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As falhas geopolíticas revelam uma complexa luta por influência e controle no sul do Cáucaso

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, o ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, e o ministro das Relações Exteriores da Armênia, Ararat Mirzoyan, participam da reunião da Plataforma de Cooperação Regional para Paz e Estabilidade Duradouras no Sul do Cáucaso em Teerã, Irã, em 23 de outubro de 2023 [Fatemeh Bahrami /Agência Anadolu].
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, o ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, e o ministro das Relações Exteriores da Armênia, Ararat Mirzoyan, participam da reunião da Plataforma de Cooperação Regional para Paz e Estabilidade Duradouras no Sul do Cáucaso em Teerã, Irã, em 23 de outubro de 2023 [Fatemeh Bahrami /Agência Anadolu].

À medida que a guerra na Ucrânia remodela a geopolítica global, o sul do Cáucaso surge como um palco crítico na disputa mais ampla entre a Rússia e o Ocidente. Os Estados Unidos e a União Europeia intensificaram os esforços para remodelar a região, combatendo a influência de Moscou e garantindo ganhos estratégicos. Com os recentes acontecimentos na Armênia, na Geórgia e em outros países, os riscos são maiores do que nunca para a Rússia, e as consequências podem redefinir o equilíbrio de poder na Eurásia.

A Armênia está passando por uma profunda transformação em sua política externa. Tradicionalmente alinhada com a Rússia por meio de estruturas de segurança como a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), a Armênia está cada vez mais voltada para o Ocidente. Essa mudança é motivada pela insatisfação com a percepção de inação de Moscou durante o conflito de Nagorno-Karabakh em 2020 e as tensões subsequentes com Baku.

Os EUA aproveitaram essa oportunidade aumentando o envolvimento diplomático e econômico com Yerevan. A visita do Secretário Assistente dos EUA para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, James O’Brien, à Armênia sinalizou a intenção de Washington de reforçar os laços bilaterais e apoiar as negociações da Armênia com Baku. Os EUA aproveitaram a Declaração de Alma-Ata como base para a delimitação de fronteiras, com o objetivo de facilitar um acordo de paz duradouro que poderia reduzir o papel da Rússia como principal garantidor da segurança na região.

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Além disso, os EUA supostamente aumentaram seu envolvimento nos setores de defesa e segurança da Armênia, incluindo apoio diplomático, consultas militares e esforços para expandir as capacidades de defesa da Armênia por meio de parcerias com nações ocidentais como a França. Essas medidas foram criadas para reduzir gradualmente a dependência da Armênia do apoio militar russo, sinalizando uma possível mudança de longo prazo no alinhamento geopolítico da região. Esses esforços parecem estar dando frutos, pois o governo armênio pediu aos guardas de fronteira russos que se retirassem das regiões de Tavush, Syunik, Vayots Dzor, Gegharkunik e Ararat.

No entanto, o governo armênio continua cauteloso em se distanciar totalmente da Rússia, especialmente ao se retirar da CSTO, já que Yerevan considera frágeis as negociações de paz com Baku, enfrentando uma crescente pressão interna para manter o diálogo com Moscou e a possível reeleição de Donald Trump em novembro, o que poderia reverter a política de Joe Biden para a Armênia.

Enquanto isso, a UE tem desempenhado um papel significativo ao aprofundar seus laços econômicos com a Armênia por meio do Acordo de Parceria Abrangente e Aprimorado (CEPA). Esse acordo, implementado integralmente em 2021, ajudou a Armênia a diversificar seus parceiros econômicos e a reduzir a dependência do comércio russo. A UE também enviou missões civis ao longo da fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão, afirmando ainda mais sua influência na região e desafiando o papel tradicional da Rússia como principal mediador.

A Geórgia já é o estado mais pró-ocidental do sul do Cáucaso e é fundamental para a estratégia dos EUA e da UE.

A próxima eleição parlamentar do país pode acelerar sua integração com a OTAN e a UE, especialmente se as forças pró-ocidentais consolidarem o poder. Isso enfraqueceria significativamente a influência da Rússia, principalmente se a Geórgia acelerar suas políticas de “desrussificação” e se alinhar mais estreitamente com as instituições ocidentais.

Entretanto, o atual governo da Geórgia, liderado pelo partido Georgian Dream, tem mantido uma abordagem cautelosa. Embora continue a buscar a adesão à UE, tem evitado o confronto direto com Moscou, refletindo um delicado equilíbrio em sua política externa. A “lei de agente estrangeiro” do partido sinaliza para a Rússia que o atual governo não pretende transformar o país em uma linha de frente contra Moscou.  Os georgianos parecem ter aprendido uma lição cara com a invasão russa de 2008 na Abkhazia e na Ossétia do Sul, bem como com o conflito em andamento na Ucrânia, ressaltando os perigos de se tornar um campo de batalha para rivalidades geopolíticas.

