O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, voltou às pressas a Ramallah, de sua viagem oficial à Arábia Saudita, após ataques israelenses ao norte da Cisjordânia ocupada, ao longo da madrugada desta quarta-feira (28).
Segundo informações da agência oficial Wafa, Abbas decidiu encerrar sua visita “devido à escalada de Israel no norte da Cisjordânia”, descrita como a maior ofensiva desde os ataques a Jenin, em 2002.
Ao menos 11 pessoas foram mortas pelo exército israelense nesta madrugada, segundo estimativas do Ministério da Saúde palestino, até então.
Abbas chegou à Arábia Saudita na segunda-feira (26), onde se reuniu com Mohammed Bin Salman, príncipe herdeiro e governante de facto da monarquia, no dia seguinte, no intuito de debater a conjuntura em Gaza.
Abbas e Bin Salman, conforme os relatos, discutiram esforços para cessar os ataques do regime israelense contra o povo palestino, não somente na Faixa de Gaza sitiada, como na Cisjordânia e em Jerusalém.
O presidente palestino advertiu para os riscos postos por declarações e ações de Israel no que diz respeito aos lugares sagrados islâmicos e cristãos nos territórios ocupados, sobretudo ameaças do ministro Itamar Ben-Gvir de derrubar a Mesquita de Al-Aqsa — terceiro lugar mais sagrado para o Islã — para dar lugar a uma sinagoga.
LEIA: Maior ofensiva em duas décadas: Israel mata ao menos 11 na Cisjordânia
Na manhã desta quarta, o ministro de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, reiterou que as operações militares na Cisjordânia devem incluir a “evacuação temporária [sic] dos residentes palestinos”, fomentando receios de anexação ilegal das terras.
Abbas também apresentou um plano para que Bin Salman visite Gaza com membros da Autoridade Palestina, como parte das ações para “parar o genocídio, garantir a retirada das tropas israelenses e reafirmar a plena soberania do Estado da Palestina sobre todas as terras palestinas, incluindo Gaza e Cisjordânia”.
Em meados de agosto, o líder palestino octogenário afirmou ao parlamento da Turquia ter intenções de visitar Gaza, ao instar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a comunidade internacional a prover meios de apoio à viagem.
Ambos os líderes destacaram ainda a importância de ações políticas dos países árabes para amplificar o reconhecimento internacional do Estado palestino e obter sua adesão completa à ONU.
Bin Salman ressaltou a posição saudita de apoio aos direitos palestinos com base na lei internacional.
A Arábia Saudita, sob Bin Salman, parecia próxima de normalizar relações com Israel no último ano, mas a deflagração do genocídio em Gaza parece ter descarrilado um pacto entre as partes, que representaria um golpe à causa palestina.
Diante dos ataques desta quarta, Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do gabinete de Abbas, alertou para resultados “graves e perigosos” das ações israelenses — em particular, em um contexto de apreensão sobre propagação da guerra.
Nos últimos anos, o exército israelense tem conduzido operações regulares nas aldeias e cidades ocupadas da Cisjordânia, com uma escalada sem precedentes no contexto do genocídio em Gaza, desde 7 de outubro, com 40 mil mortos e 90 mil feridos.
Neste período, disparos israelenses deixaram ao menos 662 mortos e 5.400 feridos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, além de dez mil detidos em uma campanha hostil que dobrou a população carcerária palestina.
Parte considerável dos palestinos nas cadeias da ocupação continua em custódia sem julgamento ou sequer acusação — reféns por definição.
Em 19 de julho, em decisão histórica, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, admitiu como “ilegal” as décadas de ocupação israelense em terras palestinas e exigiu evacuação imediata de todos os assentamentos e reparações aos nativos.