Israel requereu o cancelamento do Acordo da Filadélfia assinado com o Egito em 2005, no contexto de sua retirada colonial de Gaza, relataram fontes à agência de notícias Al-Araby Al-Jadeed.
No lugar dos termos, Israel pretende introduzir emendas ao Acordo de Camp David, de 1978, que normalizou relações com o Egito, a fim de manter seu controle sobre a faixa de fronteira, que abarca Negev, Sinai e Gaza.
De acordo com os relatos, os emissários reivindicaram emendas por escrito com intuito de assegurar sua “supervisão das condições de segurança na área de fronteira, do lado palestino”.
A demanda israelense ocorreu durante reunião entre Israel, Egito e Estados Unidos, no começo da semana, na cidade do Cairo. Nas negociações, conduzidas sob o pretexto de buscar um cessar-fogo e troca de prisioneiros, Tel Aviv exigiu controle sobre o Corredor da Filadélfia e a travessia de Rafah.
As emendas a Camp David implicariam ainda autonomia israelense para intervir contra “ameaças de segurança” a qualquer momento, sem autorização da parte egípcia.
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As conversas — sem a participação do Hamas, principal interlocutor — não alcançaram resultados, sobretudo pelas novas exigências israelenses em termos militares, inéditas ao “processo de paz” em curso há meses.
O lado egípcio rejeitou a proposta e seus termos “surpreendentes”, ao insistir na plena retirada das tropas ocupantes e alertar: “Abrir um debate sobre emendas a Camp David levará a novas crises sob as quais o acordo pode colapsar, sobretudo à luz da crescente indignação no Egito sobre as práticas israelenses em Gaza”.
Oficiais egípcios prometeram, porém, asseverar garantias que impeçam a “exploração” da área de fronteira pelos grupos da resistência palestina no enclave sitiado.
Israel e Egito colaboram com o cerco militar contra a Faixa de Gaza, por mar, ar e terra, há 18 anos, sob restrições à economia, proibições de viagem e violações do direito de livre circulação da população civil, com impacto particular em doentes e estudantes.
No Egito, protestos de diferentes categorias contra o regime militar de Abdel Fattah el-Sisi — raros desde os massacres que consolidaram a ditadura — se mobilizaram contra o genocídio israelense em Gaza, ao reivindicar ações do Cairo.
Neste contexto, a emissora oficial do regime rapidamente negou, na segunda-feira (19), rumores da imprensa israelense de que o país havia concordado com os termos postos pelas forças ocupantes.
Segundo as fontes da Al-Araby Al-Jadeed, as negociações foram marcadas por “grande tensão entre os círculos militares relevantes do Serviço Geral de Inteligência do Egito, que supervisionam a pauta, antes de concordarem em uma visão unificada para negar por completo com qualquer presença israelense no Corredor da Filadélfia ou esforços para mover a travessia de Rafah de sua posição atual”.
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Por meses, Estados Unidos, Catar e Egito tentam mediar um acordo — contudo, sem a anuência do governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Netanyahu é acusado de procrastinar ou sabotar um acordo em causa própria, receoso do colapso de seu governo de extrema-direita e de sua potencial prisão por três casos de corrupção em curso no judiciário israelense.
Israel sofre críticas diplomáticas e uma crise de relações públicas sem precedentes, em meio a protestos internos pela queda do governo.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro, deixando 40.265 mortos e 93.144 feridos, além de dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, ao menos 16.400 são crianças.
Israel age em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança e medidas cautelares por fluxo humanitário contínuo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia de genocídio deferida em janeiro.