Um bebê de dez meses na Faixa de Gaza, sob genocídio conduzido por Israel, mostrou sintomas de paralisia infantil, como o primeiro caso da doença em 25 anos, reportou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira (23), ao reiterar apelos por uma campanha urgente de vacinação a todas as crianças com menos de dez anos.
As informações são da agência de notícias Reuters.
O poliovírus tipo 2 (cVDPV2), embora menos perigoso que os tipos 1 e 3, é responsável pela maioria dos surtos nos últimos anos, sobretudo em áreas de baixa vacinação.
A cobertura vacinal contra pólio nos territórios palestinos é, entretanto, historicamente alta, com 99% em 2022. A doença permaneceu erradicada em Gaza por duas décadas, mas, no fim de 2023, a cobertura caiu a 89%, no contexto da escalada israelense.
Agências da Organização das Nações Unidas (ONU) reivindicam uma pausa humanitária urgente, com duração de sete dias, para permitir a vacinação do território.
Nesta sexta, na rede social X (Twitter), destacou Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA): “A pólio não distingue crianças palestinas de crianças israelenses”.
“Postergar uma pausa humanitária aumentará o risco de propagação entre as crianças. Não basta apenas levar vacinas a Gaza e proteger a rede de fornecimento refrigerado. Para haver um impacto, as vacinas têm de acabar na boca de cada criança com menos de dez anos”, acrescentou Lazzarini.
Very sad. @WHO confirms that a 10-month-old baby in #Gaza is now paralysed due to #Polio. The first case in more than 25 years.
Polio will not make the distinction between Palestinian & Israeli children.
Delaying a humanitarian pause will increase the risk of spread among…— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) August 23, 2024
Embora estável, o bebê perdeu o movimento em sua perna esquerda, reportou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em comunicado.
Sua agência anunciou duas rodadas de vacinação contra a poliomielite dentre o fim de agosto e meados de setembro, em todo o território de Gaza, densamente povoado. Há receios, no entanto, de que a ofensiva israelense busque obstruir a campanha.
Serviços de saúde e saneamento em Gaza foram destruídos por mais de dez meses de bombardeios de Israel, deixando esgoto a céu aberto nos arredores de abrigos, campos e tendas superlotadas.
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Atualmente, apenas 16 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operantes, assim como 45 das 105 instalações de saúde primária.
A população sofre com surtos de doenças de pele e respiratórias, além de fome.
Saúde e genocídio
O Ministério de Saúde de Gaza confirmou o primeiro caso de poliomielite, em 25 anos, em um bebê de dez meses, há uma semana, na região central de Deir al-Balah.
O Hamas, em 16 de agosto, declarou apoio à pausa de sete dias proposta pela ONU. Tel Aviv não acatou, ao prometer apenas permitir a transferência das vacinas destinadas a cerca de um milhão de crianças.
A OMS prevê o envio de 1.6 milhões de doses; contudo, alerta para os riscos, incluindo propagação da doença para além das fronteiras.
Em 23 de julho, a OMS declarou “preocupação extrema” sobre um surto epidêmico de pólio após encontrar componentes de poliovírus tipo 2 em amostras de esgoto de Deir al-Balah e Khan Younis, assoladas pela guerra.
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A poliomielite é uma doença viral altamente contagiosa que atinge sobretudo crianças com menos de cinco anos, ao invadir o sistema nervoso. A pólio pode causar paralisias e sequelas permanentes, além de óbito por asfixia.
Os ataques indiscriminados de Israel a Gaza, desde outubro, deixaram ao menos 40 mil mortos, 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados até então. Dentre as fatalidades, ao menos 16.400 são crianças.
Hospitais, escolas e abrigos das Nações Unidas não foram poupados.
Israel ignora ainda medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana, além de resoluções por um cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
As ações israelenses constituem esforços de limpeza étnica, punição coletiva e crime de genocídio.
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