Sérvia e Israel anunciaram nesta quarta-feira (11) um consenso em expandir relações em diversos setores, apesar do genocídio na Faixa de Gaza e na contramão das condenações internacionais às violações do Estado de apartheid na Palestina histórica.
Em coletiva de imprensa realizada durante a visita do presidente israelense, Isaac Herzog, em Belgrado, o presidente sérvio Aleksander Vucic confirmou maior cooperação entre as partes em setores como alta tecnologia e inteligência artificial.
Vucic insistiu que a Sérvia deseja aumentar as exportações a Israel e atrair mais turistas e investidores ao mercado imobiliário no país dos Balcãs.
“Para nós, é extremamente importante concluir um acordo de livre comércio com Israel o mais breve possível”, declarou Vucic, ao apontar benefícios mútuos.
Vucic reportou ter informado Herzog sobre os acontecimentos mais recentes referentes a Kosovo, em meio a uma escalada de tensões entre os países vizinhos, incluindo fronteiras e repartições fechadas.
Kosovo proclamou sua independência da Sérvia em 17 de fevereiro de 2008, reconhecida internacionalmente. A Sérvia, no entanto, ainda vê Kosovo como “seu território”.
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Herzog, de sua parte, enalteceu Belgrado por seu apoio desde outubro passado, quando o regime israelense deflagrou seu genocídio contra Gaza.
Sérvia e Israel compartilham presença no banco dos réus em processos de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e no Tribunal Penal Internacional (TPI), radicados na cidade de Haia, na Holanda.
Em 2007, o TIJ reconheceu o genocídio de muçulmanos bósnios em Srebrenica, ao acatar a condenação do TPI sobre o massacre, deferida unanimemente em 2004.
Em janeiro de 2024, foi a vez de Israel se tornar réu por genocídio, sob processo em curso, após o TIJ deferir a denúncia da África do Sul referente às violações em Gaza.
O TIJ, mais recentemente, em julho, também admitiu a ilegalidade da ocupação militar de Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ao instruir evacuação imediata de soldados e colonos e reparação aos nativos.
Na Bósnia e Herzegovina, em julho de 1995, líderes sérvios comandaram a morte de 8.300 homens e meninos, além do deslocamento à força de 30 mil mulheres, crianças e idosos pertencentes à comunidade islâmica, sob violência deliberada.
Em Gaza, em pouco menos de um ano, são 41 mil palestinos mortos, 95 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob sucessivas ações de transferência compulsória. Dentre as fatalidades, estima-se 16.400 crianças.
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No presente contexto, Karim Khan, promotor-chefe do TPI, requereu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant. O pedido passa, desde maio, por avaliação de um painel pré-julgamento.
Em último caso, um processo contra os líderes israelenses pode culminar em sua prisão, sob pena perpétua por crimes de guerra e lesa-humanidade, como incidiu a Ratko Mladic, chefe do então chamado Exército da República Sérvia (VRS).
Aleksander Vucic, visto como representante da onda ultranacionalista na Europa, ostenta, ainda hoje, um histórico de negacionismo sobre o genocídio na Bósnia.
Ainda em 1995, como deputado do Partido Radical, Vucic incitou a condução de crime de punição coletiva, em sessão da Assembleia Nacional, ao declarar: “Para cada sérvio que matarem, mataremos cem muçulmanos”.
Em 2007, Vucic fez campanha por asilo a Mladic, então foragido.
Em maio deste ano, o presidente sérvio condenou publicamente a decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas de estabelecer uma data anual, em 11 de julho, em memória e justiça do massacre em Srebrenica.
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