Waleed Siam, embaixador da Palestina no Japão, ressaltou paralelos nesta terça-feira, 6 de agosto, entre os “horrores indizíveis” do bombardeio atômico contra Hiroshima, em 1945, e o genocídio israelense em curso na Faixa de Gaza.
Seus comentários foram feitos durante a Cerimônia Alternativa de Paz no Japão, após o governo local deixar de convidá-lo aos eventos memoriais do 79º aniversário do ataque nuclear executado pelos Estados Unidos, no fim da Segunda Guerra Mundial.
Três dias depois, Washington lançou outra bomba nuclear contra a cidade de Nagasaki, resultando na morte de 140 mil pessoas até o fim daquele ano.
Vídeos e fotos de atos pró-Palestina em todo o Japão foram compartilhados online, em meio a apelos renovados por cessar-fogo no enclave palestino.
As informações são da agência Anadolu.
O governo de Hiroshima recebeu nesta terça-feira (6) enviados internacionais para sua vigília anual, entre os quais o embaixador israelense no Japão, Gilad Cohen. O convite, no entanto, foi denunciado pela assimetria de ações em relação à ausência de Rússia e Bielorrússia devido à invasão na Ucrânia.
Siam não foi convidado, mas falou em conferência online, somando-se a manifestações pró-Palestina que tomaram as ruas de Hiroshima e outras cidades do país.
“Como um palestino que enfrenta as realidades brutais de Gaza, me apresento a vocês com indignação e uma reivindicação implacável por liberdade e libertação”, enfatizou o diplomata radicado em Tóquio.
O Japão não reconhece o Estado palestino, ao seguir diretrizes do chamado Grupo dos Sete (G7), contudo, sedia uma missão geral do país em sua capital.
“Nossa existência é maculada pela força sufocante da opressão israelense e as agonias que enfrentamos são resultado direto de décadas de subjugação”, reafirmou. “O povo palestino, no entanto, não deixará a Palestina”.
Somos resilientes, esta é nossa terra e nenhum poder no mundo poderá nos expulsar. Resistiremos até o fim a essa odienta ocupação militar.
Ao notar os “horrores indizíveis” vivenciados pelos hibakusha, como são chamados os sobreviventes dos bombardeios nucleares, comentou Siam: “Nós também carregamos as cicatrizes de uma campanha implacável para nos apagar”.
Siam manifestou ainda “profunda decepção e frustração de que a cidade de Hiroshima, símbolo da paz, tenha sido sequestrada por agentes opressores e seus apoiadores, ao, no entanto, excluir as vítimas”.
O convite àqueles que perpetuam nossa dor, a ausência de nossas vozes comprometem os próprios princípios de justiça sobre os quais Hiroshima se sustenta.
O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, rejeitou os apelos para revogar seu convite a oficiais israelenses — porém vivenciou protestos.
O prefeito de Nagasaki, Shiro Suzuki, em contrapartida, rescindiu o convite a Israel para os eventos de 9 de agosto, segundo informações da rede Kyodo News.
Siam agradeceu a Suzuki e reiterou: “Pedimos ao município de Hiroshima que assuma uma postura honesta junto aos povos oprimidos e honre seu compromisso com a paz, ao reconhecer e incluir suas perspectivas e sancionar o opressor”.
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O diplomata ressaltou que reivindicar o fim da ocupação israelense — designada como ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, na última semana — “não é um apelo por caridade ou simpatia, mas sim um chamado à justiça, para que o mundo respeite os princípios que tanto prega, mas raramente pratica”.
Israel é também réu por genocídio no tribunal de Haia, em processo à parte referente a Gaza, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
É hora de aplicar o estado de direito e a lei internacional, em particular, no que se refere ao Estado fora-da-lei de Israel.
Ativistas pró-Palestina também ergueram cartazes e bandeiras em Tóquio, com apelos por boicote a produtos israelenses que auxiliam ou lucram com as violações cometidas por Israel nos territórios ocupados.
Em frente à embaixada israelense em Tóquio, manifestantes simularam os mortos de Gaza, ao se deitarem nas calçadas.
Segundo estimativas, Israel lançou o equivalente a seis bombas nucleares contra Gaza desde outubro, comparado aos quilotons de Hiroshima e Nagasaki.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.