Stephanie Koury, representante adjunta da Missão das Nações Unidas de Apoio na Líbia (Unsmil), alertou para a “rápida” deterioração das condições no país norte-africano nos últimos dois meses, ao denunciar atos “unilaterais” que agravaram tensões.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Koury assumiu a direção interina da missão das Nações Unidas na Líbia após a renúncia de Abdoulaye Bathily em abril.
Nesta terça-feira (20), Koury atualizou o Conselho de Segurança sobre a conjuntura.
“Nos últimos dois meses, a situação na Líbia se deteriorou de maneira bastante rápida, em termos de estabilidade política, econômica e de segurança”, reiterou Koury. “Ações unilaterais de agentes políticos e militares aprofundaram ainda mais divisões políticas e institucionais e complicaram esforços para uma solução negociada”
Koury enalteceu os esforços do povo líbio para “ir adiante”, ao notar “um engajamento renovado de partidos, sindicados, sociedade civil, figuras independentes e outras, a fim de coordenar e avançar em ideias construtivas para dar corpo ao processo político”.
LEIA Fórum de Migração Trans-Mediterrânea em Trípoli: muita conversa, mas pouca ação
Segundo a oficial da ONU, sua missão na Líbia mantém ações para construir confiança e criar um ambiente condutivo às negociações.
Ao enfatizar a frustração popular com o status quo e expressar receios sobre retomada da guerra, declarou Koury: “Os jovens não veem um futuro salvo escapar. E isso — isso é inaceitável”.
Taher al-Sunni, enviado da Líbia na ONU, criticou o Conselho de Segurança pela falta de soluções práticas, ao indagar: “Quem entre nós é realmente responsável por proteger a paz e segurança internacionais?”
Al-Sunni destacou também a urgência de eleições livres, transparentes e inclusivas em seu país, além de um novo mapa para o processo político.
“A comunidade internacional jamais deixou o povo líbio assumir as rédeas do processo político que, de fato, decidirá seu destino”, comentou o embaixador.
Para al-Sunni, é preciso “limpar” o país da ingerência estrangeira: “O povo líbio que ser mestre de seu próprio destino e rejeita a interferência de terceiros em todo e qualquer um de seus assuntos nacionais”.
Na terça-feira passada (13) o parlamento líbio votou por dissolver o Governo de União Nacional, sediado em Trípoli e chefiado pelo premiê Abdul Hamid Dbeibeh, ao aceitar a “legitimidade” do gabinete de Osama Hammad, radicado no leste no país.
LEIA: A tragédia egípcia na Líbia está longe de terminar
A medida foi tomada após o ressurgimento de cisões políticas pela decisão do governo em formar uma nova agência incumbida dos inquéritos e referendos nacionais.
No domingo (18), o Banco Central anunciou suspender todas as operações até que um oficial sequestrado pela manhã fosse libertado. A instituição é o único repositório dos recursos de petróleo líbio reconhecido internacionalmente.
A instituição acusou uma “parte desconhecida” de abduzir Musaab Maslam, chefe de seu departamento de tecnologia da informação (TI), ao rechaçar o que descreveu como “métodos de máfia, adotados por figuras fora da lei”.
A Líbia permanece sem um governo estável e unificado desde 2011, quando o ditador Muammar Gaddafi foi deposto após quatro décadas no poder, sob protestos populares e intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Duas gestões rivais disputam o poder: o Governo de União Nacional, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), no oeste do país; e a gestão de Benghazi, ligada ao comandante militar Khalifa Haftar.
Esforços para eleições para legislativo e executivo continuam sob impasse, com receios de retomada da guerra no país rico em petróleo.
LEIA: 65 pessoas encontradas em vala na Líbia, alerta agência da ONU