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À véspera de negociações, Israel anuncia novo assentamento na Cisjordânia

Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, durante sessão no parlamento (Knesset), em Jerusalém ocupada, 10 de julho de 2023 [Menahem Kahana/AFP via Getty Images]

Israel publicou planos para um de seus novos assentamentos ilegais a serem instalados na Cisjordânia ocupada, conforme anúncio do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, nesta quarta-feira (14), segundo informações da agência de notícias Reuters.

A declaração de Smotrich, líder do partido fundamentalista Sionismo Religioso, célebre por sua retórica supremacista e provocatória, antevê em apenas um dia a retomada de negociações por um cessar-fogo e troca de prisioneiros entre Israel e Hamas.

Para os mediadores internacionais — incluindo o Departamento de Estado dos Estados Unidos —, as negociações são cruciais para atenuar tensões regionais e dissuadir o Irã de retaliar a um atentado que matou Ismail Haniyeh em sua capital, atribuído a Israel, após o líder político do Hamas participar da posse do novo presidente iraniano Masoud Pezeshkian.

Para Smotrich, no entanto, a medida é uma resposta — ou punição coletiva — a ações da liderança palestina na Cisjordânia ocupada, que firmou um acordo de reconciliação nacional na China, e países que reconheceram recentemente o Estado palestino.

“Nenhuma decisão contra Israel ou antissionista nos impedirá de desenvolver nossos assentamentos”, ameaçou Smotrich. “Continuaremos a lutar contra a ideia perigosa de um Estado palestino. Esta é a missão da minha vida!”

Em junho, Israel confirmou “legalizar” cinco postos avançados na Cisjordânia ocupada, estabelecer três novos assentamentos e expropriar grandes porções de terras onde os palestinos nativos buscam criar seu Estado independente.

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A Autoridade Palestina, que exerce governança restrita sob a Cisjordânia, subjugada à ocupação militar de Israel, reiterou que as obras coloniais e a demolição e expropriação de propriedades e terras palestinas constitui limpeza étnica.

Todos os assentamentos e colonos israelenses nas terras ocupadas são ilegais segundo o direito internacional. Em 19 de julho, em veredito histórico, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, admitiu a ilegalidade da presença de Israel em terras da Cisjordânia e Jerusalém Oriental e ordenou retirada imediata.

Em maio, Espanha, Irlanda e Noruega se juntaram à maioria dos Estados-membros das Nações Unidas que reconhecem oficialmente o Estado da Palestina.

Israel atacou os países europeus por vias diplomáticas e discursos de incitação política, ao acusá-los de “premiar o terrorismo [sic]”.

O regime israelense, sob instruções de Smotrich, também retém ilegalmente recursos tributários da Autoridade Palestina, a fim de extorqui-la a retirar seu apoio ao processo sul-africano de genocídio também em Haia, deferido em 26 de janeiro.

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Uma nova rodada de conversas indiretas, mediadas por Estados Unidos, Catar e Egito, para dar fim aos dez meses de ofensiva em Gaza e assegurar uma troca de prisioneiros, deve ter início em Doha nesta quinta-feira (15).

O Hamas, contudo, retirou sua delegação após o regime do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu impor novas demandas a fim de obstruir o processo, conforme documentos vazados na imprensa global, incluindo o jornal americano The New York Times.

Segundo as informações, o governo em Tel Aviv adotou “medidas extensivas” por trás das cenas para impossibilitar um acordo, como a presença militar permanente na zona de fronteira entre Gaza e Egito, ou Corredor da Filadélfia, e obstruções para o retorno de refugiados ao norte de Gaza.

Tel Aviv nega impor novos termos, ao culpar o Hamas, seu interlocutor, por reivindicar “dezenas de mudanças”. No entanto, uma carta aos mediadores, datada de 27 de julho, mostra ao menos cinco novas emendas israelenses em uma janela de dois meses.

Críticos advertem que Netanyahu busca sabotar um acordo em causa própria, receoso do colapso de seu governo de extrema-direita e de sua eventual prisão por corrupção, nos três processos em curso no judiciário israelense.

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Para o Catar, o assassinato de Haniyeh — figura decisiva no processo de negociação — somou-se aos obstáculos a um eventual acordo.

Segundo o ex-primeiro-ministro do Catar, Hamad bin Jassim al-Thani, Netanyahu nunca quis a paz, mas sim eliminar os palestinos de Gaza sitiada.

“Netanyahu quer que a guerra continue, que as reuniões e a mediação continuem sem qualquer avanço notável”, destacou al-Thani em suas redes sociais. “Netanyahu seguirá com essa política até concluir a missão que decidiu executar: exterminar os palestinos da Faixa de Gaza”.

“O mundo sabe, embora tarde, quem está obstruindo os resultados positivos para este dilema e quem está cometendo assassinatos e genocídios ininterruptos, tanto em Gaza como na Cisjordânia”, acrescentou.

O novo assentamento de 60 hectares, denominado Nachal Heletz, parte do complexo colonial de Gush Etzion, de fato parece vir à tona como mais um obstáculo, sobretudo às promessas internacionais da “solução de dois Estados”, ao fragmentar ainda mais as comunidades palestinas e conectar colonatos com a Jerusalém ocupada.

A ong israelense Peace Now alertou, neste sentido, que Smotrich “continua a promover a anexação de facto [de terras palestinas], em violação de uma Convenção da Unesco [Fundo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura] da qual Israel é signatário, de modo que todos nós pagamos o preço”.

Israel mantém ataques indiscriminados contra Gaza desde 7 de outubro, em retaliação e punição coletiva a uma operação transfronteiriça do Hamas que capturou soldados e colonos. Desde então, a ofensiva israelense deixou ao menos 40 mil palestinos mortos, 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados — sobretudo mulheres e crianças.

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