O exército israelense destruiu cerca de 70% das ruas e da infraestrutura civil da cidade de Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada, durante quatro dias de operação militar, reportou no sábado (31) a prefeitura palestina, segundo informações da agência Anadolu.
“As forças da ocupação destruíram por completo ao menos 70% das ruas da cidade com aproximadamente um ponto devastado a cada um metro e meio, levando à destruição das redes de água e esgoto, assim como cabos de comunicação e luz, nas áreas demolidas — estimadas, a princípio, em cerca de 20 km”, reportou a agência de notícias Wafa, ao citar Bashir Matahen, diretor de Imprensa e Relações Públicas da prefeitura de Jenin.
“O abastecimento de água foi cortado em 80% da cidade e todo o campo [de refugiados], devido à destruição das redes e incapacidade das equipes técnicas de alcançá-las para redirecioná-las a outras áreas”, prosseguiu Metahen. “As equipes da prefeitura estão sem acesso às redes danificadas, apesar de suas tentativas, submetidas a disparos das forças israelenses”.
O oficial palestino destacou ainda que soldados “incendiaram partes do mercado central de vegetais de Jenin, e estimativas iniciais dos danos ao local e suas lojas indicam graves prejuízos, além da destruição de centenas de casas e veículos”.
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Nidal al-Obaidi, prefeito de Jenin, comparou a campanha israelense a um “terremoto”, ao prever danos estimados em 500 milhões de shekels (US$135.2 milhões).
Dentre as instalações deliberadamente destruídas, está um estádio municipal de futebol, confirmou a Associação de Futebol da Palestina, ao publicar vídeos dos danos ao campo e às arquibancadas, transformadas em ruínas por tratores militares.
Conforme a federação, o ataque constitui flagrante violação das normas internacionais no que diz respeito à proteção dos centros desportivos e do direito da população, sobretudo jovens, a praticar esportes.
A organização reforçou seus apelos a entidades globais para que sancionem a ocupação israelense por seus crimes de guerra e lesa-humanidade.
Em maio, durante o 74º Congresso da FIFA em Bangkok, Jibril Rajoub, presidente do órgão desportivo palestino, pediu “sanções apropriadas” contra todas as equipes israelenses —incluindo clubes e a seleção nacional.
A Federação Internacional de Futebol (FIFA) adiou duas vezes a deliberação, primeiro a 31 de agosto e, nesta segunda-feira (2), novamente a outubro — porém, sem data específica até o momento.
O primeiro adiamento, em julho, permitiu à seleção israelense competir na fase de grupos do torneio masculino de futebol dos Jogos Olímpicos de Paris.
A Confederação de Futebol Asiática (AFC) declarou apoio à solicitação palestina.
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No Brasil, coletivos pró-Palestina — como Frente Palestina São Paulo, Juventude Sanaúd, BDS Brasil, entre outros — lançaram uma campanha para que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol) se somem às denúncias.
A eventual suspensão de Israel na FIFA tem precedente.
Em 1961, a entidade desportiva baniu a África do Sul devido ao apartheid; em 1992, foi a vez da Iugoslávia, sob gestão sérvia, por suas violações nos Balcãs, após a estipulação de sanções da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 2022, a FIFA e a União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) — à qual Israel é filiado, apesar de ser situado na Ásia — agiram rapidamente para suspender a Rússia por sua invasão militar contra a Ucrânia.
A campanha de boicote ao apartheid israelense transcende os torneios da FIFA a outras federações esportivas, incluindo o Comitê Olímpico Internacional (COI).
Na última quarta-feira (28), o exército de Israel lançou sua maior ofensiva militar contra o norte da Cisjordânia desde 2002, com ataques às cidades de Tulkarm e Jenin e ao campo de refugiados de al-Far’a, na região de Tubas, deixando 22 mortos.
Tensões permanecem altas na Cisjordânia ocupado no contexto do genocídio em Gaza — com ao menos 40 mil mortos, 94 mil feridos e dois milhões de desabrigados em somente 11 meses. Na Cisjordânia, são 675 mortos, 5.400 feridos e 10.300 presos arbitrariamente.
Em 19 de julho, em decisão histórica, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, determinou como ilegal que a ocupação de décadas de Israel nas terras palestinas, ao ordenar retirada imediata e reparações aos palestinos nativos.
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Israel ignora medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e resoluções de cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas ao manter suas operações indiscriminadas contra Gaza desde 7 de outubro.
O Estado israelense é réu por genocídio no tribunal em Haia, sob denúncia sul-africana, deferida em janeiro. Entre as medidas desacatadas, está a suspensão de sua campanha em Rafah, no extremo sul de Gaza, que abriga hoje até 1.5 milhão de palestinos.