O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, sugeriu nesta segunda-feira (5), em declaração ao jornal hebraico Israel Hayom, que deixar morrer de fome os dois milhões de palestinos de Gaza seria “justificado e moral”.
Smotrich voltou a defender a obstrução da assistência humanitária a Gaza, mas admitiu que Israel carece, no momento, de legitimidade internacional para fazê-lo.
“Levamos ajuda porque não temos escolha”, insistiu o ministro supremacista, conforme o jornal Times of Israel. “Não podemos, no atual contexto global, administrar a guerra. Ninguém vai nos matar de fome dois milhões de civis, embora possa ser algo justificado e moral [sic] até que os reféns retornem”.
Para o Conselho de Relações Islâmico-Americanos (CAIR), os comentários de Smotrich ressaltam intento genocida.
“Se a gestão [dos Estados Unidos de Joe] Biden se sente incapaz de agir para parar com o genocídio, a fome imposta, a limpeza étnica e a destruição massiva de infraestrutura civil, deveria ao menos ser capaz de condenar as declarações genocidas que os oficiais israelenses repetem desde o último ano”, comentou a entidade no Twitter (X).
Once again, we hear a top Israeli govt official saying the quiet part out loud. If the Biden admin can't bring themselves to take action to stop the genocide, forced starvation, ethnic cleansing &mass destruction of civilian infrastructure, they should at least be able to condemn… https://t.co/0wNr3BmgZg
— CAIR National (@CAIRNational) August 5, 2024
Israel mantém há quase dez meses bombardeios indiscriminados a Gaza, deixando 40 mil mortos, 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Desde então, Gaza continua sob cerco absoluto — sem comida, água, eletricidade ou medicamentos,
Em junho, peritos independentes das Nações Unidas denunciaram o exército israelense por usar a fome como arma de guerra. Dezenas de pessoas morreram neste entremeio devido a desnutrição grave, sobretudo crianças.
Segundo a Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC), quase toda a população de Gaza enfrenta nível alto de insegurança alimentar aguda, incluindo meio milhão de pessoas sob risco imediato de morrer de fome.
Smotrich é um dos vários ministros e deputados israelenses que adotaram medidas de punição coletiva e declarações desumanizantes contra os palestinos, em particular, nos últimos dez meses.
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Ao promover seu cerco, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os dois milhões de palestinos de Gaza como “animais humanos”. Ao anunciar sua invasão por terra, em outubro, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegou a proclamar uma “guerra santa” contra as “crianças das trevas”.
Outros ministros defenderam transformar o território em um “abatedouro” ou “apagar Gaza da face da terra”.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro. A acusação sul-africana reitera que tais declarações provam dolo genocida por parte do Estado ocupante.
As declarações, no entanto, não se restringem a Gaza. Em março de 2023, ainda antes de se deflagrar a crise em Gaza, Smotrich defendeu “varrer da terra” a aldeia palestina de Huwwara, perto de Nablus, na Cisjordânia ocupada.