O Iêmen registrou recordes negativos de consumo alimentar, em escala global, no mês de julho, advertiu o Programa Alimentar Mundial (PAM), filiado à Organização das Nações Unidas (ONU).
Em sua atualização mensal sobre a crise no Iêmen, o PAM reportou que 62% dos lares no Iêmen registraram consumo alimentar insuficiente em julho — maior índice jamais documentado. Para as áreas sob controle do governo no exílio, que recebe apoio saudita, os índices são de 64% das famílias, contra 61% sob gestão houthi.
Conforme os dados, a taxa de carência severa chegou a um ápice de 36% entre os lares de ambas as áreas, com índices maiores, no entanto, nas regiões sob gestão do movimento houthi (79%), contra 51% do lado oposto.
Em contrapartida, crianças são mais vitimadas pela fome em áreas controladas pelo governo, deposto da capital Sanaa em 2014, em favor do grupo houthi.
Quatro novas áreas foram demarcadas em estágio bastante crítico de desnutrição, destacou o alerta.
As regiões mais afetadas, segundo o PAM, são: Al Jawf, Hajjah, Hudaydah e al-Mahwit, administradas pelos houthis; Hadramaute, controlada pelo governo; e Taiz, cuja jurisdição se divide entre as partes.
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O PAM identificou quatro fatores principais para a insegurança alimentar: deterioração das condições econômicas; atrasos na entrega de ajuda humanitária; falta de oportunidades de trabalho e subsistência; e início da temporada de seca.
A crise se intensificou, no entanto, por inundações devastadoras que atingiram diversas províncias entre julho e agosto.
Segundo um relatório de Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), são esperados níveis “graves” de desnutrição aguda em todos os 117 distritos controlados pelo governo.
O relatório alertou ainda que mais de 180 mil menores de cinco anos e 223 mil mulheres grávidas e lactantes devem sofrer desnutrição grave até o final de 2024.
Para Peter Hawkins, representante nacional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a situação é mais crítica do que nunca.
Hawkins sinalizou, neste sentido, uma “tendência alarmante de desnutrição aguda para crianças no sul” e reforçou apelos por proteção às mulheres e crianças vulneráveis, através de “maiores investimentos e esforços de prevenção e tratamento”.
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As tempestades e enchentes levaram a baixas e mortes em todo o Iêmen — empobrecido por quase dez anos de conflito, incluindo intervenção externa da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos e, mais recentemente, ataques aéreos de Israel, Estados Unidos e Grã-Bretanha.
Segundo as Nações Unidas, metade da população do país, ou 18.2 milhões de pessoas, dependem de ajuda humanitária para sobreviver.
Os dilúvios causados pelas chuvas sazonais — intensificadas pelas mudanças climáticas — mataram dezenas no país e afetaram ao menos 250 mil deslocados internos desde o fim de julho, segundo estimativas das Nações Unidas.