O exército de Israel está tentando alistar 30 mil requerentes de asilo de países africanos a operações com “risco de vida”, na Faixa de Gaza, em troca de assentamento e residência permanente na Palestina ocupada, reportou a imprensa local.
Fontes do Ministério da Defesa disseram ao jornal Haaretz que o plano corre sob consulta com advogados do establishment militar, para conduzi-lo de “maneira organizada”.
“Oficiais de defesa perceberam que podem ter ajuda dos requerentes de asilo ao explorar seu desejo de obter visto permanente em Israel, como incentivo”, destacou a reportagem.
“O establishment militar de Israel está oferecendo aos requerentes de asilo africanos que contribuírem para os esforços de guerra em Gaza — arriscando suas vidas — assistência em obter o status de residência permanente em Israel”, acrescentou.
Requerentes de asilo africanos no território considerado Israel — sob regime de apartheid imposto contra os palestinos desde 1948 — sofrem pressão de lideranças supremacistas, com programas restritivos no que diz respeito ao perfil dos imigrantes.
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O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por exemplo, costuma se referir aos refugiados africanos como “infiltrados”, ao incitar crimes raciais perpetrados por colonos extremistas judeus.
Segundo o Haaretz, nenhum dos requerentes de asilo que participaram da campanha em Gaza receberam status oficial até o momento.
Fontes militares indicam ainda preocupações de natureza ética sobre o recrutamento.
“Algumas pessoas apontaram objeção à prática, ao argumentar que explora pessoas que fugiram de seus países devido à guerra”, reconheceu a reportagem, ao observar esforços de contenção e repressão das críticas.
Conforme a reportagem, a maioria dos 30 mil refugiados africanos almejados pelo projeto são jovens rapazes, incluindo 3.500 sudaneses que possuem visto provisório, à espera da análise de seu pedido de acolhimento.
Em junho, o site israelense Walla indicou falta de contingente entre as forças de Israel. De acordo com o Haaretz, dezenas de reservistas anunciaram que não pretendem retornar a Gaza mesmo se levados à corte marcial.
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Centenas de reservistas deixaram o país sem informar seus comandantes, à medida que as baixas israelenses em Gaza se acumularam nos últimos meses.
Em julho, o ministro da Defesa Yoav Gallant alegou precisar de mais dez mil soldados com urgência.
Como resultado da falta de pessoal, a Suprema Corte israelense revogou recentemente a isenção dos judeus ultraortodoxos ao serviço militar, levando a protestos. Para Gallant, ao menos 4.800 soldados podem ser recrutados da comunidade.
Desde outubro passado, quando Israel deflagrou seu genocídio em Gaza, incluindo cerco, ao menos 709 soldados das forças ocupantes foram mortos por grupos de resistência.
Em Gaza, bombardeios indiscriminados contra a população civil deixaram 41 mil mortos, 94 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, 16.400 são crianças.
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