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O Fórum Econômico de Vladivostok como pilar do crescimento econômico asiático

Porto de Vostok, Russia [Fórum de Vostok]

O Distrito Federal do Extremo Oriente é uma unidade da Federação Russa governada por um presidente local plenipotenciário (Yuri Trutnev) e tem como meta estratégica realizar a integração econômica dentro do eixo do desenvolvimento da Ásia Pacífico. Todos os anos é realizado o Fórum Econômico do Oriente, uma realização da Fundação RosCongress, tentando atrair mais investimentos, agências governamentais, terceiro setor, universidades e operadores de finanças (não dolarizados) de modo a fazer que a Península de Muravyiv-Amursky uma das pontas ativas da tríplice fronteira de Rússia, China e Coreia do Norte.

A República Popular da China vem construindo um megahub na cidade portuaria de Dalian (na província de Lioaning, cuja capital é Shenyang). Esta base portuária é um complemento do porto de Tianjin (que serve quase que exclusivamente ao circuito econômico de Beijing, capital do país) e opera como um concorrente direto do porto japonês de Yokohama. O crescimento do nordeste da China é vertiginoso e podemos afirmar que se trata do centro dinâmico da economia da costa pacífica no momento. Não é por acaso que a Rússia tenta de todos os modos se integrar economicamente nestes circuitos e fazer com que sua marinha opere como força de contenção da frota mercante pelas rotas do Pacífico Norte e pré-Ártico.

O Fórum Econômico do Oriente e as zonas avançadas sócio econômicas especiais

Um dos fatores que elevam a importância do Fórum de Vladivostok é a difusão das Zonas Avançadas Sócio Econômicas Especiais da Rússia (ASEZ). A meta é desenvolver a Sibéria, a zona Ártica (AZRF), a Ilha de Russky (SAR) e as vinte e duas localidades com status de ASEZ dentro do Distrito Especial do Extremo Oriente Russo. São 8 milhões e 100 mil habitantes do Distrito, população esta atendida por uma série de políticas especiais voltadas para a produção industrial e a integração junto da economia do Pacífico.

A Rússia visa atrair investimento estrngeiro direto (sem o uso do dólar, considerando os bloqueios e sanções impostos por Washington) e tem uma política específica para o Ártico e o Extremo Oriente. Uma das vitrines para atração de investidores de modo a formar capital fixo é o Fórum, A definição do evento traz consigo o conceito estratégico:

“Os eventos do Fórum serão realizados no formato de paineis, mesas redondas, debates televisionados, cafés da manhã de negócios e diálogos empresariais que enfocam as relações da Rússia com diferentes países. O programa empresarial do Fórum inclui diálogos empresariais com os principais países parceiros da região Ásia-Pacífico, e também com a ASEAN, uma organização chave de integração dos países em rápido desenvolvimento no Sudeste Asiático.”

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Já os eixos temáticos principais são: O Extremo Oriente Russo; Novos Contornos da Cooperação Internacional; Tecnologias para Garantir a Independência; Transportes e Logística: Novas Rotas; Sistema de Valor Financeiro e Planos Diretores: Da Arquitetura à Economia.

O programa do evento é bastante abrangente, embora focado no desenvolvimento econômico do Distrito Especial do Extremo Oriente. Para além desta temática central, destacamos os seguintes elementos:

“Risco e incerteza num mundo multipolar: soluções e ferramentas; BRICS Expandidos: Novos Componentes da Estabilidade Global; Centro para a Transferência de Ciência e Tecnologia dos Países da Ásia-Pacífico; Rússia – ASEAN; Segurança Digital e Responsabilidade Empresarial; Cooperação entre Parques Industriais Russos e Internacionais: Criação de um Novo Espaço Contínuo para Parcerias Tecnológicas; Ferramentas de Desenvolvimento Soberano em Meio à Desestabilização da Ordem Mundial; Bioeconomia da Rússia: Trajetórias de Desenvolvimento; Cooperação na Grande Eurásia: Experiência de Desenvolvimento de Cadeias de Produção na EAEU (Comunidade Eurasiática), OCX e BRICS.”

