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‘Basta’: Filho de sobrevivente do Holocausto exige fim do genocídio em Gaza

Mark Etkind, filho de sobrevivente do Holocausto, em protesto pró-Palestina no centro de Londres, Reino Unido, em 12 de agosto de 2024 [Burak Bir/Agência Anadolu]
Mark Etkind, filho de sobrevivente do Holocausto, em protesto pró-Palestina no centro de Londres, Reino Unido, em 12 de agosto de 2024 [Burak Bir/Agência Anadolu]

Imagens horríveis de morte e destruição em Gaza inundam as redes sociais há mais de dez meses. Neste entremeio, muitos judeus em todo o mundo decidiram erguer a voz para demonstrar oposição ao tratamento conferido por Israel ao povo palestino.

Para Mark Etkind, filho de um sobrevivente do Holocausto nazista, Israel e seus aliados, sobretudo Estados Unidos e Reino Unido, usam o trauma pela qual passaram os judeus na Europa, na Segunda Guerra Mundial, para justificar as atrocidades em Gaza, com ao menos 40 mil mortos e 90 mil feridos até então.

Etkind participou de um recente protesto pró-Palestina no centro de Londres, após um ataque israelenses contra uma escola da Cidade de Gaza, onde centenas de palestinos deslocados se refugiavam. Mais de cem pessoas foram mortas logo nas primeiras horas da manhã.

Etkind, cujo pai sobreviveu ao gueto de Lodz — maior segundo gueto nazista, somente após Varsóvia, na Polônia — e a sucessivos campos de concentração, dentre os quais o campo de Buchenwald, sentiu-se particularmente ultrajado quando o governo de Israel e seus apoiadores passaram a usar como arma a morte de milhões de judeus durante a Segunda Guerra, “para, de algum modo, justificar o que Israel faz hoje em Gaza”.

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“Em outras palavras, eles estão usando um genocídio do século passado para justificar um genocídio hoje”, comentou Etking à agência Anadolu. “Agora, é muito difícil pensar em qualquer coisa que seja mais ofensiva à memória do Holocausto do que usá-lo para justificar mais um genocídio”.

Etkind criticou as potências ocidentais por “implacavelmente” armar e apoiar as ações de Tel Aviv, enquanto repete chamados vazios por um cessar-fogo.

“Se você quer que um bebê birrento pare de destruir as coisas na sua casa, não lhe dê lança-chamas e metralhadoras”, acrescentou. “De fato, ao fazê-lo, torna-se igualmente responsável por cada morte que é causada em Gaza. E, receio dizer, ambos os governos — dos Estados Unidos e do Reino Unido — são diretamente responsáveis pelas mortes, que, dizem, podem chegar, quem sabe, a mais de cem mil pessoas”.

Mulheres e crianças estão entre a imensa maioria dos palestinos mortos em Gaza, com bairros inteiros reduzidos a escombros sob os bombardeios israelenses, após uma ação do grupo palestino Hamas que atravessou a fronteira e precipitou a agressão.

O exército israelense impôs também um cerco absoluto contra Gaza, com implacáveis restrições à entrada e mesmo ao movimento de caminhões humanitários no território costeiro, resultando em uma brutal escassez de alimentos, água e medicamentos.

Normalizando o extermínio em massa

Segundo Etkind, para além do perigo enfrentado pelos palestinos de Gaza dia após dia, sob os ataques de Israel, a situação deve também preocupar o mundo.

“Tenho medo por toda a humanidade, porque estamos normalizando o extermínio em massa de uma maneira que não sei se já vimos em qualquer outro instante na história da civilização”, argumentou.

Para Etkind, é crucial fazer mais e mais para pressionar os políticos a agirem. Contudo, lamentou que, no Reino Unido, “acabamos de eleger um governo que, sem pestanejar, disse que continuará a apoiar isso tudo”.

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“Penso que temos que ter medo, muito medo, não apenas pelo povo de Gaza, mas por todos nós, pelo fato de que ainda não conseguir fazer tudo para acabar com isso”.

Ao reiterar que as pessoas têm o direito a agir diante do genocídio, Etkind sugeriu que toda e cada repartição em seu país, o Reino Unido, deveria fechar as portas “até que o genocídio acabe”.

“Este genocídio tem de acabar agora mesmo, hoje mesmo, e nossos políticos não têm opção senão agir”, enfatizou o ativista.

“Não em nosso nome”

Ao conversar com a agência Anadolu, Jane, outra manifestante, ressaltou que o recente ataque a uma escola de Gaza soma-se a uma longa lista de eventos indesculpáveis.

“Não é diferente do que vemos desde 1948”, destacou Jane, em referência à Nakba, ou catástrofe palestina, quando 800 mil palestinos nativos foram expulsos de suas casas e terras, mediante limpeza étnica planejada, para permitir a criação do Estado de Israel. “Não é diferente do que vemos desde sempre — 7 de outubro, 8 de outubro, por aí vai. É simplesmente desumano”.

Ao notar que os países têm de robustecer com ações seus chamados por cessar-fogo, a ativista indicou que isso não parece tão fácil a países cuja indústria da guerra construiu uma relação de dependência ao abastecer o arsenal de Tel Aviv.

“Até que essas relações sejam completamente cortadas, nada vai acontecer. É preciso cortar laços”, reafirmou.

Na segunda-feira (12), uma estudante universitária que também decidiu tomar as ruas, descreveu o ataque à escola no fim de semana como “mais um exemplo da barbárie de Israel” e notou que as pessoas em todo o mundo têm de fazer tudo a seu alcance para que seus governos parem de comprar e vender armas e insumos militares, entre outros acordos, com o Estado colonial de Israel.

“Todas essas bombas estão sendo lançadas [em Gaza]”, relembrou a estudante. “Estão massacrando bebês, fazendo seus pequenos corpos em pedaços”.

“Há quem diga que esse genocídio tem de ocorrer em nome da segurança dos judeus”, concluiu a estudante. “Eu digo que não é verdade. Não em nosso nome”.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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