Francesca Albanese, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os territórios palestinos ocupados, condenou nesta sexta-feira (30) os pretextos adotados por Israel para executar sua ofensiva desta semana contra a Cisjordânia.
Albanese destacou que a alegação de “autodefesa” para os avanços coloniais na região é absolutamente nula.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Israel lançou sua maior ofensiva militar em duas décadas contra a Cisjordânia durante a madrugada de quarta-feira (28), a começar pelas cidades de Tulkarem, Nablus e Tubas, no norte do território, e avançar rumo a Jenin, Belém e mesmo Ramallah.
Dados atualizados desta sexta estimam ao menos 19 palestinos mortos pela campanha israelense, que se soma à escalada de violações e pogroms junto ao genocídio na Faixa de Gaza desde outubro — com 40 mil mortos e 90 mil feridos.
Na Cisjordânia, são em torno de 670 mortos e 5.400 feridos no mesmo período, junto a dez mil novos prisioneiros políticos, detidos por uma violenta campanha que dobrou a população carcerária palestino em menos de 11 meses.
LEIA: Em campanha na Cisjordânia, Israel prepara invasão a hospital em Jenin
A maioria dos palestinos presos carece de julgamento e sequer acusação — reféns, por definição.
“Israel alega que seus avanços na Cisjordânia se justificam sob a lei de autodefesa. Essa alegação, porém, não tem qualquer validade”, explicou Albanese na plataforma de rede social X (Twitter).
Albanese reiterou que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, julgou há 20 anos que Israel não pode invocar a “autodefesa” para ações nas terras ocupadas, conforme decisão embasada no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas sobre o Muro do Apartheid que corta a Cisjordânia.
Albanese notou ainda a posição recente da corte em Haia que confirma que “a própria presença de Israel nos territórios palestinos ocupados é, por si só, ilegal”.
A relatora das Nações Unidas enfatizou que “como uma ação contínua ilegal de uso da força, a ocupação israelense nos territórios palestinos não pode se justificar, de forma nenhuma, por qualquer afirmação de autodefesa”.
LEIA: Escalada israelense na Cisjordânia arrisca catástrofe, alerta agência da ONU
Albanese condenou a manipulação da lei internacional por Israel: “Esta distorção da lei de autodefesa deve ser reconhecida pelo que é: uma tentativa descarada de prover um verniz de ‘legalidade’ à manutenção da agressão ilegal contra a integridade territorial e a independência política do Estado da Palestina”.
Segundo a relatora, a retirada das tropas e colonos israelenses dos territórios ocupados é fundamental para alcançar segurança genuína.
“Caso Israel realmente queira conquistar a segurança de que fala, o caminho melhor e mais evidente para isso seria cessar sua colonização de terras alheias, retirar-se delas e conduzir as reparações apropriadas pelos danos causados — como requerido por Haia —, além de garantir um pedido de desculpas às vítimas”, concluiu Albanese.
Em 19 de julho, o TIJ reconheceu, em decisão histórica, a “ilegalidade” das décadas de ocupação militar israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ao ordenar total e imediata evacuação dos assentamentos e indenizações aos nativos.