O grupo palestino Hamas rejeitou as “novas condições” impostas por Israel à proposta para um eventual acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros debatido em Doha, no Catar, após dois dias de negociações indiretas.
Conforme dois oficiais do ramo político do grupo nacional, em contato com a rede AFP nesta sexta-feira (16), a delegação israelense “estabeleceu novas condições, no intuito de impedimento [de um acordo de cessar-fogo]”.
Segundo as informações Israel “insistiu em manter suas forças na área de fronteira com o Egito, o chamado Corredor da Filadélfia, e exigiu direito de veto a nomes dos presos políticos a serem libertados, além de deportação de outros”.
Uma das fontes reafirmou que o Hamas “não aceitará nada menos que um cessar-fogo completo, completa retirada [das forças israelenses] de Gaza, retorno desobstruído dos deslocados a suas casas e troca de prisioneiros sem restrições por parte da ocupação”.
Uma nova rodada de negociações começou na capital catari na quinta-feira (15), diante de receios internacionais de propagação da guerra, após um atentado atribuído a Israel matar Ismail Haniyeh, líder político do Hamas e figura chave nas negociações, em Teerã em 31 de julho, onde estava para a posse do novo presidente Masoud Pezeshkian.
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Em 31 de maio, sob pressão interna em sua campanha eleitoral, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, propôs um acordo escalonado de três fases, incluindo cessar-fogo, troca de prisioneiros e reconstrução de Gaza. Porém, sem o aval de Israel.
Dirigentes de inteligência do Egito e Estados Unidos viajaram a Doha para se encontrar com o diretor da agência israelense Mossad, David Barnea.
Na noite de quinta-feira, o Hamas reafirmou que qualquer acordo deve incluir “retirada completa” do exército da ocupação israelense da Faixa de Gaza.
Hussam Badran, membro do bloco político do Hamas, declarou em comunicado após a retomada das conversas no Catar que “qualquer acordo deve compreender um cessar-fogo abrangente, plena retirada de Gaza e retorno dos deslocados”.
Neste sentido, observadores advertiram para ações e declarações de Tel Aviv contrárias ao processo político, incluindo demandas inéditas.
Críticos alertam que Netanyahu posterga um acordo em causa própria, sob apreensões sobre o colapso de seu governo e eventual prisão por corrupção em três processos em curso. Milhares de manifestantes — incluindo familiares dos prisioneiros de guerra em Gaza — tomam as ruas há meses por sua deposição.
Israel age em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas para avançar em um cessar-fogo, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, para desescalada e fluxo humanitário.
As ações israelenses são retaliação e punição coletiva a uma operação transfronteiriça do Hamas em 7 de outubro, que capturou colonos e soldados.
Em Gaza, são ao menos 40 mil mortos e 92.400 feridos, sobretudo mulheres e crianças, além de dois milhões de desabrigados e dez mil desaparecidos.
O Estado israelense é também réu por genocídio em Haia, sob denúncia sul-africana, deferida em 26 de janeiro.