Brasil, América Latina e a economia asiática 

Já completam cinco anos que escrevo regularmente para este portal, muitas vezes abordando tanto o crescimento da economia russa como a integração euro-asiática e intra-asiática. A relevância para a economia mundial está muito distante da cobertura midiática para o Brasil e os demais países latino-americanos. Somos a 8a economia do mundo, temos com a China a principal parceria, mas ainda estamos sob domínio financeiro de empresas nacionais e de países eurocêntricos (EUA e Europa), onerando o orçamento da União (com a rolagem dos papéis da dívida pública lastreados no Tesouro Nacional) e sugando energia do PIB nacional.

Neste sentido, qualquer mudança de atenção e criação de expectativas positivas no campo da produção vem bem, para contrabalançar o peso que a agiotagem (pró-sionista) tem no país. O Fórum Econômico do Oriente em Vladivostok (de 03 a 06 de setembro deste ano) deveria ter um aumento da participação de delegações e empresas de países latino-americanos no evento, a começar pelo Brasil.

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Nosso país pode ter um papel de destaque neste esforço contra a hegemonia do Ocidente, considerando a posição de líder no continente, além de ser membro fundador do BRICS.  Dentro do esforço de Nova Industrialização do Brasil, a cooperação com a Rússia pode ser num formato bilateral (entre ambos países), buscando incorporar tecnologia, desenvolvimento científico e também a possível retomada da indústria bélica brasileira. O Fórum pode ser uma oportunidade também para ampliar a participação latino-americana no novo arranjo econômico para além dos BRICS, como a Organização para Cooperação de Xangai, Comunidade Econômica Eurasiática e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). A tendência é conseguir realizar – através destas uniões entre países – uma competição econômica visando contrapor a hegemonia ocidental (em particular os EUA e os demais aliados anglossaxões), no intuito de obter um grau maior de equilíbrio e contrapartidas no comércio internacional.

Obviamente que nenhum movimento de aproximação – ou que aprofunde a relação com o eixo econômico industrial asiático – se dará em nosso continente sem uma reação dos Estados Unidos. O exemplo mais recente é o mega porto sino-peruano de Chancay (vai ser inaugurado em novembro deste corrente ano), um investimento chinês de USD 3,5 bilhões de dólares e voltado para o hub do Pacífico Sul. O Ministério Público e o Congresso do Peru fizeram vários movimentos para brecar esta obra e ainda seguem tentando alguma intervenção. A influência dos oficiais de ligação e inteligência da Embaixada dos EUA em Lima (capital peruana) é evidente, assim como a eterna ameaça de retorno do fujimorismo (sendo que a herdeira do ex-ditador Alberto Fujimori, Keiko Fujimori, é casada com um estadunidense lavador de dinheiro).

As mentes ainda pensantes no desenvolvimento do capitalismo brasileiro e latino-americano já entenderam que há uma inevitabilidade de ajustar as rotas logísticas da costa Atlântica para a cosa Pacífico. Neste sentido, a posição de países como Chile, Peru e Colômbia já é apta para o ajuste. Já o Brasil, justamente pela posição de liderança econômica latino-americana, busca adequar as rotas invertendo o caminho das exportações de commodities. Tanto nosso país como o México, apesar de serem potências médias no plano econômico, carecem de concertação estratégica interna, sempre estando sob ameaça de desestabilização através dos longos tentáculos do Departamento de Estado do Império.

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Vale observar que o tamanho de nossa economia deve ser proporcional ao da vigilância às ameaças dos EUA, os países anglossaxões e o Estado Sionista, o núcleo duro do imperialismo ocidental. Neste sentido, o evento de Vladivostok é mais uma importante oportunidade para ampliar a presença econômica brasileira e latino-americana no eixo da Ásia Pacífico.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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