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A violência sádica de Israel na guerra contra Gaza

Prisioneiros palestinos foram levados ao Hospital Abu Youssef Al-Najjar em Rafah, no sul de Gaza, como resultado da tortura infligida a eles durante a detenção pelas forças israelenses em condições desumanas [Firas Al-Shaer]

Prisioneiros contaram que desfilaram diante do público israelense em jaulas, foram cuspidos e tiveram bananas atiradas contra eles. Relatórios de direitos humanos e da imprensa recente detalham casos em que os soldados inseriram um telefone celular no ânus de um prisioneiro e o chamaram, rindo enquanto o aparelho tocava dentro de seu corpo. Os soldados também zombaram dos prisioneiros dizendo que eles estavam jogando futebol com a cabeça de seus filhos em Gaza. Esses casos fornecem apenas um vislumbre do comportamento sádico exibido pelos israelenses contra os palestinos em tempos de genocídio.

O sadismo é definido como a obtenção de prazer ou gratificação psicológica ao infligir dor ou sofrimento a outras pessoas. Alguns indivíduos sentem prazer em se envolver em atos sádicos, enquanto outros ficam satisfeitos em assistir ou participar indiretamente. Os sádicos podem infligir dor física, humilhação ou manipulação emocional para obter prazer. Os exemplos incluem provocar os prisioneiros com ameaças de violência sexual contra suas esposas, exibir as roupas íntimas das mulheres de Gaza ou negar aos prisioneiros o acesso aos banheiros para depreciá-los ou causar-lhes cicatrizes emocionais.

Um indicador importante de sadismo é a ausência de culpa ou remorso. Isso fica evidente quando colonos e membros do Knesset israelense defendem soldados acusados de abusar sexualmente de prisioneiros durante interrogatórios, alegando que o establishment militar tem o direito de cometer qualquer forma de abuso contra prisioneiros palestinos em tempos de guerra. Isso sugere que esses atos não são incidentes isolados, mas sim institucionalizados e apoiados pela legislação israelense.

Durante o genocídio em curso em Gaza, que já dura mais de dez meses, surgiram inúmeras cenas monstruosas que desafiam os limites da lei e da moralidade. Esses atos revelam a realidade brutal da violência e desafiam as afirmações israelenses de que seu exército é “o mais moral do mundo”.

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Uma forma de comportamento sádico são os ataques aleatórios. A maioria das áreas residenciais de Gaza foi alvo de bombardeios indiscriminados, o que levou à destruição de casas e à perda de vidas. Isso contrasta nitidamente com a precisão das operações militares israelenses que visam indivíduos em sua lista de alvos, como visto no assassinato do líder palestino Ismail Haniyeh em Teerã, onde ele estava em um complexo residencial altamente seguro.

Outra forma é o deslocamento forçado de civis de suas casas. Milhares de famílias foram removidas para áreas inseguras ou superlotadas. Gaza, que já é uma das regiões mais densamente povoadas do mundo, enfrenta graves danos causados por esses deslocamentos. Muitos residentes foram deslocados várias vezes desde o início da agressão, alguns mais de dez vezes. Esses deslocamentos não têm qualquer justificativa de segurança e servem apenas para infligir sofrimento. Eles refletem uma dimensão sádica ao causar graves danos psicológicos e físicos.

A política de punição coletiva é outra manifestação do sadismo israelense. Isso inclui a imposição de fome e a privação de necessidades básicas. Esses atos deliberados de violência levaram à morte de crianças e até mesmo levaram animais a se alimentarem de corpos humanos mortos. Essa política, imposta pelos níveis mais altos da governança israelense, reforça o sadismo institucional e incentiva os colonos a agir com crueldade, como atacar caminhões de alimentos destinados a Gaza.

Algumas das práticas sádicas mais flagrantes ocorrem durante a detenção e prisão. Diversos relatórios documentam prisões arbitrárias e tortura de detidos palestinos, que muitas vezes enfrentam tormentos físicos e psicológicos extremos destinados a maximizar seu sofrimento. Os prisioneiros relataram que os soldados telefonam para suas namoradas e parentes para que testemunhem os abusos infligidos a eles, destacando o prazer e o exibicionismo desses atos. Outros abusos incluem a negação dos direitos básicos de alimentação, higiene e assistência médica, além de submeter os prisioneiros a espancamentos violentos, revistas obrigatórias, venda nos olhos por dias, forçá-los a comer com as mãos amarradas e até mesmo agressões físicas pela equipe médica.

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Vários motivos subjacentes contribuem para o comportamento sádico em tempos de conflito, refletindo a natureza complexa da psicologia humana e os contextos políticos e sociais mais amplos.

Desumanização

Em conflitos prolongados como a ocupação israelense da Palestina, a desumanização dos palestinos justifica a violência sem fim e sem culpa. Quando um grupo é visto como subumano, os atos sádicos se tornam mais fáceis de racionalizar. Isso fica evidente nas declarações feitas por oficiais israelenses que se referiram aos palestinos como “baratas” ou “animais humanos”.

Imunidade

As instituições militares e políticas podem incentivar ou tolerar comportamentos violentos. As políticas que visam civis ou infligem danos podem servir a objetivos políticos ou estratégicos, promovendo uma cultura de violência dentro dessas instituições. A falta de responsabilidade de Israel e sua garantia de anistia encorajam soldados e colonos a cometerem crimes abertamente, sem medo de repercussões. Se crimes individuais como os assassinatos de Mohammed Al-Durrah e Shireen Abu Akleh ficam impunes, como o assassinato em massa de quase 30.000 crianças e mulheres pode ser processado?

O impacto psicológico do 7 de outubro

A derrota sofrida pelo exército israelense em 7 de outubro de 2023 levou a uma humilhação generalizada. Os israelenses estão tentando dissipar isso por meio de ações vingativas, canalizando sua raiva contra qualquer coisa palestina.

Justificativa política e propaganda

A propaganda molda as percepções do conflito. Quando o inimigo é retratado como extremo ou desumanizado, isso reforça a aceitação da violência pela sociedade. Os ataques militares contra civis palestinos geralmente são justificados como necessários para a segurança de Israel, apoiados pela propaganda que retrata os palestinos como uma ameaça constante. Isso legitima a violência e a humilhação como um meio de controle.

Essa análise do sadismo israelense em relação aos palestinos pode explicar as reações surpreendentes dos prisioneiros israelenses libertados em acordos de troca durante essa agressão, como apertar as mãos de seus captores. Alguns consideram esse comportamento como Síndrome de Estocolmo, mas ele pode refletir melhor um choque entre as tendências sádicas do ocupante e a humanidade daqueles que lutam pela libertação.

Conflitos, especialmente os prolongados, podem promover comportamentos sádicos quando não há impedimentos internos, como o respeito aos mortos e à santidade da vida humana. É fundamental alinhar continuamente as ações com os valores e buscar a redenção, em vez de desencadear instintos violentos. Essa distinção ressalta a diferença entre civilização e barbárie.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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