O papel da Turquia no Azerbaijão se tornou um componente essencial da estratégia ocidental mais ampla para limitar a influência russa no sul do Cáucaso e na Ásia Central. Atuando como membro da OTAN e principal aliado dos EUA, a Turquia se posicionou como um parceiro fundamental para o Azerbaijão, exercendo significativa influência econômica, militar e cultural. Esse relacionamento está enquadrado no conceito do “Mundo Turco”, uma ambição geopolítica que busca conectar as nações de língua turca da Turquia à Ásia Central. Entretanto, devido à falta de bases históricas profundamente enraizadas, essa ambição tem lutado para formar uma estrutura ideal para atingir seus objetivos.

Militarmente, o apoio da Turquia foi fundamental durante o conflito de Nagorno-Karabakh em 2020, quando drones turcos e assistência militar desempenharam um papel decisivo na vitória do Azerbaijão. Essa parceria militar fortaleceu as capacidades de defesa de Baku, reduzindo sua dependência de armas russas e garantindo uma postura de segurança mais independente.

Armênia/Azerbaijão lutando contra a fúria [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Do ponto de vista econômico, a Turquia e o Azerbaijão são atores importantes em projetos de infraestrutura de energia, como o Corredor de Gás do Sul e o gasoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, que são cruciais para reduzir a dependência da Europa em relação à energia russa. Esses projetos fazem parte de uma iniciativa maior para estabelecer rotas alternativas que conectem a Ásia Central à Europa por meio do sul do Cáucaso, contornando os territórios controlados pela Rússia.

A Turquia está promovendo vínculos econômicos e culturais mais profundos com o Azerbaijão e, ao mesmo tempo, usando a estrutura do “Mundo Turco” para ampliar seu alcance na Ásia Central, alinhando-se aos objetivos ocidentais de combater a influência russa e chinesa na região.

Essa estratégia de alavancar a influência da Turquia se alinha aos esforços ocidentais mais amplos para remodelar o cenário geopolítico em toda a Eurásia, distanciando ainda mais o Azerbaijão da Rússia. No entanto, parece que Baku está pensando em ampliar o papel da Rússia na dinâmica regional, já que o presidente Ilham Aliyev recebeu o presidente Vladimir Putin este mês. Esse movimento de Baku parece ter como objetivo sinalizar o descontentamento dos EUA e da UE em relação ao seu apoio limitado à Armênia. Além disso, o Azerbaijão está insatisfeito com a possível reabertura da fronteira da Armênia com a Turquia sem atender às exigências de Baku. A reabertura da fronteira entre Yerevan e Ancara, sugerida pelo Ocidente, não se alinha aos interesses nem da Rússia nem do Azerbaijão, o que poderia servir como outro ponto de convergência para Baku e Moscou.

Os acontecimentos recentes representam desafios significativos para a Rússia, pois sua influência no sul do Cáucaso e na Ásia Central enfrenta uma pressão cada vez maior das potências ocidentais que avançam em seus interesses estratégicos. A principal questão é como Moscou responderá a essas invasões. Ela intensificará sua influência militar e econômica ou buscará novas alianças para contrabalançar a crescente influência do Ocidente?

A Rússia se vê diante de duas possíveis estratégias.

Primeiro, dada a insatisfação do Azerbaijão com a posição ocidental sobre o conflito Yerevan-Baku – exemplificada pela próxima visita do presidente francês Macron à Armênia – Putin aproveitou o momento para fortalecer os laços com Aliyev. Durante uma visita de dois dias a Baku, ele enfatizou o papel da Rússia na mediação das negociações de paz entre o Azerbaijão e a Armênia. Simultaneamente, em um esforço para exercer pressão sobre a Armênia, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, criticou a liderança de Yerevan pelo que ele chamou de fracasso em estabelecer o Corredor Zangezur.

A segunda opção de Moscou envolve o aumento da influência iraniana no sul do Cáucaso como uma possível estratégia para conter a invasão ocidental, já que os iranianos veem a influência dos EUA na região como uma ameaça. No entanto, as observações de Lavrov sobre o Corredor Zangezur representam uma ameaça direta à segurança nacional do Irã, já que Teerã tem afirmado constantemente que nunca permitirá sua criação.

Aqui reside um notável conflito de interesses entre o Irã e a Rússia. Se o Ocidente quiser minar essa vantagem russa, deve adotar uma abordagem pragmática focada em distanciar Teerã de Moscou, em vez de exercer uma pressão inútil sobre Teerã relacionada ao apoio incondicional a Tel Aviv em meio à guerra de Gaza ou permitir o aumento da presença israelense em Baku, ações que Teerã percebe como ameaças à sua segurança nacional.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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