Ilhan Omar, parlamentar dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, condenou o que caracterizou como “humilhação” à qual se submeteu o secretário de Estado americano, Antony Blinken, ao voltar de Israel sem qualquer trégua em Gaza.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“Agora se perguntem, como é que nosso o secretário de Estado realiza 11 viagens a um país para implorar pelo fim de uma crise para a qual somos nós que fornecemos armas e bombas em primeiro lugar?”, declarou a representante de Minnesota a um evento do Movimento Não-Comprometido em Chicago, Illinois.
“Como é que permitimos ao nosso secretário de Estado que viaje a Israel e insista, pela 11ª vez, que estamos perto de um cessar-fogo, quando logo ao partir para o Egito, Bibi [primeiro-ministro israelense, Benjamin] Netanyahu convoca uma coletiva de imprensa para negar qualquer acordo?”, acrescentou.
“Por que é que não temos vergonha dessa humilhação que os representantes de nosso governo enfrentaram afinal?”, reiterou Omar. “Pois já não se trata apenas da hipocrisia de dizer que respeitamos a lei internacional — mas também a humilhação”.
Omar condenou o governo Biden por “se recusar a reconhecer a guerra genocida” que Israel impõe a Gaza.
“Trabalhar incansavelmente por um cessar-fogo não quer dizer nada e eles deveriam se envergonhar em repetir essas palavras, porque, afinal, somos nós que providenciamos as armas”, concluiu a deputada. “Logo, se querem realmente um cessar-fogo, parem de mandar armas a Israel”.
No mesmo evento, Cori Bush, deputada pelo Missouri, cuja reeleição foi impedida por grupos de lobby colonial sionista, conclamou a colegas democratas que preservem seus princípios e valores.
Bush destacou que mais de 40 mil homens, mulheres e crianças de Gaza foram mortos por “armas que nós — os Estados Unidos — fabricamos e pagamos”.
“Milhões de pessoas estão famintas, enfrentando bombardeios incessantes pelos quais os Estados Unidos pagam a conta”, denunciou Bush. “Elas se perguntam: por que é que continuamos a marchar e falar e chorar e exigir e ainda assim as bombas não param de chover?”
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As denúncias coincidem com a Convenção Nacional Democrata (DNC), em Chicago, que se encerrou nesta quinta-feira (22), ao confirmar a candidatura de Kamala Harris, atual vice-presidente, em lugar do incumbente Joe Biden, que deixou a corrida.
A Convenção foi marcada por marchas e protestos em solidariedade a Gaza por cessar-fogo, convocadas pelo Movimento Não-Comprometido e outros.
Eleitores progressistas, embora mais simpáticos a Harris, ainda alertam para abstenção caso não haja uma mudança programática do Partido Democrata em relação a Gaza. O nicho eleitoral foi crucial à vitória de Biden em 2020.
Blinken viajou ao Oriente Médio na semana passada, ao se reunir com diversos líderes, incluindo o premiê israelense Benjamin Netanyahu e o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi. Sua viagem se deu pelo pretexto das negociações indiretas por cessar-fogo — no entanto, sem resultado, devido às demandas “maximalistas” de Tel Aviv.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro, com apoio dos Estados Unidos, deixando mais de 40 mil mortos, 92 mil feridos e dois milhões de desabrigados até então. Entre as fatalidades, 16.400 mil são crianças.
O atual programa de Harris não menciona a mortalidade em Gaza.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro, e age em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança por desescalada e acesso humanitário.
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