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Vacinação contra pólio dá breve alívio às famílias de Gaza, temores prevalecem

Crianças em fila para vacinação contra poliomielite, em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, em 1º de setembro de 2024 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

Pais e mães preocupados, com seus filhos na fila para vacinação contra a poliomielite no centro de Gaza, não podiam deixar de olhar o relógio, contando minutos até se encerrar a trégua na região, nesta quarta-feira (4), às margens de uma rodada de morte e destruição após 11 meses de genocídio conduzido pelas forças de Israel.

As informações são da agência de notícias Reuters.

À medida que os trabalhadores de saúde administravam as doses, a mãe palestina Huda Sheikh Ali não podia deixar de imaginar que bem faria a vacinação, caso os bombardeios continuem a chover sobre suas crianças.

“Elas estão desprotegidas. Em somente algumas horas, vai acabar o cessar-fogo e vamos voltar a ver nossas crianças bombardeadas e mortas. Não tem proteção contra esse tipo de coisa”, lamentou Huda.

Conseguimos um respiro de algumas horas, para os nossos filhos … Agora imagine o que seria se tivéssemos um cessar-fogo de verdade. As crianças estão morrendo dia após dia e tudo que eles estão fazendo é nos trazer um pouquinho de vacina.

A campanha foi lançada após um primeiro diagnóstico da doença em 25 anos, no fim de agosto, em um bebê de dez meses que perdeu o movimento de uma perna.

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Israel e Hamas concordaram em conduzir pausas diárias de oito horas nos combates em áreas pré-determinadas, para que a campanha siga do sul ao centro e do centro ao norte, com prazo previsto de três dias para cada região.

Até então, não foram reportadas violações diretas, apesar de o lado israelense ter deixado áreas sem cobertura, levando equipes a enfrentar os riscos para alcançar uma cobertura vacinal de 90%, estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para interromper a circulação do vírus no enclave sitiado.

A OMS encontrou poliovírus tipo 2 em amostras de esgoto de Khan Younis e Deir al-Balah, ainda em julho, ao advertir para propagação da doença para além das fronteiras.

Conforme a OMS — corroborada pela Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) —, a procura palestina foi maior do que o previsto, com mais de 187 mil crianças vacinadas com a primeira dose nos primeiros três dias.

A UNRWA, no entanto, reiterou a demanda por um cessar-fogo permanente.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da OMS, comentou: “Em última instância, a melhor vacina ainda é a paz”.

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O fim da violência, no entanto, parece distante, à medida que Israel adiciona condições a um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros, em detrimento de protestos internos e pressão internacional.

Os ataques israelenses a Gaza deixaram, desde outubro, 40.861 mortos e 94.398 feridos, além de dois milhões de desabrigados, aglomerados em tendas e campos improvisados em áreas cuja infraestrutura foi destruída, incluindo água e esgoto.

Estima-se que, entre as fatalidades, 16.400 são crianças.

Os palestinos de Gaza vivem ainda uma catástrofe de fome, sob cerco absoluto instituído por Tel Aviv — sem comida, água e medicamentos.

Conforme denúncias, a maior razão para a volta da pólio reside no colapso do sistema de saúde em Gaza sob cerco e bombardeios, além da destruição da infraestrutura civil pelas ações israelenses.

Apenas um terço dos hospitais de Gaza permanece parcialmente operante.

Hadeel Darbiyeh, que levou sua filha, ainda bebê, para um posto de vacinação, expressou pessimismo pela trégua, ecoada por outros pais.

Em vez de apenas nos trazer vacinas, poderiam nos trazer uma solução e acabar com a guerra. Tragam uma solução para esse povo sofrido, forçado a fugir de suas casas e viver em tendas.

O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

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