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Netanyahu faz demandas ‘maximalistas’ em Gaza, alertam oficiais dos EUA

Protesto pró-Palestina em frente à Convenção Nacional Democrata (DNC), em Chicago, Estados Unidos, em 19 de agosto de 2024 [Jacek Boczarski/Agência Anadolu]

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, recebeu novas críticas de oficiais dos Estados Unidos por fazer “declarações maximalistas […] não construtivas no sentido de obter um acordo de cessar-fogo” em Gaza.

As denúncias coincidem com o retorno do secretário de Estado, Antony Blinken, de sua nova turnê pelo Oriente Médio, onde se encontrou com líderes regionais, como Abdel Fattah el-Sisi, presidente do Egito, e o próprio Netanyahu.

Durante as conversas, Blinken apresentou uma “proposta para construir pontes”, a fim de abordar questões cruciais para um acordo entre Israel e o grupo palestino Hamas. A proposta, segundo as informações, inclui um plano detalhado de retirada dos soldados israelenses de Gaza, conforme prazos e localidades específicas.

Contudo, questionado sobre a eventual retirada completa de Israel do enclave sitiado, Blinken se negou a comentar.

Apesar dos esforços da gestão democrata na Casa Branca — em campanha às eleições de novembro —, ambos os lados criticaram a proposta.

Netanyahu insiste em manter controle militar israelense sobre o chamado Corredor da Filadélfia, zona neutra na fronteira entre Gaza e Egito.

O Hamas, por outro lado, diz que o novo texto desvia do roteiro original do presidente Joe Biden, anunciado em maio, ao adicionar demandas incontornáveis de Tel Aviv.

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De modo crítico, a proposta sobre a mesa não garante um cessar-fogo permanente ou retirada completa da ocupação militar de Gaza, em troca da libertação dos prisioneiros de guerra israelenses capturados em 7 de outubro.

A proposta anterior previa um cessar-fogo escalonado em três etapas, com a anuência do Hamas, mas rejeição de Israel.

“Do meu de vista, parece que os Estados Unidos decidiram aceitar as últimas condições israelenses, embora tentem diluí-las de alguma forma”, comentou Hugh Lovatt, expert em Israel–Palestina para o Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

“Esta proposta é basicamente uma ponte entre Israel e Estados Unidos e não Israel e o Hamas”, acrescentou.

A insistência de Netanyahu sobre o Corredor da Filadélfia se tornou um impedimento, sob alertas de que a medida manterá as obstruções de ajuda humanitária e de retorno dos palestinos deslocados ao norte de Gaza.

Conforme relatos, Netanyahu rejeitou apelos de familiares dos reféns ao destacar em sua presença: “Israel não deixará o Corredor da Filadélfia e o Corredor Netzarim [que divide norte–sul] em nenhuma circunstância”.

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Em condição de anonimato, um oficial americano que acompanhou Blinken rechaçou o premiê: “Declarações maximalistas como essas não são construtivas para chegar a um cessar-fogo na linha de chegada e certamente põem em risco as capacidades em nível de implementação, trabalho e diálogo técnico para ir adiante”.

Israel demandou também o controle continuado da travessia de Rafah, no extremo sul de Gaza, na fronteira com o Egito. As exigências israelenses, na prática, buscam manter os 18 anos de cerco militar e ocupação ilegal a Gaza, ao limitar direitos palestinos.

Os habitantes de Gaza vivem sob bloqueio militar por mar, ar e terra desde 2006, sob proibições de viagem e restrições de movimento, com impacto particular em pacientes médicos e estudantes.

O Corredor Netzarim, por sua vez, corta Gaza em duas partes, esvaziando o norte para torná-lo vulnerável a eventual anexação. A região abriga o único hospital do câncer em Gaza, hoje convertido em base militar de Israel

As demandas incluem ainda a criação de uma zona neutra de 2 km do lado palestino da cerca de fronteira com Israel, impondo controle efetivo das forças coloniais a ao menos um terço do território e impossibilitando o retorno de centenas de milhares de pessoas a suas casas.

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Apesar da expectativa por um cessar-fogo, a atual proposta tampouco assegura acesso livre de assistência humanitária ou restauração de infraestrutura civil destruída por Tel Aviv, incluindo escolas, hospitais e casas.

Tais questões críticas foram empurradas a uma suposta segunda etapa das negociações — de difícil realização uma vez que Netanyahu mantém os ataques.

Israel sofre críticas diplomáticas e uma crise de relações públicas sem precedentes, em meio a protestos internos pela queda do governo.

Netanyahu é acusado de procrastinar ou sabotar um acordo em causa própria, receoso do colapso de seu governo de extrema-direita e de sua potencial prisão por três casos de corrupção em curso no judiciário israelense.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro, deixando 40.265 mortos e 93.144 feridos, além de dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, ao menos 16.400 são crianças.

Israel age em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança e medidas cautelares por fluxo humanitário contínuo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia de genocídio deferida em janeiro.

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