A delegação israelense que chegou a Doha, capital do Catar, na quarta-feira (28), sob o pretexto de negociações críticas por um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros em Gaza, deixou a cidade sem qualquer acordo.
Segundo o jornal Haaretz, a equipe de negociação de Israel, constituída por emissários de alto escalão das agências de inteligência Mossad e Shin Bet, assim como oficiais do exército, retornou a Tel Aviv nesta sexta-feira (30).
“Não houve quaisquer avanços nas conversas”, destacou a reportagem, sobretudo após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reforçar demandas por controle de vias essenciais em Gaza, com enfoque para o Corredor da Filadélfia — na fronteira com o Egito — e o Corredor Netzarim — que separa norte-sul.
Netanyahu impôs novas condições a um acordo nas últimas semanas, que implicam na ocupação de longo prazo do enclave palestino e obstruções ao retorno dos refugiados, com alertas para potencial anexação ilegal e assentamento de colonos.
Entre as demandas de Israel, está o controle militar da travessia de Rafah, no extremo sul do enclave, que representa atualmente o principal acesso humanitário à população palestina carente, sob grave crise de fome.
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Netanyahu é acusado de sabotar as negociações em causa própria, sob receios de que um cessar-fogo resulte no colapso de seu governo e sua eventual prisão por três casos de corrupção, aos quais responde no judiciário israelense.
Estados Unidos, Catar e Egito atuam há meses como mediadores de conversas indiretas entre Israel e Hamas, sob pressão internacional crescente por um cessar-fogo e alertas para a potencial propagação da guerra em âmbito regional.
O Hamas, em maio, confirmou seu anseio em colaborar com uma proposta escalonada de cessar-fogo anunciada por Washington. Tel Aviv, contudo, rechaçou o esquema, ao insistir em manter os bombardeios a Gaza mesmo em caso de acordo.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro, deixando 40 mil mortos e 90 mil feridos até então, além de dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses se dão ainda em desacato de medidas cautelares por desescalada e assistência humanitária do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana de genocídio deferida em janeiro.