O Ministério da Saúde de Gaza reabriu a recepção e o pronto-socorro do Hospital al-Shifa, maior complexo de saúde no enclave palestino, após meses de devastação causada por duas operações distintas do exército israelense contra a instalação.
O Dr. Maher Shamiya, assessor do Ministério da Saúde, informou na segunda-feira (2) que o departamento — com 70 leitos, uma sala de cirurgia e dez unidades de terapia intensiva (UTI) — voltará a receber pacientes em breve.
Serviços e cuidados para pacientes renais e cardíacos também serão restaurados.
No início de abril, batalhões da ocupação israelense se retiraram do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, após duas semanas de cerco e invasão, deixando para trás centenas de mortos e desaparecidos, além de destruição extensa na infraestrutura.
Todas as secções foram vandalizadas, em particular, o prédio de cirurgias especializadas, cujos corredores e equipamentos foram incendiados pelas forças ocupantes. Pacientes e médicos foram detidos arbitrariamente, incluindo o diretor do hospital.
Após a retirada militar, vídeos mostraram corpos carbonizados nas ruas e pátios ao redor de al-Shifa, além de covas coletivas lotadas de mortos não-identificados.
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O Hospital al-Shifa foi fundado em 1946, ainda sob o Mandado Britânico da Palestina; em 1967, caiu sob ocupação israelense, junto da Cisjordânia e Jerusalém. Sob os Acordos de Oslo, o hospital recai sob gestão da Autoridade Palestina; no entanto, é administrado pelo governo do Hamas em Gaza desde 2006, no contexto do cerco militar de Israel.
Com o tempo, al-Shifa se desenvolveu ao maior centro médico do território costeiro, com três hospitais especializados e contratos firmados com 25% dos trabalhadores de saúde de todo o enclave.
Al-Shifa foi também sitiado e bombardeado em novembro — semanas após se deflagrar a invasão por terra do exército israelense contra Gaza.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há 11 meses, deixando 40 mil mortos, 94 mil feridos e dois de desabrigados, além de uma epidemia de fome sob cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos.
Entre as fatalidades, 16.400 mil são crianças.
Os ataques à infraestrutura de saúde e saneamento e as restrições à entrada de insumos médicos, por parte de Israel, levaram também a um surto de doenças, como hepatite A e gastroenterite, além de um caso registrado de poliomielite em um bebê de dez meses.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente um terço dos 36 hospitais de Gaza permanecem operantes, com serviços médicos essencialmente “inacessíveis”.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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