Abdulmadjid Tebboune, presidente da Argélia e apoiado pelos militares está se aproximando da eleição de sábado com quase certeza de vencer mais cinco anos em uma votação sem rivais sérios após usar maiores receitas de gás para gastar em benefícios sociais, relata a Reuters.
O presidente enfrenta dois candidatos: um islâmico moderado, o outro da oposição secular, embora nenhum deles se oponha seriamente ao establishment militar amplamente visto como tendo dado as cartas desde a década de 1960.
Uma vitória de Tebboune significa que a Argélia provavelmente manterá políticas voltadas para o fortalecimento das exportações de energia do país e promulgará reformas pró-negócios limitadas, ao mesmo tempo em que mantera subsídios generosos e um controle da dissidência interna.
Ainda há expectativa sobre a participação, índice que foi 40% na eleição de 2019, realizada em meio aos protestos em massa de “Hirak” que forçaram o antecessor de Tebboune, Abdulaziz Bouteflika, a deixar o poder.
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Em Lakhdaria, a leste de Argel, Naima Belgacem disse que era uma dos cerca de dois milhões de argelinos que se beneficiaram do salário – desemprego de 15.000 dinares (US$ 113) por mês que Tebboune introduziu, e que pretendia votar na eleição.
“Não é muito dinheiro, mas ainda é um bom dinheiro. Ele cobre minhas despesas telefônicas e outras coisas”, disse Belgacem.
Enquanto a taxa de desemprego da Argélia caiu para 12,25% no ano passado, de mais de 14% durante a pandemia de COVID em 2020, muitos jovens argelinos como Belgacem estão procurando trabalho e Tebboune prometeu aumentar seus benefícios e criar meio milhão de empregos.
Belgacem, que tem um diploma de uma escola de negócios em Argel, frequentemente pega o ônibus para a capital em busca de trabalho, mas “ainda não há nada”, ela disse.
Estado gasta com habitação social
Em março, o Fundo Monetário Internacional elogiou os esforços da Argélia para reformar a economia para diversificar além do petróleo e gás como um meio de impulsionar o crescimento do setor privado que poderia impulsionar o emprego.
No entanto, o fundo alertou que grandes déficits governamentais impulsionados por altos gastos arriscavam deixar as finanças públicas vulneráveis a choques econômicos.
Os gastos são visíveis em todos os lugares em Argel, onde novos blocos de apartamentos fornecendo moradias sociais surgiram nos subúrbios da capital, criando novos bairros enfeitados nas últimas semanas com cartazes eleitorais.
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O contraste com a última eleição da Argélia em 2019 é gritante. Na época, o presidente Bouteflika estava no cargo há 20 anos e tinha uma saúde frágil, muitas vezes incapaz de fazer aparições públicas.
Os baixos preços da energia de 2014 afundaram as finanças do estado, levando a grandes cortes nos gastos do governo com moradia e outros benefícios.
Os protestos em massa de 2019 levaram centenas de milhares de pessoas às ruas para exigir o fim da corrupção e a saída da velha elite política.
As manifestações continuaram depois que Bouteflika deixou o cargo, dizendo que as metas do movimento Hirak não foram cumpridas, mas a pandemia de COVID fechou as ruas e uma série de prisões teve como alvo alguns líderes do protesto, encerrando os comícios.
O grupo de direitos humanos Anistia Internacional disse esta semana que as autoridades argelinas usaram novas leis visando a dissidência, bem como repressões na preparação para a eleição.
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