‘Israel pode não ser democracia’, pondera ex-vice-chefe do Estado-maior

Yair Golan, ex-vice-comandante do Estado-maior do exército israelense e hoje chefe do Partido Democrata no Knesset (parlamento), expressou dúvidas sobre as condições de democracia em Israel, em entrevista ao jornal The Guardian.

Golan enfatizou divergências com a hegemonia militante na arena política de Israel, em particular, após 7 de outubro, ao apontar que populistas de direita e extrema-direita e seus eleitores preferem “vingança” em vez de “reconciliação”.

“De fato, não tenho certeza se Israel é mais, neste momento, um Estado democrático”, lamentou Golan. “Não é mais questão de direita ou esquerda. Esses títulos perderam o sentido”.

“A direita em Israel hoje é composta por gente que pensa que pode anexar milhões de palestinos e que Israel pode adotar uma espécie de política da vingança, de que temos de viver pela espada, sem jamais se reconciliar com os palestinos ou qualquer entidade hostil [sic] em nossa região”, argumentou o congressista. “Minha posição, no entanto, é diametralmente oposta”.

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Apesar de sugerir o fim da presença de tropas e colonos ilegais na Cisjordânia ocupada, assim como a chamada solução de dois Estados, Golan insistiu que se “restabeleça” a segurança de Israel.

“Nossa visão é a solução de dois Estados, mas, neste momento, somos uma nação que vive um trauma”, alegou o militar reformado. “As pessoas perderam seu sentimento de segurança e não confiam nas tropas para protegê-los. Precisamos ser proativos, no que diz respeito ao campo militar, mas também temos que ter visão política”.

Para Golan, visto como um político da chamada esquerda sionista, “o campo liberal em Israel continua vivo”.

“Não queremos lutar por vingança”, concluiu. “Queremos segurança”.

As declarações de Golan, no entanto, coincidem com alertas de problemas estruturais no Estado israelense — isto é, para além do governo de Benjamin Netanyahu.

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Israel mantém um genocídio a Gaza desde outubro, com 40 mil mortos, 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados desde outubro. Na Cisjordânia, são mais de 620 mortos, 5.400 feridos e dez mil palestinos detidos arbitrariamente.

Neste entremeio, colonos ilegais, sob escolta do exército israelense, intensificaram uma campanha de pogroms contra cidades e aldeias palestinas.

O contexto incorreu ainda em uma crise inédita de relações públicas e diplomacia para o Estado de Israel.

Em 19 de julho, em decisão histórica, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, reconheceu a ilegalidade das décadas de ocupação israelense na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, ao ordenar evacuação imediata de soldados e colonos e reparações aos palestinos nativos.

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