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Ataques de Israel a Gaza criam catástrofe ambiental, alertam especialistas

Palestinos buscam pertences entre os destroços de suas casas, destruídas por ataques de Israel, em Deir al-Balah, Gaza, em 7 de agosto de 2024 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

A campanha israelense em Gaza criou uma catástrofe ambiental que ameaça a saúde a longo e curto prazo dos residentes palestinos, alertaram especialistas por meio de um relatório da organização PAX for Peace, radicada na Holanda.

A agressão em curso deixou 40 mil mortos e 90 mil feridos até então, além de deslocar 85% da população de Gaza, levando residentes a abrigos temporários entre o esgoto a céu aberto e pilhas de destroços.

O documento intitulado “War and Garbage in Gaza” (“Guerra e lixo em Gaza”) pinta um retrato funesto da gestão de esgoto e saneamento no território sitiado.

A Faixa de Gaza desfrutava de ao menos 225 centros de coleta de lixo; as operações de Israel, no entanto, destruíram infraestrutura, danificaram veículos e impediram acesso aos aterros.

O resultado é o acúmulo de centenas de 330 mil toneladas de detritos sólidos nas ruas, campos e terrenos — volume suficiente para encher 150 campos de futebol, conforme estimativas da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).

LEIA: Gaza precisará de 15 anos para limpar 40 milhões de toneladas de escombros de guerra, diz UNRWA

Segundo o dossiê, a crise ambiental é uma “ameaça silenciosa” imposta aos palestinos. O estudo mencionou problemas como aumento das temperaturas, colapso do sistema de saúde, insegurança alimentar e falta de cuidados médicos como fatores agravantes, com impacto severo à população civil.

Embora os efeitos sobre a infraestrutura de saúde de Gaza tenham sido amplamente televisionados, câmeras falham em capturar a situação em curso do lado de fora dos últimos hospitais remanescentes do território. Sem qualquer mecanismo de descarte adequado, produtos médicos são despejados a céu aberto. Sem o devido tratamento, tais resíduos podem liberar substâncias químicas e mesmo radioativas no solo ou nos lençóis freáticos, levando a doenças.

Conforme o alerta, a contaminação do solo e da água pode entrar na cadeia alimentar, via insumos agrícolas, com impacto em potencial a ecossistemas e comunidades para além das fronteiras de Gaza.

Gaza produz cerca de duas toneladas diárias de detritos, gerenciados hoje por algumas centenas de carroças puxadas a burra e uma frota de 76 veículos. Cada veículo atende ao menos 21 mil pessoas, segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Com o volume de lixo que se acumula devido às ações israelenses, sobretudo o cerco, proteger os habitantes de Gaza de epidemias e reabilitar o meio-ambiente são tarefas árduas e de longo prazo, destacou o relatório.

“Israel busca tornar Gaza inabitável”

A crise, porém, vai além dos resíduos sólidos. Seyfi Kilic, da Universidade de Mugla Sitki Kocman, na Turquia, explicou à rede Anadolu que a violência israelense é indissociável dos problemas ambientais que assolam Gaza.

Kilic denunciou o que descreveu como uma política duradoura de Israel para tornar os territórios palestinos inabitáveis, ao sugerir uso intensivo de armamentos para realizar modificações ambientais em violação da lei internacional.

Gaza sempre enfrentou desafios tremendos com o suprimento de água e tratamento de resíduos sólidos e líquidos devido ao embargo israelense, falta de autoridade institucional e outras razões. Todavia, o agravamento da ocupação tornou a questão ainda mais intratável. E é este o objetivo primário do Estado de Israel.

Os danos ambientais terão consequências que atravessarão gerações, comentou Kilic, ao advertir para surtos eventuais de malária, cólera, febre tifoide e outras doenças.

FOTOS: Crianças palestinas expostas a doenças devido a condição insalubre dos campos de refugiados 

Segundo seu alerta, a crise se soma às violações israelenses contra as terras produtivas não apenas em Gaza como na Cisjordânia ocupada. “Israel busca transformar ambos os territórios em áreas impróprias para a agricultura”, reiterou.

Esforços para lidar com a gestão de resíduos existiam em Gaza antes da deflagração do genocídio, em outubro, mas as restrições israelenses já implicavam que boa parte dos resíduos fossem despejados, sem tratamento, no solo ou no mar.

Agora, com cerca de dois milhões de pessoas sucessivamente deslocadas, vivendo em tendas improvisadas, Kilic crê que organizar qualquer gestão de dejetos é basicamente impossível.

“O mais importante agora é sobreviver — é ter acesso à comida”, notou o pesquisador, ao recordar a fome generalizada que assola a população civil, sobretudo crianças.

“Mas isso tudo é resultado de políticas cujo intuito é genocídio”, concluiu Kilic. “Temos de ver tudo isso como consequência das políticas genocidas de Israel”.

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