O príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman (MBS), forjou a assinatura de seu pai, o rei Salman, para empregar tropas de infantaria no Iêmen, alegou Saad al-Jabri, ex-oficial da coroa a um documentário da rede BBC.
Al-Jabri foi assessor sênior do então príncipe herdeiro Muhammad Bin Nayef (MBN) e figura chave na inteligência saudita, até a ascensão de Bin Salman.
Segundo seu relato, MBS — então ministro da Defesa — foi a principal força por trás da intervenção militar de 2015, com apoio de Washington, contra o movimento houthi no Iêmen, alinhado a Teerã.
Em The Kingdom: The World’s Most Powerful Prince — ou em tradução livre, O Reino: O príncipe mais poderoso do mundo —, insiste al-Jabri: “Começamos a guerra em março [de 2015] e MBS pedia intervenção por terra. MBN, então príncipe herdeiro, disse não. Nosso exército não era experiente e não sabíamos se era seguro assumir a missão”.
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“Foi assim que MBN emitiu um decreto ao rei para impedir quaisquer intervenções por terra”, acrescentou al-Jabri. “Mais tarde, fomos surpreendidos por um decreto real que permitiria as ações”.
O envolvimento da coalizão comandada por Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos no Iêmen resultou em 400 mil mortos e 4.5 milhões de deslocados, segundo números das Nações Unidas.
Bombardeios aéreos sauditas mataram ainda nove mil pessoas e feriram dez mil.
Al-Jabri deixou o reino em 2017 e se exilou no Canadá. O ex-assessor afirma ter fontes confiáveis no Ministério do Interior que corroboram o crime de falsidade ideológica por parte de MBS.
John Sawers, ex-chefe da agência de inteligência britânica MI6, declarou não ter ciência se a assinatura foi forjada, embora “esteja claro que intervir no Iêmen foi uma decisão de MBS”.
“Certamente não foi uma decisão de seu pai, apesar do rei seguir a deixa”, reafirmou.
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