Dezenas de milhares de ativistas pró-Palestina devem se reunir em frente ao ginásio do United Center, na cidade de Chicago, Illinois, onde será realizada a Convenção Nacional do Partido Democrata deste ano, entre 19 e 22 de agosto.
O evento deve confirmar a candidatura da chapa Harris-Walz às eleições de novembro nos Estados Unidos, contra o republicano Donald Trump.
Kamala Harris, atual vice-presidente, substituiu Joe Biden na campanha de seu partido, após a desistência do mandatário. Em 6 de agosto, escolheu Tim Walz, governador de Minessota, como candidato a vice.
Harris herda de Biden uma árdua crise interna pelo apoio da Casa Branca ao genocídio israelense em Gaza, que se aproxima de seu 11º mês. Eleitores progressistas — cruciais à vitória de Biden em 2020 — ameaçam abstenção.
A coalizão March on the DNC —Marcha no Congresso Nacional Democrata — convocou uma caminhada de 1.6 km até o parque em frente à arena de Chicago, com a chegada prevista para momentos antes do discurso de Biden.
Organizadores buscam, no entanto, estender a rota, segundo Hatem Abudayyeh, porta-voz do coletivo, que reúne mais de 200 instituições, incluindo associações por direitos reprodutivos e justiça racial.
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Na semana passada, os organizadores disseram à Reuters que membros das diásporas árabes e palestinas em Illinois e Estados vizinhos pretendem se somar aos atos.
Abudayyeh disse esperar dezenas de milhares ao protesto, com início às 13h00 (18h00 GMT; 15h00 em Brasília). O coletivo organizou sua própria segurança, mas reiterou não esperar violência, apesar da forte presença policial e do Serviço Secreto nos perímetros da Convenção.
Os manifestantes instaram a polícia, porém, que não infrinja seu direito constitucional de liberdade de expressão. “É essa a única responsabilidade deles. Não queremos que nos escoltem, só queremos que respeitem os nossos direitos”.
Um protesto de massa está previsto para quinta-feira (22), quando Harris deve aceitar a nomeação.
Manifestações nos Estados Unidos atingiram patamares históricos com acampamentos antiguerra em universidades de todo o país, a partir de uma mobilização em Columbia, em Nova York. Autoridades, contudo, reprimiram os atos com violência.
Na tarde deste domingo (18), manifestações esparsas já mostravam as caras no centro de Chicago. À noite, uma multidão de mil pessoas realizou uma caminhada.
“Os democratas são aqueles no poder”, alertou Abudayyeh nesta segunda. “É a guerra deles. São responsáveis por ela, são cúmplices e são aqueles que podem pará-la”.
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Dentro da Convenção, um grupo de democratas intitulado Delegates Against Genocide — Delegados Contra o Genocídio — confirmou protestos por mudanças programáticas, incluindo um embargo de armas a Israel.
O grupo orientou membros do partido a vestirem lenços palestinos (keffiyehs) e ícones com as cores da bandeira, ao reivindicar representação política.
“Vamos fazer com que nossas vozes sejam ouvidas”, comentou Liano Sharon, consultor de negócios e delegado judeu signatário a um programa alternativo de governo.
“A liberdade de expressão demanda o direito de ser ouvido mesmo quando a liderança tenta nos calar”, destacou Sharon. “Queremos que o evento corra sem problemas, não queremos interrompê-lo. Mas a convenção é um veículo de engajamento político e se não a usarmos para tanto, então não passa de um concurso de beleza”.
Nadia Ahmad, delegada e professora de direito da Universidade de Barry, no estado da Flórida, disse que há atualmente cerca de 60 delegados muçulmanos no partido, de um total de cinco mil. No entanto, dezenas de outros mostram apreensão com a pauta, em particular, membros mais jovens.
O Uncommitted National Movement — bloco democrata que se negou a comprometer-se com o voto em Biden na atual conjuntura — conquistou 30 assentos e deve contar com um discurso de sua copresidente, Layla Elabed, no primeiro painel.
Médica, Elabed esteve na linha de frente da crise em Gaza.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro, com apoio dos Estados Unidos, deixando mais de 40 mil mortos, 92 mil feridos e dois milhões de desabrigados até então. Entre as fatalidades, 15 mil são crianças.
O programa de Harris não menciona a mortalidade em Gaza.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.