Ong palestina pede fechamento imediato dos ‘campos de tortura’ de Israel

Prisioneiros palestinos sofrem atualmente grave tortura física e mental nas instalações de Israel, reportou o Centro al-Mezan para Direitos Humanos nesta terça-feira (13), ao reivindicar que os abusos sejam devidamente responsabilizados.

Segundo o alerta, os prisioneiros “são despidos sob o sol escaldante, forçados a ficar de pé no cascalho quente, submetidos a abusos verbais e ameaçados com estupro, morte, bombardeios e ataques a suas famílias”.

A ong reiterou que testemunhos e evidências recentes “revelam um nível de violência que ressoa as atrocidades documentadas em Guantánamo e Abu Ghraib”, em alusão às infames instalações carcerárias dos Estados Unidos em Cuba e no Iraque.

A al-Mezan destacou que os prisioneiros também são “privados de comida, água, sono e acesso a higiene por períodos extensos, tudo isso enquanto enfrentam condições de vida extremamente precárias”.

A organização estimou que ao menos 2.650 palestinos foram sequestrados pelas tropas israelenses em Gaza desde outubro, incluindo 12 crianças e duas mulheres. Os índices, no entanto, incorrem em provável subnotificação.

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O comunicado corroborou que somente 300 foram indiciados, enquanto o restante foi designado “combatentes ilegais”, sujeitos a períodos indeterminados de detenção, sem sequer acusações específicas.

Além disso, estima-se cerca de dez mil palestinos detidos ao longo da escalada colonial na Cisjordânia ocupada, dobrando a população carcerária antes de outubro. Boa parte destes permanece em custódia sob detenção administrativa — isto é, sem julgamento ou sequer acusação; reféns por definição.

A al-Mezan confirmou que instâncias de tortura resultaram em diversas mortes, porém sem registro definitivo devido à estrutura opaca do regime israelense.

A Sociedade dos Prisioneiros Palestinos, por sua vez, identificou 22 pessoas mortas sob tortura ou negligência em custódia de Israel.

“As violações contra residentes de Gaza parecem integrar um padrão ainda mais amplo de abusos, consistente com o crime de genocídio”, enfatizou a al-Mezan.

As descobertas ecoam relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) e entidades de direitos humanos que denunciam violações generalizadas contra os presos políticos palestinos, incluindo tortura e mesmo estupro.

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Um vídeo vazado recentemente pela emissora de televisão israelense Canal 12 trouxe à tona casos de violência sexual contra os palestinos, ao corroborar numerosos relatos e atrair condenação internacional.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) divulgou um relatório em julho no qual detalhou tortura e maus tratos contra palestinos detidos no contexto do genocídio em Gaza, nos últimos dez meses.

“Alguns prisioneiros notaram que soldados soltaram cães contra eles; outros relataram ser submetidos a waterboarding [afogamento] ou posições de estresse, com ambas as mãos atadas e suspensos do teto”, denunciou o relatório.

“Algumas mulheres e homens falaram de violência sexual e de gênero”, acrescentou.

Em um dossiê intitulado “Welcome to Hell” (“Bem-vindo ao Inferno”), a ong israelense B’Tselem compilou testemunhos de 55 palestinos, incluindo 21 de Gaza, submetidos a maus tratos nas cadeias de Israel.

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Dentre as violações registradas pela ong, estão “casos frequentes de violência severa e arbitrária, abuso sexual, humilhação e degradação, fome deliberada, privação do sono, e condições insalubres”.

Conforme a B’Tselem, ao menos 60 palestinos morreram em custódia de Israel em dez meses — 48 de Gaza.

As organizações instaram o Tribunal Penal Internacional (TPI) a investigar “os indivíduos suspeitos de planejar, instruir e cometer esses crimes”, ao reiterar que o inquérito não pode ser realizado por Israel “dado que todos as instituições de Estado, incluindo poder judiciário, permanecem mobilizadas em prover apoio aos campos de tortura”.

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