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Ong israelense documenta tortura e ‘crimes de guerra’ nas prisões

Protesto em solidariedade aos prisioneiros políticos palestinos nas cadeias de Israel, na cidade de Hebron, Cisjordânia, em 3 de agosto de 2024 [Mamoun Wazwaz/Agência Anadolu]

Mais de uma dezena de instalações carcerárias de Israel foram transformadas em uma rede de campos “concentrados em destratar os detidos”, desde a eclosão do genocídio em Gaza, em outubro, reportou um novo relatório da ong israelense B’Tselem.

O dossiê, intitulado “Bem-vindo ao Inferno”, inclui testemunhos de 55 palestinos, entre os quais 21 da Faixa de Gaza, que sofreram tortura, violência arbitrária e mesmo abuso sexual nas cadeias da ocupação.

“Tais espaços, em que cada detento é condenado deliberadamente a sofrimento e dor implacáveis, operam de fato como campos de tortura”, destacou o grupo.

As violações incluem “atos frequentes de violência severa e arbitrária; agressão sexual; humilhação; fome deliberada; condições não-higiênicas; privação do sono; proibição e punição ao culto religioso; apreensão de pertences pessoais; e negação de tratamento médico adequado”.

Conforme o relatório, desde 7 de outubro, ao menos 60 palestinos detidos morreram em custódia israelense — 48 deles capturados em Gaza.

O dossiê destaca testemunhos de prisioneiros que corroboram “uma política sistêmica, institucional de tortura e abuso contínuos, impostos sobre todos os palestinos presos”. As ações são conduzidas, denunciou a ong, sob ordens de Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional de Israel, com apoio do premiê Benjamin Netanyahu.

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A B’Tselem reiterou que os abusos equivalem a “crime de guerra”.

Entre os relatos compilados está Sari Huriyyah, de 53 anos:

Havia uma janela na cela, pela qual escutávamos outros presos gritando e chorando enquanto os guardas os espancavam. Os guardas berravam ordens como se fôssemos cachorros. Ouvimos alguns prisioneiros serem forçados a latir como um cachorro sob espancamento. E é claro que os guardas riam.

Segundo o relatório: “Dada a severidade dos atos, a extensão das violações das normas da lei internacional e o fato de que essas violações são direcionadas sobre a população carcerária palestina como um todo, diária e regularmente — a única conclusão possível é que, ao conduzir tais atos, Israel adota tortura equivalente a crime de guerra e crime de lesa-humanidade”.

A B’Tselem instou o Tribunal Penal Internacional (TPI), radicado em Haia, a investigar os “indivíduos suspeitos de planejar, orientar e perpetrar tais crimes”, ao advertir que um inquérito interno não é possível pois “todas as instituições de Estado, incluindo o poder judiciário, estão mobilizadas em apoiar os campos de tortura”.

LEIA: Relatório da ONU aponta detenções arbitrárias e tortura de palestinos em Israel

O centro destacou ainda que o número de palestinos encarcerados por Israel chegou a dobrar desde a deflagração do genocídio em Gaza, com ao menos 9.623 prisioneiros — estimativa que exclui, no entanto, muitos dos palestinos capturados em Gaza.

“Pedimos a todas as nações, assim como órgãos e instituições internacionais que façam tudo em seu poder para dar fim imediatamente às crueldades impostas aos palestinos pelo sistema carcerário de Israel e reconheçam o regime de apartheid”, concluiu a ong israelense.

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