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Israel cria cargo para gestão militar de Gaza, sugere ocupação prolongada

Destruição deixada por ataques israelenses a Deir al-Balah, no centro de Gaza, em 29 de agosto de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

Herzi Halevi, chefe do Estado-maior do exército de Israel, nomeou nesta terça-feira (27) o tenente-coronel Elad Goren como chefe dos Esforços Civis e Humanitários para Gaza, título inédito entre as forças ocupantes.

A criação do cargo se deu após reunião entre as partes e o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, responsável pelo cerco militar a Gaza — “sem comida, água, eletricidade ou medicamentos”.

As informações foram corroboradas pelo jornal The Jerusalem Post.

Goren será responsável pela “integração e implementação dos esforços humanitários em Gaza e da coordenação com a comunidade internacional”, conforme os “interesses de segurança do Estado de Israel”, segundo comunicado.

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O novo cargo, sob a alçada da Coordenação do Governo para Atividades nos Territórios [Ocupados] (Cogat), agência militar incumbida da gestão civil, inclui uma promoção ao ranking de brigadeiro-general.

Goren já desempenhava um cargo equivalente à frente da Cogat, ao adotar abordagem restritiva às ações humanitárias, incluindo ao tentar transferir a culpa pela restrição de acesso às Nações Unidas e outras agências, em vez do embargo israelense.

Goren chegou a acusar comboios de alimentos cuja passagem foi indeferida por forças israelenses em Gaza de “conter materiais que o [movimento] Hamas poderia usar para suas atividades terroristas [sic]”.

A indicação, no entanto, sugere uma mudança institucional, ao perpetuar um cargo de gestão militar em Gaza que implica ocupação de longo prazo.

Conforme Yoav Zeiton, correspondente militar da rede israelense Ynet News, a medida “simboliza a ocupação israelense de facto da Faixa de Gaza pelos próximos anos”.

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Segundo a análise, o novo cargo de Goren equivale a “oficial-chefe de Gaza”, similar a um governador, “responsável por comida, combustível e infraestrutura a dois milhões de pessoas em termos de longo prazo”.

“[Goren] é o nosso empreiteiro”, comentou Zeiton. “Nosso envolvimento em Gaza deve apenas aumentar”.

A nomeação incitou, porém, disputas internas, à medida que o Comando Sul exige para si o controle civil-militar da Faixa de Gaza, a fim de supostamente alinhar manobras por terra e missões operacionais ao longo da fronteira.

“Assim como o papel de administrar a população palestina, este papel deveria recair ao Comando Sul”, insistiu uma fonte, em condição de anonimato.

Neste entremeio, Gaza vive uma catástrofe humanitária, sob cerco israelense somado a bombardeios indiscriminados que deixaram, até então, ao menos 40 mil mortos, 90 mil feridos e dois milhões desabrigados.

Hospitais, escolas, redes de esgoto e saneamento, abrigos das Nações Unidas, campos de refugiados e rotas assistenciais não foram poupadas.

Israel age em desacato de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia de genocídio deferida em janeiro.

A mesma corte determinou, em decisão histórica, em 19 de julho, que a presença das forças israelenses e seus colonos na Cisjordânia é “ilegal”, de modo que uma extensão da ocupação a Gaza seria proscrita por jurisprudência.

Israel ignora também uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas por negociações por um cessar-fogo, assim como demandas da comunidade internacional para encerrar sua campanha e se retirar de Gaza.

Alertas apontam para objetivos militares de anexação territorial.

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