do estado de Darfur do Norte.
A coalizão paramilitar declarou na sexta-feira (2) “solidariedade” às vítimas da fome e repetiu uma proposta para trabalhar com a ONU em nome do fluxo assistencial.
Ambos os lados, aliados no golpe militar de 2021, que descarrilou a transição do Sudão à democracia, disputam o poder desde abril de 2023, após o exército tentar integrar as forças paramilitares a seu contingente regular.
Ambos os lados são acusados de violações ao longo da guerra.