Multidões de colonos extremistas invadiram a Mesquita de Al-Aqsa, na cidade ocupada de Jerusalém Oriental nesta terça-feira (13), junto de ministros e forças militares, além de diversas aldeias na Cisjordânia, ao justificar suas ações por um feriado judaico.
As informações são da rede de notícias Al Jazeera.
Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional de Israel, conhecido por declarações racistas e inflamatórias, encabeçou os milhares de colonos que invadiram Al-Aqsa, sob escolta policial, para realizar preces em tom de provocação.
Em um vídeo filmado no santuário islâmico, Ben-Gvir prometeu “derrotar o Hamas” em Gaza, em alusão à campanha israelense no enclave sitiado, cujas vítimas são, em ampla maioria civis, totalizando 40 mil mortos e 90 mil feridos.
O ataque ocorreu no Tisha B’Av, feriado judaico que recorda a destruição de um antigo templo de Jerusalém, destruído pelos romanos em 70 d.C.. Colonos fundamentalistas insistem que seu santuário é situado sob Al-Aqsa e pedem a demolição da mesquita — Patrimônio da Humanidade e terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos.
Segundo o Departamento de Recursos Religiosos (Waqf), órgão jordaniano que gere Al-Aqsa, a invasão desta terça reuniu cerca de dois mil colonos ilegais.
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“O ministro Ben-Gvir, em vez de respeitar o status quo da mesquita, promove esforços para judaizá-la e tentar mudar a situação em campo”, advertiu um oficial.
Diante da invasão, a polícia israelense impôs restrições de acesso a muçulmanos.
Yitzhak Wasserlauf, ministro de Israel para Assuntos do Negev (Naqab) e Galileia, além de membros do parlamento (Knesset), participaram da invasão.
Tensões na Cisjordânia
Na Cisjordânia ocupada, colonos ilegais conduziram uma série de marchas em nome do feriado judaico, ao atacar palestinos nativos.
“Os colonos estão usando o feriado religioso como pretexto para reivindicar mais terras palestinas”, alertou Nida Ibrahim, correspondente da Al Jazeera em Ramallah. Segundo seu relato, embora um incidente rotineiro nos últimos anos, trata-se da maior incursão de colonos a comunidades palestinas no presente contexto.
As marchas supremacistas coincidem com uma escalada colonial de Israel — incluindo pogroms contra cidades e aldeias — em paralelo ao genocídio em Gaza.
Na Cisjordânia, são 620 mortos e 5.400 feridos, em meio a uma campanha de prisão de massa que dobrou a população carcerária palestina em custódia da ocupação a dez mil pessoas, a maioria sem julgamento ou acusação — reféns por definição.
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Palestinos detidos enfrentam condições de maus tratos, tortura, negligência médica e mesmo estupro e outras formas de violência sexual nas cadeias ocupantes.
Ainda na manhã de terça, forças israelenses mataram um jovem palestino e balearam outros quatro ao invadir casas de prisioneiros políticos. Dois apartamentos civis foram demolidos arbitrariamente nas cidades de Ramallah e al-Bireh.
Na madrugada, um veículo militar israelense atropelou outro jovem.
Impunidade
Israel tem intensificado sua campanha de violência na Cisjordânia e seus esforços para assumir controle dos santuários em Jerusalém, em paralelo às violações em Gaza.
Os ministérios de Relações Exteriores da Palestina, Egito, Jordânia e Catar se reuniram em condenação aos ataques a Al-Aqsa.
A pasta em Doha, em comunicado, reiterou que a marcha nas instalações da mesquita “fere seu status histórico e religioso”. “É um ataque não somente aos palestinos, mas a milhões de muçulmanos no mundo”, declarou a chancelaria.
O Catar, parte da mediação tripartite entre Israel e Hamas — junto de Estados Unidos e Egito — advertiu ainda que as violações prejudicam os esforços de cessar-fogo e troca de prisioneiros, e pediu “ação urgente” da comunidade internacional.
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Segundo Hassan Barari, professor de relações internacionais da Universidade do Catar: “Colonos veem a situação hoje como uma oportunidade de ouro, com a região vivendo um turbilhão e o governo mais extremista na história [de Israel]”.
“A comunidade internacional é ou cúmplice ou indiferente ao que está acontecendo na Cisjordânia e em Jerusalém”, acrescentou Barari, ao alertar que a objeção ocidental se resume a notas de repúdio.
“Israel sente que tem a impunidade para fazer o que quer na Cisjordânia”, concluiu.
Para além do genocídio israelense em Gaza, cuja “plausibilidade” foi reconhecida pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia da África do Sul deferida em janeiro, a corte condenou, em 19 de julho, a presença de colonos e tropas israelenses nos territórios palestinos ocupados como ilegal.
Em decisão histórica — porém tardia — o tribunal em Haia pediu a evacuação de todos os assentamentos, bases e postos avançados israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, além de reparações aos palestinos nativos.
Israel, no entanto, intensificou hostilidades, indicando desacato.