O economista Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006, tomou posse como chefe do governo provisório do Bangladesh, três dias depois de a primeira-ministra Sheikh Hasina renunciar sob protestos e fugir para a Índia.
Yunus, 84 anos, prestou juramento durante uma cerimônia no palácio presidencial de Dakha, na noite de quinta-feira (8), que contou com a presença de políticos, líderes da sociedade civil, generais e diplomatas.
“Defenderei, apoiarei e protegerei a Constituição”, proclamou Yunus, empossado pelo presidente Mohammed Shahabuddin.
Seu gabinete interino é formado por “conselheiros”, em vez de ministros, empossados junto de Yunus. Seu governo inclui lideranças estudantis, que comandaram as semanas de protestos que culminaram na queda de Hasina.
Yunus e seus conselheiros assumiram a missão de restituir a paz e preparar eleições.
Nenhum representante do partido de Hasina, a chamada Liga Awami, esteve presente na cerimônia.
Hasina renunciou na segunda-feira (5), após os protestos nacionais que começaram em julho, contra um sistema de cotas para o funcionalismo público que, segundo críticos, favorecia indivíduos com ligações ao seu partido.
As manifestações, todavia, escalaram, com a morte de ao menos 300 pessoas.
LEIA: Parlamento de Bangladesh é dissolvido, estudantes rejeitam regime militar
Yunus, que recebeu o Nobel por seu programa de microcrédito e combate à pobreza, estava em Paris para as Olimpíadas quando líderes políticos sugeriram seu nome como chefe de governo.
Ao chegar no aeroporto de Dakha, nesta quinta-feira, Yunus disse à imprensa que sua prioridade é restaurar a ordem. “Bangladesh é uma família. Temos de a unir”, declarou Yunus, ladeado por líderes discentes.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, apresentou os seus “melhores desejos” a Yunus, ao insistir que Nova Delhi mantém-se “empenhada” em trabalhar com a nação vizinha “para concretizar as aspirações comuns dos nossos povos em matérias de paz, segurança e desenvolvimento”.
Os Estados Unidos saudaram o novo governo em Bangladesh, ao alegar expectativa de trabalhar em conjunto para “avançar a democracia”.
“Damos as boas-vindas aos apelos do dr. Yunus para que se dê fim à recente violência e estamos prontos para trabalhar com o governo interino, enquanto este traça um futuro democrático para o povo bengali”, insistiu Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado americano.
Conforme Miller, a embaixadora em Dakha, Helen LaFave, assistiu à cerimônia de posse e tem mantido contato com o governo interino.
Washington manteve forte cooperação com Hasina nos seus 15 anos no poder.
Na quarta-feira (7), um tribunal em Dakha absolveu Yunus de um processo trabalhista, envolvendo sua antiga companhia de telecomunicações. Yunus fora sentenciado a seis anos de prisão, mas respondia em liberdade sob fiança.
LEIA: Sob boicote, propaganda da Coca-Cola em Bangladesh tenta negar laços com Israel
Yunus era um opositor de longa data de Hasina. A ex-premiê costumava se referir a ele como “sanguessuga”, ao acusá-lo de explorar os mais pobres.
Para a Anistia Internacional, no entanto, as acusações de Hasina e o subsequente caso trabalhista eram “flagrante perseguição política”.