Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), alertou nesta sexta-feira (30) que o tempo acordado para uma campanha de imunização contra a poliomielite na Faixa de Gaza “provavelmente não basta” para atingir uma cobertura vacinal adequada.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
A campanha de vacinação contra a pólio para crianças abaixo de dez anos em Gaza terá início neste domingo, com um prazo de três dias para cada área, em sequência: centro, sul e norte — com encerramento previsto entre 9 e 12 de setembro.
Partes em conflito prometeram respeitar pausar humanitárias localizadas para permitir o acesso das famílias às instalações de saúde e equipes remotas incumbidas de realizar a vacinação. Há receios, no entanto, de obstruções por parte de Israel.
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“Devido à insegurança, danos às estradas e à infraestrutura, restrições ao movimento e o deslocamento das pessoas, um prazo de três dias para cada área provavelmente não basta para alcançar a cobertura adequada”, preconizou Ghebreyesus a jornalistas.
“A cobertura vacina será monitorada por toda a campanha e foi acordado que as ações de imunização serão estendidas em um dia caso necessário”, acrescentou.
Ghebreyesus destacou que as equipes de vacinação devem ser protegidas e permitidas a conduzir seu trabalho com segurança e instou proteção aos trabalhadores, centros de saúde e também às crianças.
“Pausas humanitárias são bem-vindas — contudo, em último caso, a única solução para assegurar a saúde das crianças é um cessar-fogo”, repetiu Ghebreyesus.
Nesta sexta, em informe às Nações Unidas, Rik Peeperkorn, representante da OMS nos territórios palestinos ocupados, confirmou que a campanha contará com duas doses de vacina contra a pólio tipo 2 (nOPV2), por via oral, com público-alvo de 640 mil crianças com menos de dez anos.
Segundo Peeperkorn, em torno de 1.26 milhão de doses foram entregues a Gaza, junto a 500 carregadores refrigerados. Outras 400 mil vacinas devem chegar em breve. Mais de 2.180 profissionais de saúde e agentes comunitários foram treinados para realizar a campanha e informar as famílias sobre os esforços.
Em 16 de agosto, o Ministério da Saúde de Gaza confirmou o primeiro caso de pólio no território palestino em 25 anos, na cidade de Deir al-Balah, diagnosticado em um bebê de então dez meses de idade, não vacinado devido ao cerco.
Em julho, a OMS manifestou “preocupação extrema” sobre um surto epidêmico depois de encontrar componentes de poliovírus tipo 2 (cVDPV) em amostras de esgoto de Deir al-Balah e Khan Younis.
A cobertura de vacinação contra poliomielite nos territórios palestinos é notavelmente alta, com 99% em 2022 — porém, registrou queda a 89% no final de 2023, no contexto da escalada israelense.
Casos de hepatite A, difteria e gastroenterite também atingem a população, devido às condições sanitárias em Gaza, em particular, esgoto a céu aberto próximo aos campos de refugiados superlotados, sob sucessivos bombardeios de Israel.
Atualmente, apenas 16 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operantes, assim como 45 das 105 instalações de saúde primária.
Os ataques indiscriminados de Israel a Gaza deixaram ao menos 40 mil mortos, 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, 16.400 mil são crianças.
Em mensagem na rede social X (Twitter), a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) reafirmou: “Não é possível vacinar crianças que fogem por suas vidas. Qualquer operação militar durante a campanha em Gaza afetará a capacidade da ONU e de seus parceiros de vaciná-las”.
“Repercussões serão ‘desastrosas’”, prosseguiu a UNRWA, “não apenas para as crianças de Gaza, mas para toda a região, já bastante abalada por esse conflito”.
Israel age em desacato de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia deferida em janeiro, além de resoluções por um cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
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