Negociações por um cessar-fogo em Gaza e troca de prisioneiros entre Israel e Hamas foram retomadas em Doha, no Catar, nesta quinta-feira (15), embora sob os obstáculos postos pelas quatro condições-chave do premiê israelense Benjamin Netanyahu.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Espera-se que a intransigência do governo em Tel Aviv descarrile as negociações, vistas pelos países mediadores — Catar, Egito e Estados Unidos — como cruciais para impedir a deflagração de uma guerra regional.
Dirigentes de inteligência do Egito e Estados Unidos viajaram a Doha para se encontrar com o diretor da agência israelense Mossad, David Barnea. Todavia, sem a presença do Hamas, que reiterou como requisito a seu comparecimento o compromisso de Israel à proposta de cessar-fogo escalonado do presidente americano Joe Biden.
Para o Hamas, seguir com as negociações parece permitir, no momento, a continuidade dos massacres de Israel.
Em maio, sob pressão interna em sua campanha eleitoral, Biden propôs um acordo de três fases, incluindo cessar-fogo, troca de prisioneiros e reconstrução de Gaza. Porém, sem o aval de Israel.
Sem cronograma
Os mediadores não conseguiram determinar um cronograma até então para a presente rodada de negociações, embora reafirmem a urgência de um acordo.
O Canal 12 da televisão israelense reportou que as conversas devem durar dois dias, à medida que as delegações se dividem em grupos de trabalho responsáveis por tentar fechar as lacunas de um eventual acordo.
Algumas sessões devem contar ainda com William Burns, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA); Abbas Kamel, chefe de inteligência do Egito, próximo do presidente Abdel Fattah el-Sisi; e o premiê catari, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani.
Uma questão em voga é a extensão da autoridade concedida à delegação de Israel por Netanyahu, ou ainda a imposição de novas demandas.
Críticos alertam que Netanyahu posterga um acordo em causa própria, sob apreensões sobre o colapso de seu governo e eventual prisão por corrupção em três processos em curso. Milhares de manifestantes — incluindo familiares dos prisioneiros de guerra em Gaza — tomam as ruas há semanas por sua deposição.
Segundo o Canal 12, “a autoridade da delegação israelense foi estendida, mas continua limitada e um acordo pode não depender de uma resolução sobre Gaza, mas sim sobre esforços para evitar uma guerra aberta”.
Os receios de uma escalada sucedem atentados atribuídos a Israel em Beirute e Teerã, que resultaram na morte de Fuad Shukr, comandante do Hezbollah, e Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas e figura decisiva nas negociações.
O Catar, um dos mediadores, sugeriu que assassinar Haniyeh indicava um ataque direto ao próprio processo de negociação.
Quatro condições
O Hamas reivindica o fim da guerra em Gaza, retirada das forças israelenses e retorno dos palestinos deslocados pelos dez meses de campanha a suas casas, como parte das negociações por uma troca de prisioneiros.
O grupo palestino acusa Tel Aviv de incluir novas demandas para obstruir as conversas.
Com base em comentários recentes, Netanyahu insiste em quatro pontos para fechar o acordo. Nesta terça-feira (13), seu gabinete exigiu um mecanismo para impedir núcleos armados de atravessar o checkpoint de Netzarim, do centro ao norte de Gaza.
Analistas alertam que a medida busca impedir, na prática, o retorno dos refugiados, ao perpetuar o problema e possibilitar futuramente ocupação, assentamento e anexação de Israel, em violação da lei internacional.
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A segunda condição é que Israel mantenha controle do eixo Salah al-Din — Corredor da Filadélfia —, além da travessia de Rafah, na fronteira entre Gaza e Egito.
A terceira condição se refere ao número de prisioneiros de guerra israelenses ainda em Gaza, após meses de bombardeios indiscriminados contra o enclave, e a identidade dos presos políticos palestinos a serem eventualmente libertados.
O Hamas afirma manter 115 israelenses em custódia em Gaza, com cerca de 70 mortos pelos ataques aéreos da ocupação. Em contrapartida, Israel detém hoje quase dez mil palestinos em suas cadeias, sob tortura e mesmo violência sexual — em boa parte sem acusação ou julgamento, reféns por definição.
A quarta demanda é que Israel guarde o “direito” de rejeitar os nomes requeridos para sua soltura, embora exija do Hamas que dê os nomes de seus prisioneiros de antemão, além de deixar caminho para deportá-los da Palestina.
Israel age em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas para debater um cessar-fogo, assim como medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, para desescalada e fluxo humanitário.
As ações israelenses são retaliação e punição coletiva a uma operação transfronteiriça do Hamas de 7 de outubro, que capturou colonos e soldados.
Em Gaza, são ao menos 40 mil mortos e 92.400 feridos, sobretudo mulheres e crianças, além de dois milhões de desabrigados e dez mil desaparecidos sob os escombros.
O Estado israelense é também réu por genocídio em Haia, sob denúncia sul-africana, deferida em 26 de janeiro.