A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta terça-feira (3) que ao menos 161 mil crianças palestinas de Gaza, com menos de dez anos de idade, receberam doses da vacinação contra a poliomielite, superando a meta de 156.500 crianças em dois dias.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Ao citar dados preliminaries, Richard Peeperkorn, porta-voz da OMS, disse em coletiva de imprensa em Genebra que 74.340 crianças foram vacinadas no segundo dia dos esforços, além das 86.600 crianças na data inaugural da campanha.
A iniciativa chega a seu terceiro dia, quando se encerra a primeira etapa da trégua, no sul de Gaza. A seguir, espera-se três dias de pausa localizada nos combates para imunização na área central e outros três dias para a região norte.
Peeperkorn notou que missões coordenadas seguem em direção à região central, fora das áreas acordadas pela pausa, de modo a antecipar ações e garantir que todas as crianças sejam imunizadas.
Peeperkorn confirmou ainda que as áreas designadas pela campanha não compreendem a totalidade do enclave, para além das chamadas “zonas seguras” instauradas em caráter provisório para a campanha.
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“Equipes especiais buscam assegurar que nenhuma criança seja deixada para trás”, disse o porta-voz da agência. “Em al-Maghazi, al-Bureij e al-Mussader, as equipes encontraram populações maiores do que o esperado. Ontem [segunda-feira], dois lotes adicionais de vacinas foram enviados a centros de saúde primária em al-Maghazi e al-Bureij, por conta da alta demanda”.
“A OMS considera que há alto risco de disseminação de poliovírus tipo 2 dentro de Gaza, portanto, internacionalmente, devido às falhas na imunização das crianças resultantes da interrupção do calendário vacinal, novos nascimentos, devastação do sistema de saúde, deslocamentos constantes, desnutrição e sistemas de água e saneamento danificados”, acrescentou seu informe.
No entanto, expressou otimismo: “Até então, as coisas vão bem. Mas é apenas o terceiro dia. Tais políticas humanitárias localizadas, até então, funcionaram. Esperamos, é claro, que continue assim e que todas as partes colabore”.
A campanha deve durar dez dias. Após a conclusão das primeiras doses, segundas doses serão administradas após quatro semanas.
Conforme Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, os prazos deverão se estender caso necessário. Ghebreyesus advertiu, contudo, que é preciso avançar sem empecilhos, ao expressar receios de ataques de Israel.
A urgência da campanha se deu pelo diagnóstico de um primeiro caso de pólio em Gaza, em 25 anos, em um bebê de dez meses. Em julho, a OMS identificou poliovírus tipo 2 em amostras de esgoto de Khan Younis e Deir al-Balah — citadas lotadas de refugiados.
Na última semana, a agência anunciou um acordo com Israel e o grupo palestino Hamas para permitir a vacinação das crianças, ao alertar para a propagação regional da paralisia infantil, doença altamente contagiosa que deixa sequelas para toda a vida.
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A OMS estabeleceu como meta 90% de cobertura vacinal, ao acionar 708 equipes e cerca de 2.700 profissionais de saúde, a fim de interromper a circulação do vírus.
A cobertura de vacinação contra poliomielite nos territórios palestinos é notavelmente alta, com 99% em 2022 — porém, registrou queda a 89% no final de 2023, no contexto da escalada israelense.
Casos de hepatite A, difteria e gastroenterite também atingem a população.
Somente 16 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operantes, assim como 45 das 105 instalações de saúde primária.
Os ataques indiscriminados de Israel a Gaza deixaram ao menos 40 mil mortos, 94 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, 16.400 mil são crianças.
Israel age em desacato de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia deferida em janeiro, além de resoluções por um cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.