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Hoje, levaram meu filho: Curta ressalta o sofrimento das crianças palestinas

Filme da roteirista palestina Farah Nabulsi retrata o sofrimento das crianças palestinas sob a ocupação de Israel

A história de partir o coração da perda de uma mãe é contada de forma nua e crua em Today They Took My Son — ou, em tradução livre, Hoje, levaram meu filho. Este curta-metragem, da roteirista Farah Nabulsi, foi lançado online como parte da programação do Dia Internacional de Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 2017. A obra reflete as dores e o sofrimento dos palestinos que vivem sob ocupação na Cisjordânia, ao levá-los à casa de seus espectadores.

A história começa com Khalid — “o herói” — andando de bicicleta pelas ruas estreitas de uma cidade sem nome, a voz de seu pai narrando sua aventura de algum espaço ao fundo. Remanescente à linguagem utilizada por muitos vídeos caseiros, qualquer senso de familiaridade logo é aniquilado quando o filme corta a um registro documental da demolição de uma casa, de homens em uniformes militares cercando um personagem desconhecido, da agonia de um senhor idoso, com barba, sentado entre os escombros.

A justaposição das imagens “caseiras”, de bolos de aniversário e partidas de futebol, e cenas cruas e perturbadoras da prisão de Khalid são temas prevalentes no decorrer do filme. Quando sua mãe assume a narrativa, com seus olhos negros e assombrados, ela questiona como “aqueles que tomaram todo o resto” foram capazes de também tomar até mesmo seu filho. “O corpo se recusa a ouvir o que sempre temeu”, reafirma a mãe, ao correr em vão pelas ruas até o local onde Khalid foi apreendido.

Ainda assim, tais cenas são, ao mesmo tempo, bastante reconhecíveis. De fato, Today They Took My Son narra uma situação que se tornou a realidade cotidiana de todos os palestinos que vivem na Cisjordânia — como ressalta o próprio filme. “Uma criança é detida, interrogada, perseguida e/ou encarcerada a cada 12 horas”, recorda um dossiê do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 2013. Diversos especialistas e entidades confirmam os números, entre os quais a ong israelense de direitos humanos B’Tselem.

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As palavras da mãe de Khalid — “Sei que a terra continuará a girar ao redor da minha dor, indiferente de tudo aquilo que mudou meu mundo” — refletem precisamente o coração do problema, de que tais relatos de sofrimento costumam ser ignorados pela comunidade internacional. Para Farah Nabulsi, ela própria uma palestina na diáspora, radicada em Londres, Today They Took My Son é um veículo para possibilitar a muitos outros que vejam e sintam o que vivencia os palestinos nos territórios ocupados todos os dias.

Nabulsi explica que, muito embora “sempre tenha pensado compreender as injustiças sofridas por seu povo”, foi apenas quando visitou os territórios ocupados e presenciou o tratamento imposto às crianças que ela começou a perguntar “E se fosse meu filho?”. Como mãe de cinco, Nabulsi relatou ao Instituto para Compreensão do Oriente Médio, em entrevista de maio de 2017, que “não há nada mais doloroso nesta vida do que não poder ajudar um filho”.

Essas são pessoas cujas terras foram tomadas, cujas casas foram tomadas, cuja dignidade foi tomada, cuja liberdade foi tomada. Mas tinham também que tomar as crianças? O que vemos é um processo sistemático de destruir toda uma sociedade ao atacar suas crianças.

Ao seguir a crença de que “as artes exercem um papel crucial em mudar o mundo”, ao documentar o sofrimento dos palestinos por meio de um entretenimento acessível, a roteirista espera levar consciência e empatia a um público amplo. Ao “dar voz àqueles silenciados”, por meio do que Edward Said certa vez descreveu como “permissão para narrar”, Nabulsi busca “reumanizar” a situação e fornecer uma contranarrativa àquela posta por poderosos lobistas e agentes internacionais, que buscam negar a tragédia do povo palestino.

Today They Took My Son desafia qualquer espectador, independentemente da situação familiar, local de origem e filiação política, a ver o coração partido de uma mãe e não se comover. As linhas finais — “Quando ele vai voltar? Ele vai conseguir retornar? E o que devemos contar do mundo para ele se ele voltar? — se viram a nós, cada um de nós, para que ponderemos sobre nosso silêncio.

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