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Vacinação contra a pólio chega ao norte de Gaza, apesar de obstáculos

Crianças palestinas são vacinadas contra a poliomielite, no colégio Asaad al-Saftawi, ao norte da Cidade de Gaza, em 10 de setembro de 2024 [Dawoud Abo Alkas/Agência Anadolu]

A etapa final da campanha para a vacinação contra a poliomielite em Gaza, com meta de 200 mil crianças na região norte, teve início nesta terça-feira (10), apesar de profissionais de saúde advertirem para os obstáculos impostos por Israel, como restrições de acesso, ordens de evacuação e escassez de combustível.

As informações são da agência de notícias Reuters.

A região norte é a área mais atingida pelos bombardeios indiscriminados de Israel, nos 11 meses de genocídio.

Para a campanha, foram acordadas três etapas de três dias cada: sul, centro e norte. Nas duas primeiras fases, a vacinação excedeu as expectativas, com mais de 446 mil crianças com menos de dez anos imunizadas.

O Dr. Moussa Abed, oficial de cuidados primários no Ministério da Saúde de Gaza, relatou os esforços para administrar as vacinas, apesar da carência crítica de combustíveis, por conta do implacável cerco de Israel.

Sam Rose, vice-diretor da Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), reiterou que os postos de vacinação no norte são de difícil acesso, situados em “áreas militarmente muito ativas”.

“Há ainda algumas tensões, mas temos de fazer funcionar”, afirmou Rose em mensagem à Reuters.

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Na segunda-feira (9), tropas da ocupação israelense interpelaram um comboio com bens combustíveis destinados à campanha, além de profissionais da Organização Mundial da Saúde (OMS) que tentavam chegar ao Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza.

A missão teve de ser abortada, confirmou Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS.

Israel também emitiu uma ordem de evacuação no norte de Gaza, a primeira em mais de duas semanas, incluindo áreas acordadas para a pausa humanitária contra a poliomielite, reportou a Organização das Nações Unidas (ONU) em informe à imprensa.

“A centralização dos serviços na região sul torna extremamente difícil para nós obtermos combustível, ter acesso às vacinas ou realizar toda e qualquer operação logística”, notou Mahmoud Shalabi da ong britânica Medical Aid for Palestinians.

Shalabi ressaltou que não há combustível disponível para as equipes móveis.

“Perigos no caminho”

Hossam Medhat Saleh, pai palestino, relatou caminhar com seus três filhos para chegar a uma clínica de vacinação, devido à falta de opções de transporte.

“Os perigos no caminho são enormes — como podem ver, a destruição na infraestrutura e nas ruas, além dos mísseis e das bombas que continuam a cair”, recordou Saleh, parado em uma via árida repleta de esqueletos de carros e edifícios.

A campanha tem como meta 640 mil crianças com menos de dez anos de todo o enclave, com início em 1º de setembro, após a OMS confirmar em agosto que um bebê de apenas dez meses registrou sintomas da paralisia infantil.

Trata-se do primeiro caso na Faixa de Gaza em 25 anos.

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A cobertura de vacinação contra poliomielite nos territórios palestinos é notavelmente alta, com 99% em 2022 — porém, registrou queda a 89% no final de 2023, no contexto da escalada israelense.

Casos de hepatite A, difteria e gastroenterite também atingem a população.

Somente 16 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operantes, assim como 45 das 105 instalações de saúde primária.

A OMS encontrou poliovírus tipo 2 em amostras de esgoto de Khan Younis e Deir al-Balah, ainda em julho, ao advertir para propagação da doença para além das fronteiras.

Os ataques israelenses a Gaza deixaram, desde outubro, 41.020 mortos e 94.925 feridos, além de dois milhões de desabrigados, aglomerados em tendas e campos improvisados em áreas cuja infraestrutura foi destruída, incluindo água e esgoto.

Entre as fatalidades, 16.400 são crianças.

O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

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Palestina: quatro mil anos de história
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