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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

A visita da Sheika Moza ao Brasil e os projetos comuns

A primeira-dama brasileira Janja da Silva e a Sheikha Moza bint Nasser [Cláudio Kbene/Fotógrafo oficial da primeira-dama]

As relações entre o Brasil no governo Lula 3 e o Conselho de Cooperação do Golfo, em especial com a monarquia semi-constitucional do Catar vêm avançando. No jornal The Peninsula foi divulgada a recente visita da primeira dama do Brasil, a socióloga Janja da Siva ao Catar e seu encontro com a Sheikha Moza.

“A Presidente da Educação Acima de Tudo e a Defensora dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, S.A. Sheikha Moza bint Nasser, reuniu-se no domingo com a Primeira Dama da República Federativa do Brasil, S.E. Rosangela Lula da Silva. Durante a reunião, elas analisaram os projetos da Fundação Educação Acima de Tudo, que visam proporcionar educação a crianças e jovens em áreas marginalizadas do Brasil, além dos esforços para proteger a educação durante guerras e conflitos.”

A visita da primeira dama do Brasil acompanhou a agenda do chanceler brasileiro Mauro Vieira, na ocasião do  da I Reunião Ministerial Conjunta de Diálogo Estratégico Brasil-Conselho de Cooperação do Golfo (CCG, realizada em território saudita), formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã. O Brasil é convidado especial do encontro e tem na aproximação com as monarquias árabes – dentre estas dois países membros dos BRICS – um de seus vetores estratégicos no setor de exportação primária ou da indústria de alimentos.

Na ocasião o Itamaraty afirmou que: “O estreitamento do diálogo politico e das relações econômicas com o CCG é prioridade para a política externa do Presidente Lula. O bloco é o 5º maior destino das exportações do 🇧🇷 e tem ocupado papel crescente no setor de investimentos produtivos. O comércio Brasil-CCG superou US$ 16 bilhões em 2023.

O Brasil e o Conselho de Cooperação do Golfo na ocasião assinaram Memorando de Entendimento que cria mecanismo de diálogo entre o país e o bloco. O Ministro Mauro Vieira ressaltou o caráter complementar das economias de nosso país e dos integrantes do CCG e o potencial a se explorar a partir do diálogo aberto hoje. Celebrado no dia 09 de setembro, o chanceler brasileiro enviou proferiu um comunicado (em inglês) com o seguinte trecho aqui destacado (traduzido):

“O Brasil continua apoiando uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, que inclui a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como seu capital.

Este objetivo está alinhado com a Iniciativa de Paz Árabe, adoptada na Cimeira de Beirute da Liga dos Estados Árabes em 2002, com o apoio fundamental dos países membros do CCG.

A parceria que o Brasil vislumbra com o CCG inclui, além do reforço dos laços bilaterais, uma contribuição para um mundo mais pacífico, próspero e interconectado.

A necessidade urgente da reforma da governança global é uma das prioridades da agenda da presidência brasileira do G20, conforme refletido no Chamado à Ação que estamos propondo a todos os Estados membros da ONU. Instamos o apoio de todos os membros do CCG a esta iniciativa.

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Vamos aproveitar este momento para reforçar a nossa cooperação, alargar as nossas parcerias e construir um futuro de prosperidade partilhada.”

Apesar da posição de dois Estados e dois Povos ser praticamente inexequível e muito distante da realidade da resistência palestina e das forças político-militares aliadas. A condição diplomática “equidistante” termina por condenar o Estado Sionista, em especial após a correta caracterização do presidente Lula, tratando a guerra contra Gaza como genocídio. Neste quesito, em especial em relação a Gaza, a monarca catari tem uma posição bem marcante:

“Por muito tempo, assistimos com horror enquanto crianças inocentes, o futuro da Palestina, são bombardeadas, passam fome e são privadas da dignidade humana básica. E por muito tempo, o mundo fez vista grossa. O silêncio não é apenas cumplicidade; é traição.” 

A visita da Shiekha Mozah ao sul do Pará 

Menos de dez dias depois, a visita de cortesia, diplomacia e estudos é devolvida. A Fundação Pará Paz (ProPaz) anunciou a visita da Rainha do Qatar, Sheikha Mozah Bint Nasser Al-Missned, no dia 17 de setembro. A autoridade catari realiza a visita a Aldeia Djudjêko, que fica localizada no município de Água Azul do Norte, com o objetivo de conhecer a iniciativa da educação indígena e reforçar o Pacto pela Educação.

Segundo o governo do estado:

“A Rainha Mozah também vai conhecer o programa Pacto pela Educação, da Seduc, que tem como objetivo melhorar a qualidade da educação no Pará. Participaram da reunião representantes da Casa Militar, Casa Civil, Seduc, Pro Paz, Cerimonial do Governo e Relações Internacionais do Governo Estadual.”

O município a ser visitado se localiza no Sul-Sudeste do Pará, uma região com alto índice de conflito de terras e cuja ocupação não indígena inicia ainda na ditadura militar. A área denominada Água Azul, pertencia originalmente ao município de Marabá. Começou a ser ocupada a partir de 1978. O processo de emancipação levou 13 anos. A distância da sede de Parauapebas, ficava a 308 quilômetros da vila, levou a população de Água Azul a lutar pela emancipação política. O plebiscito foi realizado em 1991 e seu resultado não deixou dúvidas: quase 100% dos moradores aprovaram a transformação da vila em município, o que foi concretizado naquele mesmo ano.

Água Azul do Norte se situa a 66 km a Norte-Oeste de Xinguara a maior cidade nos arredores. O entorno do território está a extinta área de garimpo de Serra Pelada e também se localiza – para além de 200 quilômetros – o município de Eldorado dos Carajás, onde foi perpetrado o crime do massacre dos lavradores sem terra em abril de 1996.

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Ao fechar a agenda da senhora Al-Missned, o governo do Pará toma a decisão de realizar a visita a um setor muito atingido – a população originária e as escolas indígenas bilingues – e em um território cuja situação social e ambiental é muito delicada.  A Sheikha Mozah Bint Nasser Al-Missned viaja ao Brasil para conhecer experiências na área da educação que atendem as comunidades e suas adversidades. Na Amazônia, o Pará será o único estado que vai receber a visita da Sheikha Mozah, que vai conhecer a experiência educacional desenvolvidas em uma comunidade indígena.

A dignatária do Catar é a presidenta da Qatar Foundation, cujo principal objetivo é aportar no setor de educação, tanto no reino como em convênios com países aliados ou setores de interesse. No país, a Fundação mantêm a oito universidades, sendo que algumas delas são filiais de instituições dos EUA. Uma das três áreas foco de pesquisa e desenvolvimento é meio ambiente e sustentabilidade. Vem daí o interesse da monarca e da instituição no setor educacional indígena amazônico e esta conexão pode implicar o início de projetos de fôlego mirando para a etapa posterior da COP 30 em Belém do Pará, a ser realizada em novembro de 2025.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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