A campanha de larga escala de Israel contra a Cisjordânia “arrisca gravemente degradar ainda mais a já catastrófica situação nos territórios palestinos ocupados”, alertou nesta quarta-feira (28) Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Em nota por escrito, reafirmou a porta-voz da agência: “Tamanho uso desproporcional e desnecessário da força — além do aparente aumento de ataques diretos e execuções sumárias — é alarmante”.
Sobre as fatalidades — entre nove e 11 no primeiro dia, somando 630 vítimas no total —, acrescentou a oficial: “Trata-se de um recorde em um período de oito meses, desde que a ONU passou a registrar as baixas na Cisjordânia duas décadas atrás”.
Crianças palestinas são mortas ao atirarem pedras em oficiais altamente protegidos, assim como outros cidadãos que não representam qualquer ameaça iminente de vida ou ferimentos graves [aos soldados].
Shamdasani observou também que milhares de palestinos sofrem violações cotidianas, incluindo prisões arbitrárias, tortura, violência de colonos, restrições das liberdades de movimento e expressão, destruição de propriedades e deslocamento à força.
O comunicado somou apelos a Tel Aviv para que “cumpra suas obrigações sob o direito internacional”, ao apontar que “o uso de ataques aéreos e outros armamentos e táticas de guerra [contra civis] violam as normas de direitos humanos e os padrões aplicáveis a tais operações de policiamento”.
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“Execuções ilegais devem ser investigadas detalhada e independentemente”, concluiu o alerta. “Os responsáveis devem então ser levados à justiça”.
A campanha israelense contra a Cisjordânia teve início nesta quarta contra três regiões críticas: Jenin, Tulkarem e o campo de refugiados de Far’a, perto de Tubas. A operação representa a maior ofensiva de Israel na região em mais de duas décadas.
Pela manhã, o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, apregoou que as ações na Cisjordânia devem compreender a “evacuação temporária [sic] dos residentes palestinos”, fomentando receios de anexação ilegal das terras.
Os avanços israelenses, no entanto, seguiram na noite de quinta-feira (29) rumo ao sul de Belém; ao campo de refugiados de Arroub, no norte de Hebron (al-Khalil); à cidade de Nablus; e à aldeia de Nabi Saleh, a noroeste de Ramallah.
Estima-se ao menos 18 mortos em dois dias.
Nos últimos anos, o exército israelense tem conduzido operações regulares nas aldeias e cidades ocupadas da Cisjordânia, com uma escalada sem precedentes no contexto do genocídio em Gaza, desde outubro — com 40 mil mortos e 90 mil feridos.
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Neste período, disparos israelenses deixaram ao menos 662 mortos e 5.400 feridos na Cisjordânia, além de dez mil detidos em uma campanha hostil que dobrou a população carcerária palestina, sobretudo presos arbitrariamente.
Em 19 de julho, em decisão histórica, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, admitiu como “ilegal” as décadas de ocupação israelense em terras palestinas e exigiu retirada imediata de tropas e colonos e reparações aos nativos.