O Reino Unido está vivenciando uma “fuga de cérebros” de muçulmanos instruídos de classe média devido ao surto de islamofobia que assola o país, advertiu Harris Bokhari, assessor do rei Charles sobre questões raciais.
Em artigo publicado pelo The Times na última semana, Bokhari destacou preocupações crescentes dentro da comunidade islâmica após ataques de núcleos de extrema-direita a casas, lojas, mesquitas e abrigos de refugiados no último mês.
Segundo Bokhari, ele mesmo e sua família consideraram deixar o país.
O assessor real reiterou que muitos profissionais altamente capacitados, com destaque a médicos e trabalhadores de saúde, compartilham as apreensões ou mesmo deixaram o país.
Para Iman Atta, diretor da ong Tell Mama, que monitora o ódio anti-islâmico, a ideia de deixar o Reino Unido já não representa mais um “pensamento marginal”. A associação registrou ao menos 500 incidentes de ódio contra muçulmanos, incluindo ameaças de morte e vandalismo contra centros islâmicos.
Fiyaz Mughal, cofundador da Tell Mama, residente britânico com histórico de combate tanto ao extremismo islâmico quanto ao supremacismo branco, declarou ver um medo “pervasivo” nas comunidades islâmicas, junto a planos para deixar a Europa.
Humza Yousaf, ex-primeiro-ministro da Escócia, e Sadiq Khan, atual prefeito de Londres, ecoaram as apreensões.
No início do mês, Yousaf questionou o futuro de sua família no Reino Unido, ao refletir sobre os pogroms de ultradireita: “Senti um horror absoluto. Não sei se meu futuro ou o futuro de minha esposa e meus três filhos estão mais na Escócia, no Reino Unido, na Europa ou sequer no Ocidente”.
Bokhari alertou também para o risco de populações jovens serem atraídas a ideários de extrema-direita e destacou a demanda por iniciativas como o Serviço Nacional Cidadão para promover coesão comunitária e combater o racismo.
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